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Ulrich: Estado nunca mais consegue crédito

Presidente do BPI diz que entidades públicas terão de voltar a ser «tão saudáveis como o Estado alemão ou o suíço»

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Fernando Ulrich não tem dúvidas: Estado, autarquias, entidades públicas vão ter «todos que gerar cash flows». De outra forma, «nunca mais vão conseguir financiamento». Para o presidente da comissão executiva do BPI, «na lógica das entidades que decidem a concessão de crédito nunca mais se concede crédito a estas entidades enquanto não voltarem a ser tão saudáveis como o Estado alemão ou o suíço, ou outro mais rigoroso».

O presidente do BPI falava esta terça-feira, no Porto, durante a conferência «Caminhos para a Competitividade», sobre as consequências do exame às carteiras de crédito dos bancos ao abrigo do programa com a troika.

Segundo o presidente do BPI, para além da consequência «directa e quantitativa» que poderá resultar da inspecção em alguns bancos e que é a «necessidade de fazer mais provisões para crédito», com «impacto nos resultados deste ano», há uma outra «mais importante e que vai mais fundo».

«As pessoas nunca mais se vão esquecer dos problemas que foram levantados, das dúvidas que foram suscitadas. E tudo isto em cima do clima que estamos a viver. (...) A maior parte dos Estados europeus não vão conseguir ter défices porque não os vão conseguir financiar. Ninguém vai querer financiar Estados». Para Ulrich «o problema é o da violência e da rapidez com que tudo está a acontecer e vai acontecer».

«O Estado e os entes públicos vão todos ter que ser geradores de cash flow porque não vão conseguir financiar-se», alertou.

Troika deve dedicar-se agora à economia e às empresas: «É lá que está a solução», garante Ulrich

O presidente da comissão executiva do BPI sugeriu ainda que a troika, a partir de agora, se dedicasse a olhar para a «economia e as empresas», considerando já não ser necessária «tanta atenção ao sistema bancário». E deixou uma sugestão: «A troika, a partir de agora, penso que não precisam de dedicar tanta atenção ao sistema bancário. Era melhor que dedicassem mais atenção à economia».

A sugestão do presidente do BPI passa por concentrar na economia e nas empresas «os recursos analíticos, intelectuais e humanos que concentraram nos últimos meses em torno do sistema bancário» já que «agora estarão tranquilos», concluídas que estão «as inspecções, que o sistema bancário português está bem».

Ulrich não acredita na «varinha de condão que põe os contadores a zero»

«Olhem para a economia, olhem para as empresas e depois olhem para os problemas financeiros a partir das empresas e a partir da economia. Não acredito no modelo que está em curso» porque assenta na ideia «de que é possível, com uma varinha de condão, pôr os contadores a zero ao nível financeiro».

Para Ulrich «esta ideia que limpamos percas, limpamos menos valias e no dia seguinte nascemos para uma vida nova e é crédito para toda a gente, a economia cresce e os mercados reabrem-se, é mentira».

«Não acreditem nisto porque isto não vai acontecer, não está a acontecer em lado nenhum, cada vez acontece mais o contrário».

O presidente do BPI pede «a humildade de aceitar que isto não acontece assim», sugerindo que na próxima visita a Portugal e nos trimestres seguintes a troika se dedique «a olhar para as empresas» porque é lá que »está a resposta aos problemas de Portugal».
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