Ex-presidente da CGD diz que decisões de crédito cumpriram normas existentes - TVI

Ex-presidente da CGD diz que decisões de crédito cumpriram normas existentes

  • 30 abr 2019, 16:38

Santos Ferreira criticou esta terça-feira, no parlamento, o relatório da EY sobre concessão de crédito, que considerou "factualmente infeliz"

O ex-presidente da CGD Santos Ferreira criticou esta terça-feira, no parlamento, o relatório da EY sobre concessão de crédito, que considerou "factualmente infeliz", e afirmou que todas as decisões tomadas quando liderava o banco cumpriram as normas existentes.

No período em que presidi ao Conselho de Administração da Caixa todas as decisões foram tomadas no estrito cumprimento das normas existentes na Caixa na altura”, disse Santos Ferreira na intervenção inicial da sua audição na Comissão de Inquérito à Caixa Geral de Depósitos (CGD), considerando que a EY fez a análise sem se basear “nas normas da Caixa ao tempo”.

Carlos Santos Ferreiras fez hoje várias críticas ao trabalho da EY, referindo erros que diz ter detetado no documento (exemplificando com erros de datas sobre a aquisição de um banco pela CGD nos EUA, o Crown Bank), e considerou que o relatório tem "dados omissos, erróneos", assim como "dados de apresentação pouco cuidada e pouco profissional”.

O relatório da EY é factual mas factualmente infeliz", vincou.

Santos Ferreira considerou ainda que este processo tem permitido “juízos de valor lesivos” e que houve quem o tivesse aproveitado para “ajustes de contas pessoais ou políticas”.

O relatório da EY, que deu origem à atual comissão parlamentar de inquérito à gestão do banco público entre 2000 e 2015, analisa concessões de crédito que acarretaram elevadas perdas para a CGD, vários dos quais durante a presidência de Santos Ferreira, de 2005 a 2008.

O gestor disse que muitos dos créditos com perdas foram concedidos em 2007 e considerou que “seria quase impossível que assim não fosse face à crise que se seguiu”, tendo citado análises que indicam que então tal não se perspetivava pelo que a crise foi inesperada.

Disse ainda que os bancos com que a CGD se compara também tiveram nos últimos anos de constituir elevadas imparidades (provisões para perdas com créditos), caso do BCP.

Em momento algum aceito ser moralmente julgado com base em pressupostos que posso no mínimo classificar como ligeiros", afirmou Santos Ferreira.

O gestor fez ainda uma análise aos resultados da Caixa de 2006 e 2007, concluindo que os resultados antes de impostos e interesses minoritários foram de 2.064 milhões de euros nesses dois anos e que mesmo que se deduzam a esses resultados todas as imparidades dos créditos concedidos em 2006 e 2007 que constam dos 25 mais problemáticos referidos no relatório que "mesmo assim seriam de 1.300 milhões de euros".

E se quiserem deduzir as imparidades de todos créditos concedidos neste período mesmo assim os resultados da Caixa rondariam os 900 milhões de euros", acrescentou.

Santos Ferreira abriu a intervenção inicial perante os deputados citando o seu "amigo" Miguel Beleza, que disse em tempos que “contra argumentos, não há factos”, e entregou aos deputados um documento com a sua análise ao relatório da EY.

Santos Ferreira diz que nunca falou com Sócrates sobre convite para banco

Santos Ferreira disse que a relação com Sócrates era "normal", sem visitas a casa, e que nunca falou com o ex-primeiro-ministro sobre o convite para liderar o banco público.

Eu e o engenheiro José Sócrates não somos visita de casa um do outro, hoje não temos relação, na altura da Caixa tínhamos a relação normal entre dois membros do mesmo partido, mas sem sermos visitas de casa, nunca falei com ele sobre este convite da Caixa", afirmou Santos Ferreira em audição na comissão parlamentar de inquérito à Caixa Geral de Depósitos (CGD).

O presidente do banco público entre 2005 e 2008 pediu que as suas palavras não sejam vistas como um modo de "fazer piorar a situação" de José Sócrates, que considerou "extremamente complicada e delicada".

