Banco de Espanha prevê recessão económica até 13,6% em 2020 - TVI

Banco de Espanha prevê recessão económica até 13,6% em 2020

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  • AG-Atualizada às 14:29
  • 20 abr 2020, 12:08
Dinheiro

Entidade refere que a situação não vai ficar totalmente resolvida em 2021

O Banco de Espanha prevê uma contração económica "sem precedentes" este ano, como resultado da epidemia do coronavírus e das medidas adotadas, que pode chegar a 13,6% do PIB, se o confinamento for prolongado por doze semanas.

Num relatório publicado esta segunda-feira, a instituição analisa o impacto da pandemia na economia e nas contas públicas do país, prevendo uma queda do PIB "sem precedentes na História recente" de Espanha, que será seguida, em 2021, por uma recuperação "significativa mas não completa" da atividade e do emprego que se esperava antes da pandemia.

O confinamento e o encerramento de certas atividades, explica, já teve um impacto no emprego e no rendimento das famílias e das empresas, agravado pela fragilidade do mercado externo, pela perturbação das cadeias de abastecimento mundiais e pelo "encerramento" do setor do turismo.

Face a esta situação e apesar da incerteza que persiste – tanto em relação à duração do confinamento como às circunstâncias que se manterão quando for levantado, que não espera que sejam "totalmente normais" –, o Banco de Espanha faz uma série de estimativas de impacto económico com base em várias metodologias e cenários.

Utilizando uma metodologia pelo lado da oferta, a queda no PIB este ano seria entre 6,6 e 8,7% se o confinamento durasse oito semanas – dependendo se a atividade voltasse ao normal após esse período ou no final do ano – e 13,6% se durar 12 semanas, um cenário em que as atividades ligadas ao lazer e hotelaria não voltariam ao normal mesmo no final do ano.

Utilizando a metodologia ligada ao modelo trimestral do Banco de Espanha, que a instituição considera ser mais adequada para medir o impacto e o efeito a médio prazo das políticas económicas, a contração situa-se entre 6,8% e 9,5% com oito semanas de confinamento – dependendo da existência de empresas afetadas por problemas de solvência –, seguida de uma recuperação de 5,5% ou 6,1% em 2021, respetivamente.

No caso de uma contenção de 12 semanas, a contração seria de até 12,4% com esta metodologia, o que pressupõe que uma certa proporção das empresas não seria capaz de evitar que a sua falta de liquidez levasse a problemas de solvência.

No que diz respeito às contas públicas, o Banco de Espanha estima que as medidas adotadas irão aumentar o défice este ano para um valor entre 7% e 11% do PIB e a dívida pública para entre 110% e 120% do PIB.

O relatório especifica que apenas os subsídios de desemprego e de cessação de atividade por conta própria, juntamente com as medidas excecionais dos processos de lay-off – Expediente de Regulamentação Temporário do Emprego (ERTE) –, terão um custo de cerca de 6.000 milhões de euros, uma estimativa que considerada conservadora, dado que se baseia em números que já foram ultrapassados.

O Banco de Espanha também publicou um inquérito às empresas, que revela que quase 80% delas viram a sua atividade reduzida pela crise sanitária e que dois terços acreditam que o seu nível de atividade após o confinamento será inferior ao que era antes da pandemia.

As razões para esta queda na atividade são a menor procura, problemas de oferta e dificuldades na recolha de pagamentos dos clientes, bem como a falta de liquidez e financiamento.

Espanha propõe fundo até 1,5 biliões de euros

O primeiro-ministro espanhol vai propor aos restantes líderes da União Europeia (UE), que se reúnem em videoconferência na quinta-feira, a criação de um fundo de até 1,5 biliões de euros para a recuperação económica da crise.

Segundo um documento a que a agência Efe e o diário El País tiveram acesso, esse grande Fundo de Recuperação para ajudar os países mais afetados pelo novo coronavírus seria financiado pela emissão de divida perpétua (sem prazo de pagamento) europeia.

O chefe do governo espanhol pretende que o fundo sirva para financiar medidas de reconstrução, com especial atenção para os setores mais afetados pelo encerramento de atividades ou por medidas de contenção, como os transportes e o turismo.

Madrid considera que as dotações deste fundo devem ser feitas por transferências diretas e não por empréstimos, para que o rácio da dívida pública dos Estados-membros não aumente.

A proposta tem por base a ideia de que a recuperação de economias tão afetadas como as da Espanha e Itália só é possível com um grande Plano Marshall europeu para os próximos anos, que evitaria o agravamento do endividamento dos países do sul do continente e ajudaria as suas economias.

