Moreira Rato também encontrou um BES bem diferente do que diziam - TVI

Moreira Rato também encontrou um BES bem diferente do que diziam

Moreira Rato [Foto: Lusa]

Ex-administrador financeiro entrou com Vítor Bento na fase final da vida do BES. Ainda ficou no Novo Banco, por pouco tempo. Só não saiu logo, receando o «efeito dominó» no sistema financeiro

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O ex-administrador financeiro do Banco Espírito Santo, João Moreira Rato, integrou a equipa de Vítor Bento pouco antes de o BES colapsar. E, tal como o ex-administrador José Honório, já ouvido na comissão de inquérito sobre o caso, encontrou um banco bem diferente daquele que lhe apresentaram, em teoria. 

«Foi-nos transmitido que o banco era viável e que a exposição do BES ao GES seria acomodada pela almofada de capital existente». No entanto, quando chegaram ao BES, encontraram uma situação «mais complexa», com a «saída diária de depósitos» e a existência de «menos ativos disponíveis»

Assinalando que não teve «tempo» para escolher pessoas para a sua equipa, mas alegando que ninguém lhe impôs o que quer que fosse, deu ainda conta que, na chegada ao BES, «estivemos muito ocupados a responder a questões de liquidez, que eram relativamente maiores do que antecipávamos».

«Nessas três semanas até à medida de resolução, além de tudo o que ia aparecendo, como a questão das obrigações, tínhamos muitos problemas para resolver diariamente. Alguns problemas decorriam de questões de governance passada, mas não perdíamos muito tempo a analisá-las, mas sim a resolver os problemas»

A recompra de obrigações revelou-se necessária, no entender de Moreira Rato, porque foi isso que lhe foi transmitido pelo departamento comercial, no qual fazia «confiança». Isto, apesar de essa operação ter sido realizada com prejuízo para o banco, piorando o seu estado de saúde.

Paulo Rios de Oliveira, do PSD, colocou várias questões sobre esse «esquema» de recompra, querendo saber «quem foi o criador» dele. Moreira Rato respondeu apenas que esse era «um assunto melindroso», «em investigação, em auditoria forense». 

Quanto ao que levou aos prejuízos de 3,57 mil milhões de euros de janeiro a junho de 2014 (o colapso foi em julho), o ex-administrador disse que «uma parte dos resultados podem ser explicados pelos prejuízos em relação às obrigações longas que estão sob investigação». «Esperava-se ainda provisões provenientes da exposição ao GES. Há uma provisão que explica boa parte dos resultados e a questão das cartas de conforto também».

O BES que imaginava


O ex-administrador, que antes foi presidente da Agência para a Dívida Pública portuguesa (IGCP), foi convidado para o cargo a 4 de julho de 2014, pelo próprio Vítor Bento, num almoço.

«Era um desafio profissional que parecia uma boa oportunidade profissional», afirmou, garantindo que esperava ficar no cargo muito tempo e não apenas dois meses. A perceção com que ficou é que ia abraçar um «projeto duradouro».


Sobre a exposição do BES ao BES Angola, Moreira Rato garantiu que foi transmitido à nova administração que havia «boas perspetivas ser clarificada a curto prazo». O deputado do PCP, Miguel Tiago, quis saber exatamente quem tinha dado essas informações. Após alguma hesitação, Moreira Rato respondeu: «Foi-nos dito por quem nos convidou [Vítor Bento] e, sim, nas conversas com o Banco de Portugal». Quanto à exposição do BES ao GES, «havia informação pública disponível», «bem delimitada». 
 
A medida de resolução, que dividiu o BES em banco tóxico e no Novo Banco, surgiu logo no final desse mês. Moreira Rato disse que soube da decisão a 1 de agosto, sexta-feira, à noite. Aceitou ficar na administração, porque entendeu que era «crucial» para «possibilitar a abertura do Novo Banco no dia a seguir», segunda-feira, dia 4.

«Se isso não acontecesse, podia ter um efeito dominó no restante sistema financeiro»


Por que é que saiu, depois, passado um mês? «Pareceu-nos que o projeto estava bastante afastado do projeto inicial e as possibilidades previstas na alteração legislativa [no início de agosto] pareciam remotas». Para «clarificar o mandato da administração, fazia sentido que entrasse uma nova equipa», acrescentou.

Algo hesitante nas suas respostas, o ex-administrador do BES e do Novo Banco assegurou aos deputados que havia «vários tipos de interessados» na recapitalização privada, uma solução que podia demorar dois meses, mas isso não seria um problema
. Outros bancos «sobreviveram» «algum tempo» à retirada do estatuto de contraparte pelo BCE.  
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