Essa versão «não está alicerçada em factos»
«Foi no mês de férias [julho] que se descobriu tudo, o buraco». «Se essa surpresa é tão grande, então somos todos incompetentes», desde auditores a administradores. «Descobriu-se em dois meses o que não se descobriu em 12 anos?»
Isso quer dizer que a situação do BESA era totalmente conhecida pelos responsáveis do BES? Respondendo a Carlos Abreu Amorim (PS), Álvaro Sobrinho começou por recordar que o ex-administrador financeiro do BES disse, também nesta comissão de inquérito: «Amílcar Pires disse aqui que o que nos dividia era uma questão estratégica. Tínhamos visões diferentes para o banco e eu não passava a minha vida em Lisboa. Foi o Dr. Amílcar Morais Pires e a sua equipa que foram para o BESA». Ou seja, o Banco Espírito Santo estava lá, em Angola, também.
Na sequência disso, sobre se o BES também sabia quem eram os destinatários dos créditos, Sobrinho afirmou que «estavam lá». «Estavam nos contratos». A famosa lista não foi desmentida por nenhum dos inquiridos, mas ninguém a revelou.
Basicamente, resumiu, o BESA servia como «multibanco do BES». E o empréstimo de 5,7 mil milhões de euros do BES ao BESA, dos quais 3,3 mil milhões estavam cobertos pela garantia de Angola, foi dinheiro que nunca saiu de Portugal, segundo o responsável angolano.
Embora tenha afirmado que «ao contrário do que foi dito, não reportava ao Dr. Ricardo Salgado», mas sim ao conselho de administração do BESA, que tinha como presidente o Dr. Ricardo Abecassis Espírito Santo, Sobrinho reconheceu que tinha um relacionamento «mensal» com Salgado, sobre o balancete. E, quando havia operações de grande dimensão, o ex-presidente do BES também «sabia».
Mesmo em relação ao sistema informático angolano, que Salgado e outros administradores disseram na comissão ser autónomo, respondendo à lei do país, Sobrinho diz que não é bem assim, mas contradiz-se na explicação. Se, por um lado, diz que «quem controlou todo o sistema informático do BESA foi Portugal, foi uma empresa do Grupo Espírito Santo» e que o BESA nem tinha «capacidade para o fazer», por outro disse que «o BESA era o único banco» cujo sistema informático estava mesmo «em Portugal» e não em Angola.