BES/GES: a audição de Ricardo Salgado em 15 pontos - TVI

BES/GES: a audição de Ricardo Salgado em 15 pontos

Ex-presidente do Banco Espírito Santo foi ouvido a 9 de dezembro de 2014. Não assumiu culpas sozinho, pela derrocada do grupo e do banco, nem pediu desculpa. Apontou o dedo a auditores, Banco de Portugal e ao Governo e disse que o BES foi «forçado» a desaparecer

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Ricardo Salgado é a figura central da comissão de inquérito ao BES/GES. Pelas razões óbvias: é consensual entre quem já foi ouvido que ele era o líder incontestável do banco e do grupo, há mais de duas décadas. Mas nem por isso foi o primeiro a assumir a culpa pelo colapso.

Na sua defesa, apresentou como argumento que tinha um plano para a sucessão e mudança do modelo de gestão do banco, mas que o Banco de Portugal não deu tempo para concretizar. Chegou a pedir ajuda ao Governo, que não quis saber.

O «dono disto tudo» recusa esse rótulo e também não pediu desculpa. Para os investidores, já no final da sua intervenção inicial que durou mais de uma hora, as poucas palavras que teve foram apenas de lamento pelo que aconteceu.

A audição de Ricardo Salgado em 15 pontos:
 
1 - «O BES não faliu. O BES foi forçado a desaparecer»: esta foi a expressão-chave da audição de Salgado, que culpou o Banco de Portugal pela «destruição» do banco, acusando-o de de querer «desresponsabilizar-se». Resolução que dividiu o banco em dois «foi um erro»
 
2 – As culpas que Ricardo Salgado assumiu foram sempre no plural. Mas soube-as imputar diretamente não só ao Banco de Portugal, mas também aos auditores e ao Governo
  
3 – Quis «deixar bem claro» que a sua «intenção» era «apresentar um plano de governance sobre a sua sucessão, mas o Banco de Portugal impôs exigências, em tom de «ultimato», «impossíveis» de realizar num prazo tão curto
 
4 - Garante que «nunca» mentiu ao Banco de Portugal e que o supervisor quis que fosse o próprio Salgado a liderar a sucessão e, sobre quem lhe iria suceder na liderança, o supervisor terá dito: «Será quem o senhor presidente entender»
 
5 -A ajuda do Estado não se colocou antes, porque o BES não precisava. «A escolha de não recorrer não era fruto de fuga, temor ou de um plano secreto». O historial de sucesso de aumentos de capital fez com que fosse essa a via escolhida
 
6 - Tentou um «apoio transitório» do Estado para o Grupo Espírito Santo, mas ficou ressentido pelo facto de o Governo ter recusado, já que o GES «apoiou a salvação» de muitas empresas. Sem essa ajuda, o GES foi obrigado a recorrer à Tranquilidade «de forma temporária»
 
7 – Admitiu «problemas de gestão» a partir de 2007 e 2008 e a ocultação de passivo da Espírito Santo Internacional (ESI), reportada em novembro de 2013. Alguma contradição entre datas, uma vez que também disse que só soube dessa diferença em dezembro de 2013 e só em março seguinte participou às autoridades luxemburguesas
 
8 - Culpou o contabilista do GES, Francisco Machado da Cruz, pela ocultação de contas da ESI (1,3 mil milhões de euros) e lembrou que ele «assumiu totalmente a responsabilidade pelos seus atos». «Não dei instruções a ninguém para ocultar passivos do grupo».
 
9 - Sobre o BESA, culpou Álvaro Sobrinho pela «dívida pavorosa» que se descobriu no banco angolano. Quanto à garantia que cobria os créditos do BES ao BESA, citou as palavras do BdP de que não esperava «um impacto significativo» da exposição à filial de Angola, dado que existia garantia do Estado angolano
 
10 - Como garantia foi atirada para o banco mau como «ativo tóxico», quando foi decretada a resolução, Salgado entende que ela caiu por causa disso; logo, culpa mais uma vez o Banco de Portugal. A opção tomada «foi uma enorme ofensa diplomática» a Angola. «O modelo de resolução cria o descalabro final, com a queda da garantia de Angola»
 
11 - Assegurou que o objetivo do esquema de re(compra) de obrigações da Eurofin foi «retirar risco» aos clientes que não estavam protegidos. Confirmou, ainda, a venda de papel comercial nos balcões do BES
 
12 - Negou todas as «falsidades» mediatizadas sobre si e a sua família e o alegado dinheiro desviado para o estrangeiro e a para offshores. «Ninguém se apropriou de um tostão»
 
13 - Recusou ser o responsável «todo poderoso» do GES, ao dizer que tutelava apenas a área financeira do grupo. Como defesa, diz que o que fez foi sempre «em consciência». Considera-se «idóneo» e «nunca ninguém questionou» essa sua competência. Houve questões «pontuais», que vinham de «alguns anos atrás», mas apenas isso
 
14 - Admitiu que «muitos perderam tudo com o desaparecimento do BES e a insolvência do GES». Não pediu desculpa pelo colapso, deixou apenas um lamento
 
15 - Refugiou-se no segredo de justiça para não abordar o presente de 14 milhões de euros que recebeu do construtor José Guilherme. «É um assunto do foro pessoal»

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