«- O seu antecessor passou-lhe a pasta?», perguntou a deputada . «Não», respondeu apenas.
Ainda a custo, Moreira Rato disse que nem antes, nem depois de assumir a administração financeira, eles conversaram:
Antes, o presidente da comissão de inquérito, Fernando Negrão, já tinha pedido a Moreira Rato para ser «mais assertivo» nas suas respostas.«- Contactou-o, pediu-lhe esclarecimentos?
- A partir de quando entrei [no BES], não.
- E antes de ter entrado?
- Não.
- E qualquer outro tipo de pedido?
- Que me lembre, não».
Foi, de resto, um segundo aviso. Até para admitir que foi sondado pelo Governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, para entrar para a administração do BES, na mesma altura em que Vítor Bento lhe fez, formalmente, o convite (início de julho de 201), Moreira Rato teve dificuldade em responder. Só depois da primeira repreensão de Fernando Negrão, lembrando-o que a mentira ou a omissão pode configurar «um crime de desobediência qualificada», é que assumiu que sim.
Também sobre as «lições a tirar» e os «erros a não repetir» , fugiu à pergunta, desta vez da deputada do PS Ana Paula Vitorino, que o acusou de ser «um dos maiores especialistas em colapso financeiros», pois estava no Lehman Brothers, quando este faliu, e no BES, quando este desapareceu.
«Ficará com esse currículo, com essa experiência da especulação financeira internacional…»
Moreira Rato disse apenas: «Nos dois meses em que estivemos no BES e no Novo Banco fizemos muitas medidas bem tomadas».
Antes, o ex-administrador contou aos deputados que, quando chegou ao BES, encontrou um banco bem diferente daquele que lhe tinham transmitido.
Disse, por outro lado, que a recapitalização privada era a única solução que estava em cima da mesa. Poderia demorar cerca de dois meses, mas isso não seria um problema , ao contrário do que foi argumentado pelo Banco de Portugal, que acabou por decidir pela via da resolução, que dividiu o BES em dois - tóxico e Novo Banco.
Admitiu contactos com o Governo nos últimos dias do BES, mas só falou com a ministra das Finanças . Pela sua estimativa, o banco perdeu 6 mil milhões de euros em depósitos só das duas últimas semanas de julho . A resolução, recorde-se, foi decidida a 1 de agosto.