Covid-19: Governo diz que apoios promulgados por Marcelo têm efeito "perverso e injusto" - TVI

Covid-19: Governo diz que apoios promulgados por Marcelo têm efeito "perverso e injusto"

Ana Mendes Godinho

Ana Mendes Godinho falou na apresentação dos mais recentes dados sobre os apoios sociais

A ministra do Trabalho, da Solidariedade e da Segurança Social fez esta sexta-feira um balanço dos apoios sociais dados pelo Governo em contexto de pandemia de covid-19.

Relembrando que as medidas extraordinárias tem como objetivo o apoio aos trabalhadores e famílias mais fragilizadas, Ana Mendes Godinho revelou que 2,8 milhões de pessoas foram abrangidas pelos apoios pagos. Quanto a empresas, foram 172 mil abrangidas no âmbito de medidas de apoio ao emprego, num total que ronda os 3,4 mil milhões de euros pagos até ao momento.

Se olharmos de uma forma mais detalhada, dividindo entre apoio ao emprego e apoios de prestações sociais, temos cerca de um milhão de trabalhadores abrangidos pelo apoio ao emprego, o que significa que um em cada quatro trabalhadores do setor privado em Portugal foi abrangido por estas medidas", vincou.

O subsídio de isolamento profilático, atribuído aos trabalhadores que ficam impedidos de trabalhar por estarem em quarentena, abrangeu 419 mil pessoas com pagamento a 100%. Já o complemento de estabilização chegou a 353 mil trabalhadores, com os apoios aos trabalhadores independentes a atingirem os 187 mil.

Com o Orçamento de Estado de 2021 procuramos reforçar os instrumentos que já tínhamos tido em vigor em 2020. A grande preocupação foi responder por um lado, aos rendimentos dos trabalhadores, onde tivemos um processo de diálogo com os partidos da assembleia. Tivemos um reforço do pagamento para garantir que os trabalhadores que estavam em lay-off simplificado ou apoio à retoma passassem a receber 100% em vez de uma parte do salário”, feforçou a ministra..

Promulgação de Marcelo foi "perversa e injusta"

A ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, disse que a alteração aos apoios sociais feita pelo parlamento e promulgados pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, têm um "efeito perverso e injusto".

A alteração que foi aprovada em sede de apreciação parlamentar o que faz, essencialmente, é alterar de uma forma e com um efeito perverso e injusto o sistema de apoios e o sistema de proteção no âmbito da Segurança Social", disse Ana Mendes Godinho em conferência de imprensa de balanço dos apoios sociais, que decorreu no Ministério do Trabalho, em Lisboa.

De acordo com a governante, a alteração vai "indexar o apoio ao valor da faturação do trabalhador e não ao rendimento relevante para a Segurança Social", passando a estar "completamente desligado das contribuições feitas no passado para a Segurança Social".

Consagra um valor igual da prestação para pessoas que descontaram sobre 70% ou para pessoas que descontaram sobre 20% da faturação que tiveram", não havendo mudanças no universo de pessoas abrangidas, disse a ministra.

Ana Mendes Godinho acredita que "não houve ainda a perceção, e as pessoas não perceberam exatamente o que é que está aqui em cima da mesa".

Segundo a minstra, o impacto nas contas da Segurança Social ao alterar o método de contabilização do apoio será de 40,4 milhões de euros.

Apesar de não alargarem substancialmente o universo de beneficiários, os apoios poderão fazer aumentar em algumas centenas de euros o valor recebido mensalmente pelas pessoas.

Num caso prático apresentado, um trabalhador independente com faturação de 665 euros, em 2020, que venda bens e descontado 28 euros, e outro apenas prestador de serviços que tenha descontado 100, irão receber ambos um apoio de 665 euros.

Isto é uma alteração profunda entre o sistema de contribuição das próprias pessoas, e uma injustiça entre o esforço que estamos todos a fazer", afirmou acerca dos apoios que poderão a vir a aumentar em algumas centenas de euros o montante recebido pelos trabalhadores independentes.

A ministra salientou ainda os problemas administrativos que a implementação da medida coloca, já que a faturação apenas é do conhecimento das Finanças e não da Segurança Social.

Os diplomas aprovados pelo parlamento alteraram o período de referência da atribuição, estabelecendo que, para efeitos dos cálculos dos apoios, seja “considerado o rendimento médio anual mensualizado do trabalhador no ano de 2019”, e não os últimos 12 meses, como estava estabelecido.

Ao ter como período de referência os úlitmos 12 meses, muitos beneficiários viam o cálculo a ser feito relativamente a 2020, ano de pandemia, em que já se verificou uma diminuição genérica da atividade económica.

O primeiro-ministro anunciou na quarta-feira que o Governo vai suscitar a fiscalização sucessiva junto do Tribunal Constitucional dos diplomas sobre apoios sociais, no âmbito da epidemia de covid-19, aprovados pelo parlamento e promulgados pelo Presidente da República.

Governo não quer ninguém prejudicado com novos apoios

A ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, disse que o Governo não quer prejudicar ninguém na implementação da alteração aos apoios sociais, ajustando o valor à maior faturação de referência, seja 2019 ou 2020.

O Governo o que pensa fazer é garantir que até possa ser o valor superior, para que ninguém, com esta alteração agora aprovada, fique a receber menos", disse Ana Mendes Godinho numa conferência de imprensa de apresentação do balanço dos apoios sociais, que se realizou hoje no Ministério do Trabalho, em Lisboa.

De acordo com a ministra, com a alteração legislativa que altera o período de referência de cálculo dos apoios para a faturação de 2019 em vez dos últimos 12 meses (o que em 2021 faria com que o ano de faturação fosse 2020, ano com efeitos económicos da pandemia) "poderá dar alterações que para uma pessoas dará mais e para outras pessoas dará menos".

Apesar de referir essa possível situação, a ministra calculou em 40,4 milhões de euros de despesa o impacto das alterações legislativas votadas por todas as bancadas exceto o PS e já promulgadas pelo Presidente da República, e que o primeiro-ministro já anunciou que levará a fiscalização sucessiva no Tribunal Constitucional por violação da chamada 'lei-travão' do Orçamento do Estado.

Ana Mendes Godinho disse ainda que a prestação média dos apoios aos trabalhadores independentes no âmbito do apoio entretanto alterado foi inferior em dezembro de 2020 à de fevereiro de 2021.

Apesar da nova medida não alterar substancialmente o universo de beneficiários, como a fórmula de cálculo se altera (passando para a faturação em vez das contribuições para a Segurança Social), várias pessoas poderão ver a prestação melhorada em algumas centenas de euros.

Com esta alteração, não podemos deixar que ninguém que tenha recebido mais passe a receber menos", disse ainda a ministra.

Questionada acerca do número de beneficiários do Apoio Extraordinário ao Rendimento dos Trabalhadores (AERT) e se o diferendo com o Presidente da República não evidencia um caráter restrito da medida, a ministra disse que "foi criado como uma medida residual que respondesse a todas as pessoas que estivessem em situação de desproteção".

O AERT foi criado como um instrumento para quem não estava a ser abrangido por outras medidas", como quem viu terminado o subsídio de desemprego e social de desemprego, trabalhadores informais, ou independentes e sócios-gerentes com quebra de faturação em 2021", afirmou.

"Com este universo, neste momento, em janeiro e fevereiro, temos 202 mil pessoas abrangidas" por apoios sociais, correspondentes a 122 milhões de euros, disse a ministra, referindo-se ao universo que o AERT pretende abranger, que totaliza 250 mil pessoas conforme previsto no Orçamento do Estado.

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