De acordo com a proposta, os montantes deverão estar disponíveis a partir de 1 de janeiro de 2021 e poderão ser utilizados nos próximos dois a três anos para relançar as economias dos países em questão.

A ajuda seria atribuída na forma de subvenções não reembolsáveis através do orçamento europeu, dependendo do impacto da crise de Covid-19 em cada país e tendo em conta indicadores "transparentes" como a população afetada, a queda do PIB ou o aumento do desemprego.

Este Fundo de Recuperação seria financiado através da emissão de dívida perpétua da UE "apoiada pelos mecanismos legais existentes", o que permitiria às instituições da UE beneficiarem da notação de crédito AAA de que gozam, de acordo com a proposta espanhola.

Como se trata de uma dívida perpétua, apenas os juros teriam de ser reembolsados, não o capital emprestado.

Para o reembolso do mesmo, a Espanha propõe utilizar, "tanto quanto possível", novos impostos europeus através do orçamento da UE, tais como um imposto ao carbono, a ser cobrado na fronteira externa da União, sobre as emissões de CO2 ou um "imposto sobre o mercado único".

O fundo "poderia estar situado no âmbito do Quadro Financeiro Plurianual (QFP)", de acordo com o documento.

O orçamento plurianual da UE para 2021-2027 é uma das ferramentas que mais consenso gera entre os países quando se trata de enfrentar a crise, bem como no seio da Comissão Europeia, que insiste em ser a pedra angular do plano de recuperação.

Neste sentido, a proposta espanhola sublinha a necessidade de se chegar o mais rapidamente possível a um acordo sobre um quadro orçamental revisto "ambicioso", cuja dimensão seja "proporcional à magnitude de uma crise sem precedentes" e que aumente o atual limite máximo de recursos próprios (1,2% do rendimento nacional bruto conjunto) para aumentar a capacidade de empréstimo da UE.

Espanha também apela a progressos no sentido da "harmonização fiscal total e da erradicação de todas as práticas fiscais injustas entre os estados-membros", um aviso velado aos Países Baixos, o país mais relutante em aceitar medidas como a emissão conjunta de dívida, mas que a Comissão inclui entre os parceiros que levam a cabo políticas agressivas de planeamento fiscal que podem favorecer a evasão fiscal.

Espanha é um dos países mais atingido pelo novo coronavírus, tendo 20.852 óbitos relacionados com a doença e 200.210 pessoas infetadas.

Alemanha em "recessão severa"

O Bundesbank, banco central alemão, acredita que as medidas para a conter o surto precipitaram a economia daquele país numa “recessão severa” e descarta uma possível recuperação rápida, de acordo com um boletim mensal.

No documento, publicado hoje e citado pela agência Efe, o banco diz que a pandemia paralisou alguns setores de serviços de consumo, bem como a atividade económica em geral, desde meados de março.

Até que ponto cairá a atividade económica no final não se pode prever neste momento, porque a duração da recessão dependerá de quando e em que medida se relaxam as restrições que se aplicaram para lutar contra a pandemia”, adiantam os economistas da instituição.

Ainda assim, o Bundesbank acredita que “uma recuperação económica rápida é improvável”.

Já foram anunciadas algumas medidas de levantamento do confinamento, mas até que exista uma solução, como uma vacina ou medicamentos comprovadamente eficazes, deverão manter-se “restrições sociais” e por isso parece improvável “uma recuperação económica rápida e forte”, segundo o organismo.

No boletim, o Bundesbank diz ainda que o fator decisivo para evitar um impacto mais profundo é a rapidez com que os consumidores e as empresas regressam à normalidade depois do relaxamento das restrições, não só no caso da Alemanha, mas também de todos os países com os quais tem ligações estreitas. 

Apesar de tudo, para os economistas do Bundesbank, esta tendência de queda não se deverá intensificar por si própria, porque os sistemas de segurança social, os estímulos monetários do Banco Central Europeu (BCE) e as medidas de apoio fiscal do governo alemão “se opõem a esse cenário”.

A entidade acredita que os setores mais afetados pela queda de faturação devido ao encerramento de empresas, lojas e outras medidas são a restauração, os agentes de viagens, outros serviços de cultura e o setor têxtil.

A queda de consumo nestes segmentos fez contrair o PIB em mais de um ponto percentual no que diz respeito ao primeiro trimestre do ano, de acordo com a instituição.

Os pedidos de subsídio de desemprego dispararam no mês passado e agora são os mais elevados desde a crise de 2009, refere a Efe.

A nível global, a pandemia de Covid-19 já provocou mais de 164 mil mortos e infetou mais de 2,3 milhões de pessoas em 193 países e territórios. Mais de 525 mil doentes foram considerados curados.

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