Covid-19: uma em cada quatro pessoas de famílias que ganhavam até 650 euros perdeu todo o rendimento - TVI

Covid-19: uma em cada quatro pessoas de famílias que ganhavam até 650 euros perdeu todo o rendimento

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  • 9 mai 2020, 08:32

Estudo da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) divulgado este sábado indica que as consequências económicas da doença afetam "desproporcionalmente os grupos mais vulneráveis". Os investigadores consideram os resultados obtidos “bastante preocupantes”

Uma em cada quatro pessoas cujo agregado familiar ganhava até 650 euros perdeu totalmente o seu rendimento desde o início da pandemia da Covid-19, revela um inquérito da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) divulgado este sábado.

"nas categorias de rendimentos superiores a 2.500 euros, apenas 6% de pessoas perderam o seu rendimento”, adiantam os dados do "Opinião Social", o questionário do Barómetro Covid-19 da ENSP que acompanha semanalmente a perceção dos portugueses da pandemia.

O estudo alerta que “as consequências económicas da doença e do confinamento, como o desemprego ou redução das fontes de rendimento, podem afetar desproporcionalmente os grupos mais vulneráveis” e considera os resultados obtidos “bastante preocupantes”.

Segundo o estudo, a diminuição do rendimento desde o início da pandemia “não foi igualmente partilhada pelas diferentes classes de rendimento, assistindo-se a uma perda crescente nas categorias mais baixas”.

Mais de metade (52%) dos inquiridos referiram não ter perdas de rendimento, mas no grupo de pessoas cujo agregado familiar auferia entre 651 e 1.000 euros esta percentagem desce para 44%, subindo para 75% entre aqueles que o agregado recebe mais de 2.500 euros.

Os dados preliminares parecem indicar que a infeção por Covid-19 é marcadamente desigual, afetando de forma mais acentuada os concelhos e países que já têm um perfil socioeconómico mais precário e podendo mesmo exacerbar as vulnerabilidades socioeconómicas pré-existentes ao nível individual”, sublinha.

A investigadora Joana Alves afirmou que “quem trabalha as desigualdades em saúde já sabe de estudos anteriores que existem diferenças sistemáticas de saúde entre as pessoas de diferentes níveis sociais”.

O barómetro quis perceber se também havia desigualdades na distribuição do número de casos de Covid-19 ao nível dos concelhos em Portugal e em alguns países europeus.

“Em termos de resultados obtivemos três níveis de evidência”, sendo o primeiro a nível nacional, em que se observou que “os concelhos com maior densidade populacional, com maior taxa de desemprego, com menor média de rendimento e maior desigualdade de rendimento eram também aqueles concelhos que tinham o maior número de casos de Covid-19”, sublinhou Joana Alves.

A nível internacional, confirmou-se que “os países com maiores desigualdades de rendimento e maiores taxas de desemprego eram aqueles também onde existia a maior incidência acumulada de casos por 100 mil habitantes”.

Por fim, a nível individual, constatou-se que "as consequências económicas e sociais da pandemia não estão a ser suportadas de uma forma igual pelos diversos agregados familiares", disse Joana Alves, explicando que é como se fosse “uma escada social” em que os que “tinham menores níveis de rendimento eram também aqueles que sofriam as maiores perdas desde o início da pandemia”.

O estudo refere que as condições socioeconómicas também podem ter “uma influência significativa no risco de infeção”, explicando que “a falta de compreensão em algumas camadas populacionais” sobre como se propaga a doença pode dificultar a adoção de medidas como a etiqueta respiratória, higienização das mãos ou o uso apropriado de máscara.

Por outro lado, o trabalho precário e a dificuldade de acesso a apoios sociais podem impedir que as pessoas se resguardem mais em casa para se protegerem do vírus. “Trabalhos que não podem ser realizados à distância” ou “a necessidade de continuar a fazer pequenos trabalhos para garantir a subsistência" sujeitam as pessoas a uma maior exposição à infeção.

O estudo aponta ainda que os concelhos com mais médicos por mil habitantes têm um maior número de casos diagnosticados face aos restantes.

Para Joana Alves, “é necessário reforçar a capacidade de os países se organizarem numa definição de políticas conjuntas de saúde e económicas de combate à pandemia” para que “não se agravem as desigualdades entre os países com consequências para todos”.

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