Inquérito/CGD: Vara garante que nunca falou com Sócrates sobre convite - TVI

Inquérito/CGD: Vara garante que nunca falou com Sócrates sobre convite

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  • 22 mar 2017, 19:28

Antigo administrador da Caixa Geral de Depósitos assegura que foi Teixeira dos Santos quem o convidou para a gestão do banco público e disse que o banco ainda vai ganhar dinheiro com Vale do Lobo

O antigo administrador da Caixa Geral de Depósitos (CGD), Armando Vara, assegurou esta quarta-feira que foi Teixeira dos Santos quem o convidou para a gestão do banco público e que não debateu o assunto com o então primeiro-ministro, José Sócrates.

"Quem me convidou foi na altura o senhor ministro das Finanças [Teixeira dos Santos] muito pouco tempo antes da posse [agosto de 2005]. Disse-me que gostava que integrasse as mudanças que ele queria implementar na CGD", afirmou Vara durante a sua audição na comissão parlamentar de inquérito à recapitalização e gestão do banco estatal.

 "Teixeira dos Santos, com quem tinha uma boa relação e tinha sido colega de Governo, disse-me que a equipa ia ser liderada por Santos Ferreira", acrescentou.

Questionado sobre quando falou com Sócrates sobre o convite que lhe foi endereçado, Vara disse que nunca o fez.

Nunca falei com ele sobre esta matéria", sublinhou.

O PSD quer que o Ministério Público analise declarações de Armando Vara na comissão de inquérito à CGD relativamente à ausência de contactos com José Sócrates, primeiro-ministro à data em que aquele responsável era administrador do banco.

"O PSD solicita que seja extraída certidão das várias respostas do Dr. Armando Vara e que seja remetida ao Ministério Público", disse o deputado social-democrata Hugo Soares, depois de já se ter envolvido numa troca de palavras mais duras com o antigo administrador da Caixa Geral de Depósitos.

Hugo Soares tinha insistido antes no tema e perguntou a Vara se tinha falado com o antigo primeiro-ministro sobre o banco público enquanto lá trabalhou.

Não me lembro de ter falado com o engenheiro Sócrates sobre a CGD, por muito estranho que pareça. Se tivesse falado lembrar-me-ia", disse o antigo administrador do banco estatal.

Hugo Soares enfatizou: "Não falou ou não se lembra", com Vara a insistir que não se lembra.

"Não se lembra, mas não nega que tenha falado", anotou o deputado social-democrata.

Hugo Soares continuou a insistir, questionando: "Lembra-se que há uma dezena de anos almoçou com o Dr. Campos e Cunha no CCB, mas não se lembra de ter falado sobre a CGD com o engenheiro Sócrates. Ninguém acredita que o senhor não se lembra se falou com o engenheiro Sócrates sobre a CGD".

"Não fico prisioneiro daquilo que você pensa, nem do que você acha que os outros pensam. Sempre me habituei a ser leal e a falar com franqueza. Isso talvez suscite algumas reações a quem não está habituado a isso", retorquiu Vara.

E rematou: "Eu não tenho ideia de, enquanto o primeiro-ministro foi primeiro-ministro e eu fui administrador da CGD, termos falado sobre assuntos da CGD, porque essa era uma matéria da competência do presidente Santos Ferreira".

"CGD ainda vai ganhar dinheiro com Vale do Lobo"

Ainda ouvido na comissão de inquérito, Armando Vara disse que a recuperação do setor imobiliário vai permitir que o banco público recupere a totalidade do dinheiro que emprestou ao empreendimento turístico Vale do Lobo, no Algarve.

Estou seguro que a CGD não perderá dinheiro com aquele ativo. Os ativos imobiliários, tal como desvalorizaram, agora estão a valorizar. O 'resort' teve condições para pagar 100 milhões de euros enquanto as condições eram muito difíceis".

 

"Vai ser vendido no mínimo pelo valor que a CGD lá colocou, mas atrevo-me a pensar que vai ser vendido acima desse valor", atirou.

O gestor apontou para um relatório da consultora KPMG que "dizia que Vale do Lobo valia mais de 400 milhões de euros", reforçando que a Deloitte confirmou esse valor.

"No primeiro ano o 'resort' vendeu 50 casas. Até 2013 pagou 100 milhões de euros à CGD. Foi um dossiê bem pensado, que nós fizemos questão que ficasse na CGD quando havia outros bancos interessados. Mas, com o 'subprime', a primeira coisa que se deixou de comprar foram casa de férias", sublinhou.

 

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