Ex-administrador do BCP diz que Sócrates "enfeitiçou" Berardo - TVI

Ex-administrador do BCP diz que Sócrates "enfeitiçou" Berardo

  • BM
  • 11 jun 2019, 17:36

Filipe Pinhal classificou ainda Vítor Constâncio, Fernando Teixeira dos Santos [então ministro das Finanças] e José Sócrates de "triunvirato que deitou a bênção" sobre as operações que envolveram o BCP

O ex-administrador do BCP Filipe Pinhal sugeriu, esta terça-feira, que o antigo primeiro-ministro José Sócrates terá influenciado o empresário José Berardo para reforçar a sua posição no banco, com recurso a financiamento da Caixa Geral de Depósitos (CGD).

José Sócrates já reagiu a estas acusações.

Durante a sua audição na segunda comissão parlamentar de inquérito à recapitalização e gestão da CGD, Filipe Pinhal contou que, numa conversa que teve com o empresário também conhecido como Joe Berardo, lhe perguntou porque é que se já tinha "3,88%, uma posição qualificada, queria subir para 7%", e por que motivo iria "investir 400 milhões de euros".

Eu ainda estou para saber como é que aquele homem me enfeitiçou, como é que aquele homem me deu a volta, como é que eu me meti nesta de ir comprar financiado desta maneira", terá respondido José Berardo, de acordo com Filipe Pinhal.

Para o ex-administrador do BCP a pessoa mencionada por Berardo "só podia ser ou Paulo Teixeira Pinto [ex-presidente do BCP], ou o senhor José Sócrates", sendo que para Filipe Pinhal "a palavra de Paulo Teixeira Pinto teria pouco peso" para José Berardo, ao passo que "a palavra do senhor primeiro-ministro valeria mais".

José Berardo referia-se à concessão de crédito da CGD às sociedades ligadas a si para adquirir ações no BCP, cuja garantia eram as próprias ações, que depois desvalorizaram e geraram grandes perdas para o banco público.

De acordo com a interpretação de Filipe Pinhal, a alegada influência de José Sócrates sobre Berardo estaria relacionada com a "guarda da coleção [de arte, no Centro Cultural de Belém] com despesas pagas pelo Estado".

Mais tarde, Filipe Pinhal disse também que era "indesmentível que o Governo [...] tinha uma grande influência quer na CGD quer no Banco Espírito Santo", não se referindo exclusivamente a José Sócrates, e relembrou que "se o Governo tivesse possibilidade de exercer influência no BCP controlava à volta de 60% do mercado de crédito".

O ex-administrador do BCP referiu ainda "o namoro que o engenheiro José Sócrates fazia nesse momento a Angola", relacionando-o com um aumento de capital da Sonangol.

No dia 1 de junho de 2007 a Sonangol anunciou a tomada de posição de 2% no capital do BCP e anunciou a sua intenção de fazer subir essa posição, como veio a acontecer", lembrou Filipe Pinhal, acrescentando que a petrolífera angolana "fez isso depois de se aconselhar com o senhor José Sócrates".

"Palavras do senhor Manuel Vicente e Carlos Silva na minha presença e de outras pessoas", garantiu Filipe Pinhal, que revelou que os responsáveis angolanos "tiveram uma entrevista com Vítor Constâncio" para abordar a operação.

Mais tarde, o ex-administrador do BCP disse ainda que não se deveria pensar que "a Sonangol vinha desencadear uma tempestade em Portugal sem autorização do primeiro-ministro".

Filipe Pinhal disse ainda que na qualidade de administrador do BCP não se "sentava com quem desenhava a estratégia", que estaria "a ser desenhada noutro lado".

O ex-administrador do BCP sublinhou ainda que numa reunião de 21 de dezembro de 2007, "o senhor Vítor Constâncio convoca Carlos Santos Ferreira [então presidente da CGD] e Fernando Ulrich [então presidente do BPI]" para "decidir um assunto sobre um concorrente", nomeadamente a composição da administração.

Filipe Pinhal referiu que a marcação para dia 21 de dezembro, antes das férias de Natal, não foi feita "por acaso", e que ficou surpreendido por Santos Ferreira e Ulrich "não se sentirem inibidos" em participar na reunião.

O ex-administrador do BCP classificou ainda Vítor Constâncio, Fernando Teixeira dos Santos [então ministro das Finanças] e José Sócrates de "triunvirato que deitou a bênção" sobre as operações que envolveram o BCP.

Filipe Pinhal diz que pediu a Berardo para "deixar o BCP em paz"

Filipe Pinhal disse ainda que pediu a José Berardo para "deixar o BCP em paz" em 2007, desmentindo afirmações do empresário madeirense sobre o papel de Pinhal nas operações para compra de ações do banco.

Gostava de desmentir o senhor José Berardo", disse Filipe Pinhal na sua audição na segunda comissão parlamentar de inquérito à recapitalização e gestão da Caixa Geral de Depósitos (CGD), acrescentando que seria "pouco provável" que "estivesse a ajudar" o empresário a alcançar mais votos para o destituir.

Filipe Pinhal confirmou ao deputado comunista Paulo Sá que pediu a Berardo para "deixar o BCP em paz".

Na audição parlamentar de 10 de maio a José Berardo, o empresário disse que Filipe Pinhal lhe sugeriu fazer um crédito na Caixa, já que o próprio BCP não podia financiar compra de ações suas.

Filipe Pinhal disse ainda que num almoço com Berardo em maio de 2007 lhe "sugeriu" a venda de ações do BCP a Pedro Teixeira Duarte, que lhe geraria uma "mais valia de 100 a 150 milhões de euros", ao que Berardo lhe respondeu "upa upa", sugerindo que a mais valia seria superior.