Santos Ferreira disse que, como presidente do banco público, com quem falava regularmente no Governo era com o ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, e com o secretário de Estado da tutela.

Afirmou ainda que quando foi convidado para liderar a CGD não sabia que Armando Vara e Francisco Bandeira iam também fazer parte da administração, referindo que então não conhecia Bandeira e que conhecia Vara, mas não o via há cerca de 20 anos.

Com o ministro das Finanças, indicou, não discutia com créditos e, quando o tema foi o investimento na La Seda Barcelona, o que quis saber era se aquele projeto fazia "sentido para este país [Portugal]", vincando que nunca falava sobre investimentos em específico.

Para mim era claramente um projeto de interesse nacional, foi-me referido que se fosse apresentado com pés e cabeça podia ser candidato a um daqueles PIN [projetos de potencial interesse nacional]", afirmou Santos Ferreira.

Já sobre o empreendimento de Vale do Lobo, Santos Ferreira respondeu que não foi Armando Vara que lhe deu a conhecer o projeto e que o normal, se a operação não tivesse algum problema, era ter acesso às propostas de crédito na véspera da reunião em que seriam discutidas e eventualmente aprovadas.

Segundo o ex-gestor foi isso que aconteceu uma vez que não houve qualquer aviso de que se tratava de uma operação anormal.

Foram quatro os bancos que financiaram ações do BCP

O ex-presidente da CGD Santos Ferreira disse hoje, no parlamento, que do conhecimento que tem foram quatro os bancos que financiaram a compra de ações do BCP, somando ao banco público o próprio BCP, BES e Santander Totta.

O presidente da CGD entre 2005 e 2008 respondia a perguntas da deputada Cecília Meireles, do CDS-PP.

Já anteriormente, questionado pela deputada do BE Mariana Mortágua sobre se, ao contrário do que tinha dito na comissão parlamentar sobre a CGD de há dois anos, já se lembra dos acionistas do BCP financiados pela CGD, Santos Ferreira afirmou que tem “uma ideia”.

Contudo, acrescentou que não podia nomear os clientes por isso significar uma infração das regras do sigilo bancário.

É uma quebra de sigilo bancário citar nome dos clientes, nem é falar de operações, é falar dos clientes. Tenho uma ideia dos clientes que possam ter sido financiados pela Caixa e que eram ao mesmo tempo acionistas do BCP”, disse.

Carlos Santos Ferreira foi presidente da CGD entre 2005 e 2008 tendo depois ido para presidente do BCP, onde ficou até 2012.

De acordo com dados do relatório da EY ao banco público, que deu origem à atual comissão de inquérito, os empresários Joe Berardo e Manuel Fino obtiveram financiamentos da Caixa Geral de Depósitos para compra de ações do BCP, dando como garantia essas mesmas ações que, entretanto, desvalorizaram, gerando perdas avultadas para a CGD.

O ex-presidente da CGD admitiu que houve erros durante a sua liderança do banco público e disse que não gostava que passasse a mensagem de que descartava qualquer responsabilidade.

Ao longo da audição que já leva mais de quatro horas na comissão de inquérito à Caixa Geral de Depósitos (CGD), Santos Ferreira por várias vezes falou do eclodir da crise como um acontecimento inesperado que levou a perdas em créditos concedidos e citou análises da Goldman Sachs positivas para a economia pouco antes do romper da crise para justificar que pouco o fazia prever.

Perante a conclusão da deputada do PS Constança Urbano de Sousa de que atribuía o que aconteceu na CGD sobretudo a acontecimentos inesperados, o presidente da CGD entre 2005 e 2008 interrompeu para dizer que não negava a existência de erros na sua gestão do banco público.

Não nego, também houve erros. Não gostava de negar que houve erros, era um período de euforia, tudo a correr bem e de um momento para o outro tudo desapareceu", afirmou.

Podíamos ser mais cautelosos? Se calhar podíamos", acrescentou.

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