Nissan: Portugal só procura «sucesso político» - TVI

Nissan: Portugal só procura «sucesso político»

César das Neves

César das Neves diz que país anda a «pescar à linha» com essa intenção. «Até porque muitos pequenos investimentos não enchem jornais». Só que, depois, as coisas podem correr mal

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A Nissan decidiu suspender o investimento numa nova fábrica em Portugal, mas «podem vir a acontecer» mais decisões do género vindas de empresas estrangeiras, na opinião do economista João César das Neves, para quem Portugal tem andado «à procura de coisas que dão sucesso político».

«Muitos pequenos investimentos fazem grandes investimentos, mas nós andamos a pescar à linha coisas que dão sucesso político. Até porque muitos pequenos investimentos não enchem jornais», disse esta quarta-feira o presidente do conselho científico da Católica-Lisbon, comentando a suspensão da fábrica de baterias para carros eléctricos daquela fabricante japonesa.

«O investimento é a variante mais nervosa da economia e investimento estrangeiro ainda é mais nervoso». «É preciso mexer na estrutura e não andar à caça de alguns investimentos». «Coisas como esta [o investimento da Nissan] são muito perigosas, porque são grandes quando começam e quando acabam», disse aos jornalistas, à margem do Dia da Competitividade, uma iniciativa da CIP-CCI.

Para o economista, «o investimento directo estrangeiro (IDE) deve ser definido com clareza de regras», considerando determinante «criar um clima atractivo para o investidor estrangeiro para que não se sinta manipulado, porque sempre que é aprovado um orçamento há uma reforma fiscal».

«As regras estão sempre a mudar e os investidores não gostam disso. Sentem-se aldrabados», acrescentou, citado pela Lusa, apelando a «uma abordagem mais económica e menos política do processo» de captação de IDE.

Para César das Neves, a suspensão do investimento de 156 milhões de euros resultou de «uma aposta num produto de alta incerteza, o carro eléctrico, que tinha uma grande probabilidade de correr mal e correu».

Alterações ao subsídio de desemprego são «decisivas»

Sobre as alterações ao subsídio de desemprego propostas pelo Governo, o economista considerou-as «decisivas», dado que é «importante flexibilizar o sistema, porque está demasiado centrado em algumas fatias da força de trabalho», é «muito generoso em certos aspectos e demasiado desaparecido e omisso em outras zonas da economia».

«É uma das coisas mais importantes neste momento. Estamos com níveis de desemprego que nunca tivemos na nossa economia e esse apoio é decisivo».

Ressalvando que ainda não analisou as alterações propostas com cuidado, o economista considerou-as «equilibradas e abrangentes», tornando o sistema «um bocadinho mais exigente sobretudo no período de acesso ao subsídio». «Há pessoas totalmente desprotegidas, por serem empresários ou recibos verdes, o que é inaceitável».
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