Entrevista a João Rendeiro: quem era o "amo" de Sócrates? "Ricardo Salgado" - TVI

Entrevista a João Rendeiro: quem era o "amo" de Sócrates? "Ricardo Salgado"

O ex-presidente do BPP e autor do livro "Em Defesa da Honra" foi entrevistado pelo jornalista Vasco Rosendo e pelo diretor do jornal ECO António Costa, na TVI24

Em fevereiro, o Supremo Tribunal de Justiça confirmou a condenação do antigo presidente do BPP, João Rendeiro, a cinco anos e oito meses de prisão efetiva por crimes de falsidade informática e de falsificação de documentos, que lesaram o Banco Privado Português (BPP).

O processo estava relacionado com a adulteração da contabilidade do BPP, envolvendo uma verba a rondar os 40 milhões de euros, e o tribunal de primeira instância considerou que os arguidos agiram com dolo direto e que João Rendeiro, Paulo Guichard e Fezas Vital tinham perfeito conhecimento da ocultação de dados ao Banco de Portugal.

O ex-presidente do BPP recorreu da sentença para o Tribunal Constitucional e acabou por escrever mais um livro, intitulado “Em Defesa da Honra”. Parte da obra foi pré-publicada e nela o antigo banqueiro atribui as culpas pela queda do banco a uma rede de políticos e reguladores, entre eles o ex-primeiro-ministro José Sócrates, o ex-ministro das finanças Teixeira dos Santos e o antigo governador do Banco de Portugal Vitor Constâncio.

João Rendeiro esteve, esta terça-feira, na TVI24, onde foi entrevistado pelo editor de economia da redação da TVI Vasco Rosendo e pelo diretor do jornal ECO António Costa.

O ex-banqueiro explica que não objetiva “fugir a qualquer responsabilidade”, mas reitera que apenas deveria ser condenado pelos crimes de falsidade informática.

Os meus colegas [Salvador Fezas Vital e Paulo Lopes] tiveram penas irrisórias [três anos e seis meses de prisão (com pena suspensa se pagassem 15 mil euros à associação Cais)]. (...) Aceito as responsabilidades derivadas das condenações de falsidade informática, a que os meus colegas foram igualmente sujeitos por penas irrisórias. Isso eu aceito. (...) O que eu fiz, não fui eu que fiz. Você não vê lá um único documento assinado por mim. (...)Só pelo facto de me chamar João Rendeiro é que sou imputado. Se os outros têm penas irrisórias porque é que eu tenho uma pena pesada?”, questiona Rendeiro.

José Sócrates e Teixeira dos Santos são as duas figuras centrais do livro “Em Defesa da Honra". João Rendeiro acusa o antigo primeiro-ministro de estar motivado pelas agendas de “amos”, explicando agora que se referia a “Ricardo Salgado”.

Para o ex-ministro das finanças, o ex-banqueiro tem apenas uma alcunha: o “banana”. Rendeiro afirma que este é o único adjetivo que se pode chamar a "um ministro das finanças que não defende as finanças do país".

É um banana porque é um banana. Se é uma pessoa que faz tudo o que primeiro-ministro quer e leva o país à banca rota. Se é um ministro das Finanças que não defende as finanças do país. O que é que é uma pessoa dessas se não um banana?”, refere o ex-presidente do BPP.

Rendeiro considera que o fim do BPP ocorreu, sobretudo, porque o banco estava “a pisar os calos ao BES” e era visto “como uma concorrência incomoda”.

O antigo presidente do BPP lembra também, que antes da queda do banco, abandonou o cargo de maneira a “viabilizar o empréstimo de 450 milhões de euros”. Graças ao qual foi possível que “todos os depositantes recebessem a totalidade dos seus depósitos, em 2009”.

João Rendeiro realça que “não tem nada a temer”, mas que se arrisca a “perder a sua honra”. Aproveitando para relembrar uma citação do seu primeiro livro para desfazer as dúvidas dos que o acusam de ter prevaricado em prol de proveito próprio

Eu escrevi, no primeiro livro, que deixaria à sociedade a minha fortuna. Portanto, se alguém está preocupado com isso está preocupado com coisas erradas. Está preocupado com mesquinhez e pobreza. Acho que devia estar preocupado com criar riqueza e como é que o país fica mais rico em vez de como o país fica mais pobre”, culmina João Rendeiro.

O colapso do BPP, banco vocacionado para a gestão de fortunas, verificou-se em 2010, já depois do caso BPN e antecedendo outros escândalos na banca portuguesa.

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