Bruxelas exige medidas de 730 milhões e quer banco mau até outubro - TVI

Bruxelas exige medidas de 730 milhões e quer banco mau até outubro

Sanções relativas ao défice ficaram adiadas, pelo menos por agora. Mas Governo não se livrou de uma série de recomendações específicas para seguir desde já, nas áreas da saúde, da Segurança Social e dos transportes. Primeiro-ministro faz finca-pé

A Comissão Europeia até adiou a decisão sobre se aplica ou não sanções a Portugal a propósito do défice de 2015, mas quer uma contrapartida: mais medidas. Por isso, deixou uma série de recomendações que quer que Portugal siga desde já. Em apenas dois meses - até ser conhecida aquela decisão - o Governo tem de dar provas. Bruxelas contabiliza as medidas adicionais em cerca de 730 milhões de euros, mas o primeiro-ministro continua a recusar que sejam necessárias. 

Bruxelas detalha o caminho a seguir pelo Executivo de António Costa já em 2016, indicando medidas, embora algumas genéricas, que acredita que terão consequências positivas em 2017, no sentido de uma consolidação orçamental estável.

O foco deverá estar sobretudo na área da saúde, da Segurança Social e do setor empresarial do Estado, nomeadamente os transportes. Quanto à banca, pede que seja o chamado banco mau, uma instituição para liderar com o elevado malparado em Portugal, seja criado em menos de meio ano, até outubro.

Saúde

Corte na despesa que garanta "a sustentabilidade de longo prazo", mas “sem comprometer o acesso aos cuidados primários de saúde”:

-Medidas "abrangentes" destinadas a promover a prevenção de doenças e políticas de saúde pública

- No curto prazo, planear e implementar nos hospitais a liquidação de dívidas em atraso, o que "​​continua a ser um desafio importante".

Reforma da segurança social Reduzir a "dependência" do sistema de pensões das transferências do Orçamento do Estado
Função Pública

"Aumentar a transparência e a eficiência na contratação pública no que diz respeito a parcerias público-privadas e às concessões”

"Até o final de 2016”, melhorar e acelerar os procedimentos administrativos e de licenciamento

Setor empresarial do Estado Reorientar até ao final de 2016 os "planos de reestruturação em curso das empresas públicas”, em particular nos transportes

Quanto a este último ponto, basicamente a Comissão Europeia quer que o Governo siga o caminho que o anterior Executivo PSD/CDS-PP, liderado por Passos Coelho, estava a fazer, concessionando os transportes a privados, algo que a equipa de António Costa reverteu

Outras medidas

Impostos Aumentar a receita fiscal (mas aqui não concretiza como)
Salário mínimo Garantir, em conjunto com os parceiros sociais, que “os salários mínimos são consistentes com os objetivos de promover o emprego e a competitividade”
(Des)emprego

“Assegurar a ativação efetiva dos desempregados de longa duração"

"Melhorar a coordenação entre o emprego e os serviços sociais”

“Reforçar os incentivos às empresas para contratarem através de contratos permanentes”.

Banca Bruxelas quer um banco mau “até outubro de 2016”, ao pedir que se facilite a limpeza dos balanços das instituições de crédito e que se combata o problema do crédito malparado

A Comissão Europeia considera que ainda existe espaço para um maior controlo da despesa, do ponto de vista do Orçamento do Estado. É o que pede ao Governo, estabelecendo um prazo: “até fevereiro de 2017, uma revisão ampla da despesa em todos os níveis da administração pública” e "reforçar o controlo da despesa, a eficiência dos custos e uma orçamentação adequada”.

Salientando que "é bom para Portugal" que Bruxelas tenha adiado uma decisão sobre o défice, o comissário europeu Carlos Moedas pediu ao Governo uma execução orçamental "sem falhas" até julho.

Costa faz finca-pé

O primeiro-ministro entende que não é preciso desviar-se do caminho que escolheu para a economia portuguesa, recusando, portanto, medidas adicionais. Até porque está convencido que vai chegar, como prometido nas últimas previsões que apresentou, a um défice de 2,2% este ano.

Acontece que o ponto de partida do Governo e de Bruxelas é completamente diferente. A Comissão Europeia não acredita que se consiga chegar àquela meta: a previsão de Bruxelas é de um défice de 2,7% este ano, mas hoje exige que Portugal chegue ao final de 2016 com um défice de 2,3%. Essa diferença de 0,4 pontos percentuais, feitas as contas, vale entre 720 milhões e 740 mjilhões de euros. Daí ser esse o esforço adicional que Bruxelas considera ser necessário realizar. António Costa refuta, tentando virar o jogo noutro sentido:

"As previsões da Comissão têm estado em evolução, aliás positiva. Começaram em 3,4, já vão em 2,7, diz agora que temos de alcançar uma meta de 2,3. A nossa meta no Orçamento, com as medidas que já temos é de 2,2. Nós continuamos tranquilos sobre a forma como o Orçamento tem vindo a ser executado. Não encaramos a necessidade de medidas adicionais para alcançar o objetivo que nos propomos, quanto mais para alcançar um objetivo menos ambicioso"

O chefe de Governo mostra-se convicto de “que se tudo continuar a correr normalmente” na economia e na execução orçamental, em julho a Comissão estará “a dar um novo passo de aproximação” às previsões do executivo português.

De recordar que o próprio Presidente da República antecipou ontem a necessidade de o Executivo ter de rever as suas previsões para o desempenho da economia. Hoje, a propósito das eventuais sanções a Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa disse não haver "razões para alarmismos" e que o país deve aguardar serenamente até julho. 

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