A razão é "muito simples", mas foi difícil a António Domingues conseguir explicar porque é que se demitiu. Não por não ter argumentos para apresentar ou por não lhe terem perguntado. Tanto PS como PSD, primeiros a intervir, fizeram a pergunta, só que não foi a primeira na lista de 15 cada um. O banqueiro foi respondendo por ordem, os tempos de resposta na Comissão de Finanças foram afunilando e só ao segundo partido é que conseguiu começar a desvendar o motivo. "A razão é muito simples...." Aí a presidente da mesa, Teresa Leal Coelho, cortou-lhe a palavra, precisamente por ter esgotado outra vez o seu tempo. A sala encheu-se logo de burburinho e ansiedade. Já só em resposta ao BE, mais de uma hora depois do início da audição, chegou a tão esperada explicação.
Muito simples: eu ia ficar sem equipa. Como sabe dos 11 membros do conselho de administração demitiam-se sete e se considerar o conselho fiscal em 15, demitiram-se nove. Sem equipa, teria dificuldade em gerir a Caixa".
Colocou logo de seguida a questão que sabe que lhe colocariam: se saíam uns, poderia substituí-los por outros novos gestores. Mas sentiu não ter condições para continuar.
"Dada a forma como debate e a discussão foi conduzido e implicações que este teve - e não vou alongar sobre isso - senti que não tinha condições para o fazer. A primeiras respnsabilidade de um gestor é ter condições para gerir uma empresa. No meu melhor juízo, entendi que não tinha condições para o fazer", continuou.
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Governo "deixou de ter condições" para cumprir o acordado
Domingues continua a defender que para recrutar os melhores profissionais para gerir a Caixa Geral de Depósitos, o estatuto de gestor público é um obstáculo". "Quer queiramos quer não é barreira que existe, não vale a pena pôr cabeça na areia". "Mas evidentemente lei é lei. O acionista [Estado] e seus representantes [ministro das Finanças] decidiram o que entenderam. Quando me perguntaram se estava zangado eu disse 'por amor de Deus, quem manda na empresa é acionista, tem o direito a tomar decisões e a mudar de opinião"-
Ou seja, subentende-se que quer dizer que o Governo mudou de opinião quanto ao estatuto de gestor público e, por essa via, quanto à não entrega das declarações de rendimentos e património, condição que Domingues impôs para aceita o cargo. "Se me dissessem que não eu ia à minha vida", disse antes aos deputados. Mais à frente foi mais claro, depois de um deputado do PSD ter voltado a questioná-lo sobre o assunto.
"Gota de água? Não consigo situar-me nesses termos. Tinha havido alteração de circunstâncias e governo tinha deixado de ter condições políticas para continuar a cumprir [o acordado].
Diz que respeita que tenha havido uma mudança de posição. "Eu tenho direito, eu próprio, de manter a minha opinião, os meus objetivos, as minhas responsabilidades". Ficou também expresso, perante o Parlamento, que "gostava muito de continuar" na Caixa.
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