CP garantiu hoje “tolerância zero” na segurança da frota apesar de limitações - TVI

CP garantiu hoje “tolerância zero” na segurança da frota apesar de limitações

  • ALM com Lusa
  • 6 mar 2019, 13:53
Comboios de Portugal

Empresa admite recorrer a ‘outsourcing’ junto dos fabricantes para compensar a falta de pessoal na manutenção dos comboios

O presidente do Conselho de Administração da CP, Carlos Gomes Nogueira, garantiu hoje “tolerância zero” na segurança da frota, apesar das limitações ao nível do material circulante e dos meios humanos.

O responsável destacou que, em 2018, o índice de regularidade dos comboios (relação entre os comboios realizados face aos programados) foi de 97,02% e o de pontualidade de 81%, justificando este último com as obras em curso na infraestrutura.

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Carlos Gomes Nogueira está hoje a ser ouvido na Comissão de Economia, Inovação e Obras Públicas, sobre a exoneração do ex-diretor de material circulante, que o responsável explicou, questionado pelos deputados, ter-se tratado de “um ato normal de gestão”.

O responsável lembrou que a CP é uma empresa de “operação complexa e dimensão considerável”, mas também de “tolerância zero”, recordando que, no ano passado, transportou 126 milhões de passageiros, o que representa um crescimento de 18% face a 2013, sendo a média diária de comboios operados de 1.400.

"Portugal no domínio da ferrovia está ao nível da Grécia e da Roménia e muito desfasado de países como a vizinha Espanha", disse Carlos Nogueira, lamentando a "crónica falta de investimento nas últimas décadas no setor ferroviário".

O presidente da CP recordou, a propósito, a abertura do concurso em janeiro para a compra de novo material circulante, referindo que, nas linhas não eletrificadas, a CP recorre a uma frota a diesel que, em alguns casos, chega aos 65 anos quando "os standards da indústria apontam para vidas úteis de 35 anos".

A somar ao envelhecimento da frota está o problema da falta de meios humanos na EMEF devido, em grande parte, à saída de profissionais com grande experiência devido ao programa de longas carreiras contributivas no Estado.

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A segurança é, no entanto, "um valor incontornável", garantiu.

De acordo com os dados do presidente da CP, no final do ano, o número de trabalhadores da EMEF situou-se nos 1.035, igual número de 2017, apesar da integração de 37 trabalhadores ao abrigo do programa de integração de precários no Estado (PREVPAP).

Segundo o responsável, foi apresentado um novo plano de recrutamento de 57 trabalhadores às tutelas “para apreciação há uma ou duas semanas” e “novos planos se seguirão”.

A CP admite recorrer a ‘outsourcing’ junto dos fabricantes para compensar a falta de pessoal na manutenção dos comboios.

O presidente da CP, referiu, a propósito, a dificuldade da empresa em contratar, sobretudo na área Metropolitana de Lisboa, tendo em conta que o nível salarial de entrada na empresa são 700 euros.

Carlos Nogueira salientou ainda a importância do reforço na unidade de manutenção do grupo, tendo em conta que a fornecedora de aluguer de comboios à espanhola Renfe "se esgotou" e que as 22 novas composições que a CP vai comprar só chegarão em 2022 ou 2023.

Numa audição anterior, a Comissão de Trabalhadores (CT) da EMEF, confirmou que as manutenções estão a ser alargadas, mas garantiu que este alargamento não põe em causa a segurança dos comboios, embora lamente o envelhecimento da frota.

Na semana passada, o ex-diretor de Material Circulante da CP, José Pontes Correia, disse no parlamento continuar a aguardar resposta por parte da empresa para a sua exoneração ter sido justificada com o facto “de não cumprir objetivos”.

José Pontes Correia, que falava aos deputados no âmbito da sua exoneração em dezembro passado, começou por explicar estar orgulhoso dos 37 anos de trabalho que tem vindo a desenvolver no setor da ferrovia, salientando que a segurança é premissa naquela empresa.

Posso afirmar com convicção e certeza que o transporte ferroviário sempre teve como primeira premissa a segurança, cultura essa que perdura e que é passada ao longo de gerações de ferroviários”, afirmou José Pontes Correia.

Segundo o responsável, que entrou na empresa em 1982 tendo passado por diversas áreas, foi exonerado de funções em 06 de dezembro de 2018 pelo Conselho de Administração, mas só em 17 de dezembro, através de comunicado de imprensa, conheceu as razões apontadas.

No comunicado que a CP divulgou fiquei a saber, e passo a citar: ‘importa salientar que a exoneração do diretor de material circulante da CP não tem qualquer ligação com tal decisão - por discordar do aumento do ciclo de manutenção das unidades UTE2240 -, mas, tão somente, com a não verificação de condições objetivas para o exercício da função’. Continuo a aguardar que, a qualquer momento, apareça a justificação de quais foram as condições objetivas que eu não reunia para continuar no exercício da função”, disse.

Aos deputados, José Pontes Correia elencou algumas razões pelas quais considera ter sido afastado do cargo, nomeadamente o facto de não ter concordado com o aumento em 10% do ciclo de manutenção das unidades triplas elétricas (UTE), sem um documento técnico que atestasse que era possível fazê-lo em segurança.

De acordo com o ex-diretor, o primeiro caso que aponta ter contado para a sua exoneração foi de que “teria conduzido mal o processo em relação à Siemens criando dificuldades ao Conselho de Administração”.

A segunda situação tinha a ver com pagamentos à EMEF (Empresa de Manutenção de Equipamento Ferroviário), situação esta que vem desde 2014, tendo o responsável afirmado: “Fui diretor de material entre junho de 2017 e dezembro de 2018, mas tudo bem”.

Nunca aceitei devolver as garantias bancárias de 11 milhões à Siemens, mas só uma parte, o que corresponderia mais ou menos a metade, no entanto, depois de alguma luta da minha parte, a Medway (Transportes e Logística, originalmente denominada de CP Carga) aceitou aquilo que desde o princípio não defendera e ambas aceitaram tudo”, adiantou.

O responsável acrescentou ainda que a terceira razão foi “não ter aceitado que mudassem para mais 10% o ciclo de manutenção das unidades triplas elétricas (UTE), que de um milhão e 700 mil quilómetros fizessem mais 100 mil quilómetros antes da manutenção”.

José Pontes Correia frisou que as composições, que fazem “mais ou menos 20 mil quilómetros por mês”, andariam cerca de cinco meses mais, e que só aceitaria a alteração do prazo com “um documento técnico que garantisse que estavam reunidas todas as condições de segurança”.

A questão do acidente ocorrido em setembro de 2018 com um Alfa Pendular que saiu de Santa Apolónia com destino a Braga, mas em Campanhã, Porto, os rodados ficaram incandescentes e largaram fumo levando à paragem imediata, foi outra das questões referidas na audição.

José Pontes Correia garantiu aos deputados que a “cultura de segurança não é retórica” na CP, havendo confiança no trabalho de todas as equipas, embora tenha assinalado que a EMEF foi perdendo “técnicos muito qualificados” cujos lugares não foram preenchidos posteriormente.

O Alfa Pendular é o mais vigiado e mesmo assim houve um rolamento que gripou. Era impossível saber que ia acontecer”, afiançou.

José Pontes Correia reconheceu que o material circulante “é velho”, mas que “de 15 em 15 anos é refeito. É descascado e os seus órgãos mecânicos, elétricos e eletrónicos são refeitos”, avançando que os ciclos de manutenção normais agora “demoram o dobro do tempo a serem feitos” devido à escassez de técnicos na EMEF.

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