ONU: FMI percebeu tarde que austeridade estrangula - TVI

ONU: FMI percebeu tarde que austeridade estrangula

Lagarde

Corte de salários e do investimento público «só vai deprimir a procura e rentabilidade»

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O FMI percebeu tarde que a austeridade e as «falácias da consolidação orçamental» nos países mais endividados têm estrangulado a retoma global. É o que defende o secretário-geral adjunto das Nações Unidas para o Desenvolvimento Económico.

Falando na terça-feira nas «reuniões de primavera» do Conselho Económico e Social das Nações Unidas, em Nova Iorque, Jomo Kwame Sundaram contrastou a austeridade proposta pelo FMI com os «consistentes» avisos das agências da ONU para os riscos «das medidas de austeridade severas atualmente a ser prosseguidas na Europa» e a defesa de investimentos estimuladores da economia e competitividade.

O FMI definiu erradamente como prioridade a consolidação orçamental, quando a economia global dava sinais ténues de retoma, mas reconsiderou mais recentemente «depois de ver, em meados de 2009, os primeiros rebentos da retoma cortados na rama por medidas de austeridade prematura».

Sublinhando a inflexão, o responsável apontou para uma declaração recente da diretora-geral do FMI, Christine Lagarde, avisando os líderes políticos europeus do perigo de queda numa «espiral descendente que envolveria todo o mundo».

«Estaremos a falhar a nossa geração se não mostrarmos o caminho da saída, enquanto os líderes governamentais olham nervosamente por cima do ombro para ver como os mercados financeiros os vão julgar», disse o principal economista da ONU.

Sundaram falava numa pouco participada reunião sobre a situação económica internacional, em que FMI e Banco Mundial não se fizeram representar ao mais alto nível.

Agências da ONU como a DESA (Assuntos Económicos e Sociais) e UNCTAD (Comércio Internacional) têm defendido nos últimos anos o reforço do investimento e comércio como saída para crise e a prioridade no combate ao desemprego, a par de maior coordenação internacional na definição e implementação de políticas.

Para Sundaram, têm sido as «falácias da consolidação orçamental a impedir e continuar a ameaçar uma retoma robusta e sustentada».

«Os esforços para expandir a confiança dos investidores podem ser equívocos numa economia global deprimida». O responsável criticou o corte de salários e investimento público, que «só vai deprimir a procura e rentabilidade».

«As duras medidas de austeridade implementadas nalgumas partes do mundo afetam adversamente a retoma económica, o crescimento de longo prazo, as perspetivas de emprego e a estabilidade política e social. E dificilmente a procura deprimida e maior instabilidade exacerbada pela austeridade fiscal podem inspirar investidores».

A crise atual «é tanto uma crise de receita fiscal como de dívida», pelo que deve ser dada prioridade ao aumento de capacidade de coleta fiscal.

«Os governos precisam de gastar para impulsionar a procura privada a curto prazo, investindo em infraestruturas, energias renováveis, produção alimentar, saúde, educação e proteção social. Tudo isto estimula capacidade produtiva a longo prazo».

Contra o «falhado Consenso de Washington», os «investimentos apropriados» vão estimular o capital privado «necessário à criação de emprego e retoma».

Na mesma reunião, Rob Vos, diretor de Políticas de Desenvolvimento e Análise Económica da DESA, defendeu que a saída para a crise tem «três palavras-chave: emprego, emprego e emprego».

«Na prática, a definição de políticas está focada em resolver primeiro os problemas financeiros, esperando que os empregos venham depois. O ponto é que temos de atacar a crise empregos já, senão a crise financeira será mais difícil de resolver».

Para Vos, a «persistente crise de empregos» é o «calcanhar de Aquiles da retoma» económica global, que exige «estímulos de curto prazo, internacionalmente coordenados, focados na criação de emprego e investimento», em vez de «austeridade fiscal prematura».
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