Cerca de uma centena de trabalhadores da Saint-Gobain manifestaram-se hoje, em Lisboa, contra o despedimento coletivo de 130 funcionários e lamentaram não terem sido recebidos pelo primeiro-ministro, António Costa, prometendo intensificar a luta.
Pelas 10:35, os trabalhadores, as suas famílias e membros dos sindicatos representativos juntaram-se no Largo de Santos, em Lisboa, seguindo em direção à residência oficial do primeiro-ministro, ao som de apitos, buzinas e palavras de ordem, como “Costa, escuta, os vidreiros estão em luta”.
Uma delegação representativa dos trabalhadores e dos sindicatos acabou por ser recebida na residência oficial, mas a reunião, que durou poucos minutos, não contou com a presença de António Costa.
“Não fomos recebidos por quem pedimos a audiência, que era o primeiro-ministro [António Costa]. Não fomos recebidos sequer por um assessor ou um chefe de gabinete. Concluímos que este Governo fala, mas quando é hora de aparecer não está presente”, lamentou a coordenadora da Federação Portuguesa dos Sindicatos da Construção, Cerâmica e Vidro (FEVICCOM), Fátima Messias, em declarações à Lusa.
De acordo com a dirigente, os trabalhadores “não deixarão de registar esta atitude”, prometendo avançar com novas formas de luta para defender a empresa e os postos de trabalho.
Os trabalhadores têm-se concentrado diariamente junto à fábrica de Santa Iria, há cerca de um mês, em defesa dos postos de trabalho e também já estiveram em frente aos ministérios do Trabalho e da Economia.
A FEVICCOM tem uma reunião, na segunda-feira, no Ministério do Trabalho, com os secretários de Estado do Emprego e Adjunto do ministro da Economia para discutir esta situação.
“Vamos estar reunidos com os secretários de Estado face à luta e à pressão que os trabalhadores fizeram nas últimas deslocações a Lisboa. Da parte do principal responsável do Governo, não houve essa atenção, nem sequer essa consideração por esta justa luta. A reunião com o primeiro-ministro está pedida desde 25 de agosto”, apontou Fátima Messias.
Na quarta reunião para discutir o despedimento coletivo na Saint-Gobain, na sexta-feira, a empresa apresentou propostas de recolocação para cerca de uma centena de trabalhadores e aumentou o valor das suas indemnizações, mas reiterou a irreversibilidade da decisão de encerramento da atividade produtiva em Santa Iria.
Contudo, esta proposta está aquém das reivindicações dos trabalhadores, que pedem agora a intervenção do executivo.
“A empresa, nesta última reunião, apresentou uma lista com algumas possibilidades de recolocação de emprego para um conjunto de trabalhadores, mas o que os trabalhadores da Saint-Gobain Sekurit Portugal querem é a manutenção de todos os postos de trabalho e o retomar, o quanto antes, da atividade na unidade de Santa Iria”, disse hoje à Lusa Pedro Milheiro do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Vidreira (STIV).
O também membro da comissão de trabalhadores (CT) da Saint-Gobain Sekurit Portugal referiu que a empresa tem dito, “desde a primeira hora”, que a decisão da multinacional francesa “está tomada e é irreversível”, notando que os vidreiros continuam a acreditar que é possível manter os postos de trabalho e a atividade.
“Está aqui em causa uma decisão estratégica e política da multinacional francesa para deslocalizar a produção feita em Portugal para outras unidades em outro país. É contra este crime económico e social que estão a levar a cabo que estamos em protesto há mais de um mês”, vincou, lembrando que os trabalhadores reclamam “uma intervenção urgente e séria, por parte do Governo, na defesa dos interesses nacionais”.
Em Portugal, o Grupo Saint-Gobain emprega cerca de 800 trabalhadores distribuídos por 11 empresas e oito fábricas e totaliza um volume de faturação correspondente a 180 milhões de euros.
O processo negocial no âmbito do despedimento coletivo na Saint-Gobain Sekurit Portugal prossegue na terça-feira.
A decisão de encerramento da atividade produtiva da empresa e o consequente despedimento coletivo dos 130 trabalhadores foi anunciada no dia 24 de agosto.