BES/GES: a audição de Morais Pires em 13 pontos - TVI

BES/GES: a audição de Morais Pires em 13 pontos

Amílcar Morais Pires [LUSA]

Ex-administrador financeiro do BES foi ouvido a 11 de dezembro. «Não sei» foi uma resposta habitual daquele que era apontado por muitos como o braço direito de Salgado e que, dado o cargo de CFO, deveria saber do que se passava. Não poupou críticas a Ricciardi

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Amílcar Morais Pires, ex-administrador do Banco Espírito Santo, foi ouvido durante mais de seis horas na comissão de inquérito ao BES, banco onde esteve 28 anos. Sem fazer parte da família, congratula-se por ter chegado a um lugar de topo por mérito. Na ausição, tentou fugir várias vezes a certos assuntos, invocando o segredo de justiça ou o segredo bancário.
 
Admitiu que Salgado era o «responsável máximo» e que deveria ter «saído mais cedo» da liderança. O ex-presidente do BES tinha indicado Morais Pires para lhe suceder, mas o Banco de Portugal não aceitou e o CFO diz que foi «vítima» das circunstâncias.  Só assumiu «responsabilidades» coletivas e disse que ele não só não era «o dono disto tudo», como não era o «faz tudo».

O resumo da audição em 13 pontos:
 
1 – Descreveu Salgado como o «responsável máximo», preocupado com os «detalhes», pelo que era «natural» que soubesse de tudo o que se passava no grupo. Mas fez «sempre fé» no ex-presidente do BES
 
2 – Foi mais longe, revelando que Salgado liderava pelouros que deviam caber-lhe a si, como o departamento de planeamento e contabilidade, e o de relações com investidores
 
3 – Admitiu que, agora, pode concluir-se que o ex-presidente do BES «devia ter saído há mais tempo» da liderança, porque não podia ser ele o responsável por levar a cabo as exigências do Banco de Portugal, de acabar com a exposição do BES ao GES (o chamado ring fencing)

4 – José Maria Ricciardi, o primo rival de Salgado, foi o seu grande alvo de críticas. «É uma pessoa muito importante». «O BESI não tinha mero papel administrativo». Nas operações de papel comercial «de qualquer cliente, incluindo a Rioforte e a ESI», era o BESI «quem definia» e «aprovava» tudo. Para além disso, o departamento de risco global estava nas mãos de Ricciardi e fez uma «estimativa muito inferior do pior cenário»
 
5 - Tal como Salgado, culpou a medida de resolução do Banco de Portugal pelo fim da garantia de Angola. Até ao dia 11 de julho, garante que «nunca» recebeu «nenhuma indicação» de que a garantia do presidente angolano estaria em causa. «Está escrito na ata»

6 - Entende que a recapitalização privada era possível e que o «o BES deveria ter sobrevivido». «Poderia ter-se feito mais nos dias antes da resolução. O fundo de resolução expõe os contribuintes ao risco»
 
7 – Estima que o BES perdeu 6,8 mil milhões de euros de depósitos no mês fatídico – julho de 2014. Para isso, contribuíram «as incertezas» geradas por Carlos Costa quanto à transição da liderança do banco. Geraram «stress». Leia-se, a queda abrupta das ações e a «fuga de depósitos»
 
8 – Garante que o BES distribuiu papel comercial de forma «transparente», sem enganar os clientes, e que o Banco de Portugal estava a par dessas operações
 
9 – Negociação do investimento de 900 milhões de euros da PT na RioForte, que só serviu para perder dinheiro, teve o dedo de Salgado: «Do lado do Banco, só podia ser o Dr. Ricardo». Morais Pires era também administrador não executivo da operadora de telecomunicações, mas assegurou que «nunca sugeriu nenhuma iniciativa de investimento nem na Rio Forte, nem na ESI»
 
10 – Admitiu que o BES Angola tinha «má reputação» e devia ter sido mais controlado, mas alega que desconhecia as operações que efetuava e que, em 2013, não havia nenhuma justificação para fazer um ajustamento no BES, já que a garantia protegia o ativo. Mas admitiu que os créditos foram «mal» concedidos sem «informação correta e viável»
 
11 - Revela que alertou, a 11 de julho, seu último dia no banco, para a «tempestade perfeita» e que os seus colegas ficaram de «tomar diligências». «Estou de consciência tranquila», afirmou. «Não é o CFO que manda no banco todo, nem tinha responsabilidades no risco»

12 - Entende que foi «um pouco vítima da sucessão atabalhoada» com o Banco de Portugal a colocar um «travão» à sua subida para a liderança

13 - «Falhámos em algumas coisas»: admitiu-o já na reta final da audição, mas quis frisar sempre o que de bom se fez no banco, sobretudo ao nível das PME e empregos, destacando a lista de clientes «significativa». «Aquilo que é o Novo Banco é uma parte do BES»

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