O Banco Central Europeu decidiu manter as taxas de juro de referência em 0% e surpreendeu ao anunciar que vai comprar 60 mil milhões de euros em dívida pública entre abril e dezembro do próximo ano. As bolsas estão a recuperar ainda mais depois do anúncio, sobretudo as praças dos países periféricos, como Portugal, que muito têm beneficiado destas compras do BCE que têm, ainda, a vantagem de permitir baixar as taxas cobradas pelos investidores no mercado para investirem na nossa dívida.
Os analistas antecipavam que o programa de estímulos, que estava previsto terminar em março, fosse prolongado só até setembro. Afinal vai durar mais tempo, mas o rtimo mensal de compras vai abrandar a partir de abril.
Isto porque atualmente o BCE tem no orçamento 80 mil milhões de euros para gastar por mês até ao final de março de 2017, mas a partir do mês seguinte decidiu então reduzir a verba 60 mil milhões de euros mensais.
O BCE adiantou desde já, porém, que o prazo final de dezembro do próximo ano poderá ser ultrapassado “se for necessário e, em qualquer caso, até que o Conselho de Governadores considere um ajustamento sustentado no caminho da inflação, coerente com o seu objectivo de inflação”, lê-se em comunicado.
Já o facto, expectável, de ter mantido as taxas de juros inalteradas em mínimo históricos, tem como objetivo continuar a impulsionar a economia e a inflação na zona euro.
Na prática, as taxas de juros praticadas pelo BCE com os bancos da Zona Euro continuarão em 0% para os empréstimos regulares à banca. Já para os depósitos que as instituições financeiras façam junto do supervisor a remuneração será de -0,4%.
Valores que estão para ficar. “O Conselho de Governadores continua prever que as taxas de juros principais do BCE permaneçam nos níveis actuais, ou mais baixos, por um período prolongado, e que ultrapassará o horizonte da compra de ativos líquidos”.
Mercados a digerir
A expectativa que o BCE prolongasse os estímulos já estava a ter impacto nos mercados. Por antecipação, as últimas sessões foram logo de recuperação considerável, apesar de esta ter sido uma semana crítica, a nível político, com a crise italiana.
A primeira reação às decisões do supervisor europeu está a ser positiva nas bolsas, com Milão a sustentar mais os ganhos para 1,3%, Madrid 1,1%, Lisboa 0,65%, Frankfurt 0,54% e Paris 0,43%.
Os bancos italianos estão a disparar 5,7%, no nível mais alto desde junho, a beneficiar da promessa do BCE de comprar dívida italiana em caso de necessidade. A recuperação vem de há três dias, mas a escalada continua hoje.
O euro está no valor mais alto em seis meses face ao iène, tem a melhor valorização dos últimos dois em relação ao franco suíço. Também em relação ao dólar regista uma recuperação para o melhor nível em duas semanas.
No entanto, as Obrigações soberanas da zona euro estão a agravar-se, a denotar desilusão dos investidores com a quebra de ritmo das compras do BCE a partir de abril. Os juros da dívida portuguesa a 10 anos agravam sete pontos base para 3,53%, em Espanha a subida é de oito pontos para 1,50%. Na Alemanha, que serve de referência, mais ainda - uma subida de nove pontos base para 0,42%, máximos desde janeiro deste ano.
Resta agora esperar pelas declarações do presidente do BCE por volta das 13:30. Mario Draghi poderá enfatizar o risco abundante, incluindo as eleições em potencialmente quatro das cinco maiores economias da zona euro no próximo ano, para argumentar que a redução prematura da oferta de títulos poderia abortar uma recuperação que ainda tímida, desfazendo o impacto das compras.
Ainda assim, como grande parte do seu poder de fogo está esgotado, este abrandamento no valor a gastar pode ser considerado como um sinal simbólicode que um dia elas irão acabar. Uma coisa é certa: não será ainda em 2017.