Rendas: «Não temos direito a viver os últimos anos em descanso?» - TVI

Rendas: «Não temos direito a viver os últimos anos em descanso?»

Inquilinos reformados até concordam que rendas antigas sejam atualizadas, mas não para os valores que os senhorios estão a propor

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Alguns ouvem dizer que os aumentos das rendas vão ser brutais e dão esse cenário como adquirido. Manifestaram-se esta quinta-feira, frente ao ministério de Assunção Cristas. 300 pessoas, a maioria reformados. Também há quem já tenha sido confrontado com o correio maldito e acuse os senhorios de exigirem em vez de proporem. Até encontrámos quem tem casa própria e ali estava, solidário.

«Ainda não me mandaram carta nenhuma, mas se vão aumentar como ouço dizer... Pago 56 euros de renda. A pensão é de 525 euros, a minha mulher ganha 125. Gasta tudo e não chega para farmácia e médicos», disse ao tvi24.pt Diamantinho Jesus, 78 anos. Concorda com uma atualização até 100%, no seu caso. «Agora pagar 300 ou 400 euros, não. Mais a água, luz, telefone, comer, gastos com saúde. Como é que eu posso viver? Vamos para a rua?».

Este é o receio de todos, sem exceção, passados os cinco anos do período de transição, para quem tem mais de 65 anos. Outra senhora, com 76, teme isso mesmo, daqui a cinco anos. Está naquela casa há 54. Nem conhece o senhorio, que agora só aumentou a renda em um euro, para 39.

«Ele é muito esperto. Nunca fez uma obra. O meu marido já lhe escreveu uma carta há muito tempo a dizer que aumentasse a renda para fazer obras e ele não deu resposta». Está convencida que o propósito é metê-los dali para fora, daqui a cinco anos. Questionada sobre se sabe que o Estado poderá subsidiar a renda depois desse período, responde: «Acredita nisso? Eu não acredito».

Maria Teresa Garcia, 70 anos, fala em «desumanidade». «Não digo que não aumentem, mas não pode ser assim indiscriminadamente. As pessoas não têm direito a viver os últimos anos da sua vida em descanso? Querem que vá tudo para debaixo da ponte?». E o seu caso nem é dos piores: paga 250 euros. A pensão «não chega aos mil euros». Desabafa: «Abençoado fosse o Salazar que, ao menos, tinha respeito pelos portugueses». A outra senhora mete o travão: «Não, isso não».

O senhor Salgueiro e a dona Aurora, 65 e 63 anos, casados, estão ali sobretudo por um casal de família que aufere 500 euros por mês. «Doentes como são, ficam sem comer e sem dinheiro para medicamentos. A não ser que esta ministra, em conformidade com o Governo, queira matar os velhos todos, para poupar nas reformas».

Carolina Lopes, 62, diz que já foi «roubada» duas vezes na pensão. Agora recebe 1.600 euros brutos. Mas tem o marido incapacitado em 80%, com uma reforma baixa. Paga 141 euros de renda. A exigência do senhorio é passar para os 400. Diz que, no máximo, só pode pagar 250. «Mandaram-me a carta, mas nem mandaram o valor do andar nem nada. Foi só a dizer a partir de agora tem de pagar 400 euros. Não aceito de maneira nenhuma. Eles sabem a lei, mas ignoram».

Elsa Marques tem casa própria, mas compreende o lado dos inquilinos. «Há idosos que não sabem ler e que só tinham os 30 dias para poder contestar». E muitos, acredita, já não irão a tempo.

Sónia Araújo, 49 anos, a mais nova inquilina com quem falámos, estava acompanhada da filha. Propuseram-lhe um aumento de 61 para 700 euros. «Já reclamei, mas não foi aceite. O senhorio teima em que ou saio ou pago». Apresentou o IRS como prova do baixo rendimento ¿ tem um negócio há um ano que não está a correr bem -, mas não serviu de nada. «Deu-nos um prazo de seis meses para sairmos».

Anabela, 56 anos, paga 215€. «Agora pediu-me 400 e um ano de contrato. Recusei. Não tenho o rendimento que é exigido: recebo 615 e corro risco de desemprego, porque estou na restauração. Depois, todas as obras da casa onde resido há 40 anos foram feitas por mim. Não consigo admitir que agora me venham dar um ano para sair de casa».

Mas «se o senhorio meter isso na cabeça, há todas as hipóteses para despejo», alegando obras de fundo, por exemplo. «Há pessoas que pagam uma ninharia de renda, mas vamos com calma. Não vamos pô-las a dormir na rua. Já há muitas a dormir aqui no Terreiro do Paço».
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