Tranquilidade deu «ajuda» de 150 milhões ao GES sem questionar - TVI

Tranquilidade deu «ajuda» de 150 milhões ao GES sem questionar

Ex-presidente da comissão executiva «nunca» duvidou da ESFG, a holding financeira do Grupo Espírito Santo, quando emprestou aquele montante, já nos últimos meses de vida do grupo. «Era um pedido do acionista muito difícil de recusar». Não havia «grandes Peter Brito e Cunha alega que só em julho de 2014 é que percebeu que não devia ter confiado

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A Tranquilidade fez quatro empréstimos à Espírito Santo Financial Group, detentora a 100% da Partran, que era a dona da companhia de seguros. No total, o Grupo Espírito Santo pediu 150 milhões de euros, desde abril de 2014. Desse valor, 85 milhões foram canalizados para o investimento em papel comercial. O ex-presidente da comissão executiva da Tranquilidade, Peter Brito e Cunha - que é primo de Ricardo Salgado - disse esta quarta-feira, na comissão de inquérito ao BES/GES, que não viu, na altura, «problema nenhum» em «ajudar a casa-mãe». E revelou que alguns dos pedidos de financiamento foram feitos «diretamente» por Ricardo Salgado.

«Quem sou eu para questionar o acionista quando me pede ajuda?». «É um pedido do acionista que é muito difícil de recusar. O acionista não é só uma pessoa, é um grupo. Não há grandes hipóteses... Se eu recuso...»

«Era o presidente da comissão executiva da Tranquilidade», retorquiu a deputada do CDS-PP, Teresa Anjinho, a primeira a fazer perguntas ao ex-gestor, que dispensou intervenção inicial. Mais à frente, Brito e Cunha adiantou que recusou, em julho, o mês do colapso do GES e do BES, uma nova transação. Mas argumentou que, nesse mês, já sabia dos problemas e por isso é que não confiou. Até junho não, alegou. 

Até aí, não tinha dúvidas de que o acionista principal iria devolver os empréstimos feitos, até porque «todos estes investimentos foram feitos na altura do famoso plano de recapitalização aprovado pelo Banco de Portugal [ETRIC]», explicou. 

«Quando dei concordar estes quatro empréstimos, sempre o fiz na ótima que não havia problema nenhum. O acionista estava a pedir uma ajuda. Essa ajuda interessava sempre à Tranquilidade. Por um lado era bem remunerado.  Eram sempre investimentos bem remunerados, com muito baixos riscos». 

Alegando que o investimento direto em papel comercial do grupo, não era frequente, detalhou os empréstimos feitos no primeiro semestre de 2014: «O primeiro empréstimo de 15 milhões foi feito a uma das empresas do grupo, era puro empréstimo, que tinha obviamente remuneração atrativa e que tinha basicamente um prazo muito curto. Esse foi o primeiro, em maio».

Mas houve, depois, outro de 40 milhões e mais um de 45 milhões. «Aí sim, foi compra de papel comercial e, também, de prazo muito curto».

Investimentos feitos por telefone


O último de todos, foi de 50 milhões. «Uma ajuda à casa mãe [ESFG], para todos os efeitos, para esta sustentar a sua posição no aumento de capital do BES», admitiu. 

Esta operação foi autorizada por telefone, embora nem toda a administração estivesse de acordo:

«Não estava no país». «Nem toda a gente concordou, mas toda a gente teve conhecimento» destes investimentos em papel comercial do GES


Chegou mesmo a admitir, depois, que «nunca houve reunião da comissão executiva para discutir estes investimentos» e que o Instituto de Seguros só foi informado a 6 de junho das quatro transações.
 
Peter Brito e Cunha viu essas ajudas com naturalidade, porque já se tinham feito operações do género no passado, «nomeadamente em fevereiro», com um empréstimo de 100 milhões à ESFG, «num prazo muito curto, de um mês, reembolsado no dia 7 de março». 
 

«​Tinha acontecido no passado e não havia razões nenhumas para duvidas do acionista principal e que ia haver default. Não havia conhecimento da situação real, sobre a situação do grupo. Não havia nada a apontar. Tudo se passava bem até esse momento»


O ex-administrador disse que, para a Tranquilidade, o BES era uma «instituição extremamente importante», responsável por cerca de 30% das receitas da companhia. «Quando o acionista vem pedir ajuda é obvio que posição é ajudar», voltou a dizer. 

O ex-presidente da Tranquilidade explicou ainda que a decisão sobre as transações não passava pela comissão executiva da companhia, porque os administradores trabalhavam «todos juntos num sala» e «falavam» logo.

Filme dos acontecimentos

Recorde-se que a Tranquilidade foi alvo de um penhor financeiro, em julho de 2014, por parte da Partran (sua acionista a 100%, uma sociedade detida pela Espírito Santo Financial Group, a holding financeira do Grupo Espírito Santo). Esse penhor, no valor de 700 milhões de euros, foi feito a favor do então Banco Espírito Santo.

Porquê? O Banco de Portugal tinha ordenado à ESFG o reforço de provisões, nesse montante, para as contas de 2013, para o caso de a ESI não conseguir reembolsar o papel comercial vendido pelo BES aos balcões. A ESFG usou a Tranquilidade para esse efeito.

Ou seja, uma empresa de seguros foi dada como garantia ou penhor por causa de um crédito concedido pelo BES à ESFG, a holding financeira do GES. Com a resolução decretada pelo Banco de Portugal, que dividiu o BES em dois, esse crédito passou para o Novo Banco. 

O Novo Banco vendeu, por sua vez, a Tranquilidade ao grupo norte-americano Apollo, já em janeiro de 2015. O negócio esteve longe dos 700 milhões de euros:  o que foi acordado é que o banco recebesse 44 milhões de euros, enquanto os novos donos se comprometeram a injetar 150 milhões para reforçar a solvabilidade da seguradora.  Há ações em tribunal a pedir a nulidade do penhor e da venda da Tranquilidade.
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