A esta minha sugestão o senhor Berardo respondeu 'E o prémio?'", disse Filipe Pinhal, respondendo que não deveria "haver lugar a prémio, mas talvez a desconto", e que a cotação das ações do BCP estava "inflacionada pela guerra" que Berardo e outros tinham começado.

Depois desta sugestão, Berardo terá dito que o dinheiro proveniente da sugestão "era dinheiro sujo", e que "acima das mais valias estava a honra", de acordo com Filipe Pinhal, que classificou a descrição dos eventos feita pelo empresário de "assaz distorcida".

A palavra honra na boca do senhor Berardo vale o que cada um lhe queira atribuir", afirmou Filipe Pinhal.

O ex-administrador disse ainda que José Berardo "fazia alternadamente de polícia bom e de polícia mau" na sua relação com a administração do BCP.

"De 2008 a 2012 o presidente do BCP foi o senhor Berardo" 

 O ex-administrador do BCP Filipe Pinhal disse também que "de 2008 a 2012 o presidente do BCP" foi o empresário José Berardo, que tinha "poder de fogo extraordinário" no seio do banco.

De 2008 a 2012 o presidente do BCP foi o senhor Berardo", afirmou Filipe Pinhal durante a sua audição na comissão parlamentar de inquérito à recapitalização e gestão da Caixa Geral de Depósitos, uma afirmação que segundo o próprio iria "surpreender" os deputados.

Filipe Pinhal explicou que "o senhor Berardo foi presidente da comissão de remunerações", e que da mesma comissão "fazia parte, como vogal, o senhor Luís Champalimaud".

Já Carlos Santos Ferreira, presidente do BCP no período mencionado, "tinha sido empregado de Luís Champalimaud na Mundial Confiança" e por isso "estava num plano subordinado", disse o ex-administrador do BCP.

Não tenho dúvidas que o senhor Berardo falava grosso a Luís Champalimaud na comissão de remunerações", prosseguiu Filipe Pinhal, dizendo que Champalimaud "calava e dizia a Santos Ferreira" o que é que Berardo desejava.

"Qual dois é que se atrevia a enfrentar o senhor Berardo? Como é que Santos Ferreira metralhava Berardo sabendo que foi este que o pôs no BCP?", questionou Filipe Pinhal, acrescentando que a CGD também não questionava o empresário por saber que Berardo iria aparecer na comunicação social.

Para Filipe Pinhal, José Berardo "tinha um poder de fogo extraordinário, metralhava sobre quem quisesse".

Inquérito/CGD: Filipe Pinhal diz que BdP teve comportamento "anómalo" na 'guerra' do BCP

O ex-administrador do BCP Filipe Pinhal apelidou de "anómalo" o comportamento do Banco de Portugal (BdP) durante a 'guerra' pelo poder no BCP, e disse que só conseguia explicar o comportamento do governador com "desorientação".

O tratamento do Banco de Portugal ao caso BCP, não apenas no dia 20 e 21 de dezembro [de 2007], como toda a instrução, é completamente anómalo", disse aos deputados Filipe Pinhal, que está a ser ouvido na comissão parlamentar de inquérito à gestão e recapitalização da Caixa Geral de Depósitos (CGD).

Sobre o comportamento do então governador, Vítor Constâncio, Filipe Pinhal disse que o anterior líder do supervisor só poderia estar desorientado.

Só o posso entender, numa pessoa habitualmente serena como Vítor Constâncio, com uma grande desorientação que estava justamente no dia em que ia começar o plano de ação para tomada do BCP", afirmou Filipe Pinhal.

O ex-administrador disse que foi um processo feito "às ocultas do país, do conselho superior do BCP, do conselho geral e de supervisão, do conselho de administração executivo".

Filipe Pinhal disse também que o então governador "correu" com ele por não ter concedido um crédito a José Berardo no BCP, e acusou o Banco de Portugal de ter "extravasado grosseiramente e ilicitamente as funções de supervisão".

Vítor Constâncio virá aqui dizer que não houve implicação nenhuma, que uma coisa não tem nada a ver com outra, mas isso é a opinião de Vítor Constâncio", declarou Filipe Pinhal.

O gestor disse ainda não ter "conhecimento de que em algum país do mundo, entre os cinco bancos que dominam o mercado, fossem chamados os presidentes de dois desses bancos para decidir o futuro de um terceiro".

Anteriormente, o ex-administrador do BCP tinha descrito à deputada do CDS-PP Cecília Meireles a sucessão de acontecimentos, em que Vítor Constâncio e o seu vice-governador, Pedro Duarte Neves, pediram insistentemente informações sobre o caso das 'offshore' do BCP, que culminou com uma carta entregue por Pinhal, então presidente interino do banco, a 20 de dezembro.

Filipe Pinhal afirmou ainda que "o Banco de Portugal acompanhou a par e passo a vida do BCP, com pedidos insistentes de informação a partir de 03 de dezembro [de 2007], primeiro dia útil depois da denúncia", e "com igual atenção aquilo que em maio o Diário Económico publicava e o que o senhor Berardo dizia no jornal das 9 da SIC Notícias".

O ex-administrador do BCP disse ainda que a central de risco do Banco de Portugal teve conhecimento "caso a caso" das verbas de crédito concedido pela CGD "e a quem", e que "350 milhões de euros num dia só" [financiamento concedido à Fundação Berardo] é uma verba que "não é possível [...] que tenha passado despercebida" pelo supervisor.

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