Consumo manipulado: carros gastam mais 42% do que as marcas dizem - TVI

Consumo manipulado: carros gastam mais 42% do que as marcas dizem

  • Redação
  • VC - Atualizada às 13:05
  • 21 dez 2016, 08:04
Combustíveis

Estudo feito pela Federação Europeia dos Transportes e Ambiente conclui que é cada vez maior a diferença entre o que é relatado pelos fabricantes de automóveis com base em testes de laboratório e o consumo real em estrada. Veja quanto, em euros

Os carros gastam mais 42% de combustível do que o anunciado pelas marcas. Um estudo feito pela Federação Europeia dos Transportes e Ambiente conclui que é cada vez maior a diferença entre o consumo de combustível relatado pelos fabricantes de automóveis com base em testes de laboratório e o consumo real em estrada.

O referido estudo “Mind the Gap” foi divulgado pela TSF e mostra existirem sinais evidentes de que várias marcas estão a manipular os dados relativos à eficiência no consumo. Para se ter uma ideia dos gastos, em euros, os condutores europeus pagam em média mais 450 euros por ano face ao publicitado pelas marcas. 

A diferença entre os resultados (sobre consumo e emissões de CO2) dos testes de laboratório oficiais e o desempenho real dos carros tem vindo a crescer: aumentou de nove por cento em 2001 para 28% em 2012 e 42% em 2015”

Mercedes lidera a lista de fabricantes com a maior diferença, acima dos 50%.

No entanto, a todas as marcas se pode apontar o dedo, com diferenças sempre acima dos 35%.

Quercus exige fiscalização

Os ambientalistas exigem, por isso, uma fiscalização urgente. Segundo os responsáveis da Quercus, associação ambientalista que integra aquela federação europeia, para além de prejudicar os condutores, o Estado também fica a perder pois a cobrança de impostos está muito dependente do consumo de combustível e do desempenho ambiental.

À agência Lusa, o presidente da Quercus, João Branco, disse que vai "pedir às autoridades europeias, nomeadamente a Comissão Europeia, e às autoridades nacionais de homologação de veículos para investigarem este assunto de forma séria e alargada a todos os fabricantes de automóveis”.

Pretende saber se os fabricantes “estão a usar dispositivos que manipulam os resultados de laboratório ou se os testes de laboratório estão a ser corretamente elaborados e refletem depois o que vai acontecer no consumo”. “É preciso saber o que se está a passar”, vinco

Quando um carro é anunciado como estando a gastar seis litros aos 100 quilómetros, na realidade está a gastar nove litros aos 100. Portanto, está a haver uma despesa, uma ignição e poluição que o cidadão julgava que não ia acontecer”.

Uma diferença do consumo “inexplicável”, na opinião do presidente da Quercus. “Embora não havendo provas, se olharmos para os valores ficam as suspeitas de que alguma coisa não está certa, por isso, tem de ser investigado pelas autoridades competentes”.

ACAP contesta relatório

O secretário-geral da Associação Automóvel de Portugal (ACAP) contestou entretanto o relatório da Federação Europeia dos Transportes e Ambiente.“Este estudo é especulativo e não tem base científica”, disse à Lusa o secretário-geral da ACAP, Hélder Pedro.

O estudo é completamente precipitado e sem qualquer base científica. Vem agora falar em condições reais de condução sem ver como elas são. Ou seja, duas pessoas guiam o mesmo carro e uma delas pode ter um tipo de condução diferente da outra. Depende do condutor, depende do estado do veículo, depende da via”.

Para o secretário-geral da ACAP, não há qualquer comparação, em termos técnicos, dos carros usados nas várias marcas e, por isso, insiste, o relatório não tem qualquer base científica. “É um estudo sem qualquer interesse e sem qualquer importância. Diz que o aumento (de consumo) é de 40 por cento mas até podia dizer que eram 60 por cento porque não é assim que as coisas são feitas”.

As marcas cumprem “rigorosamente” a legislação atual, garante. Para a ACAP, o relatório está a “aproveitar” a discussão que está a ser desenvolvida neste momento ao nível das instâncias comunitárias, para alterar o modo dos testes sobre os novos veículos que entram em circulação.

 

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