Rating: O que é isso? Portugal vai melhorar? - TVI

Rating: O que é isso? Portugal vai melhorar?

Mercados

Fitch deve manter a notação portuguesa e a perspetiva estáveis. A questão é por quanto tempo. O Governo diz que o investimento está a crescer mais. Resta saber se será o suficiente para nos permitir reduzir mais dívida e recuperar a confiança dos mercados

Portugal tem um longo caminho para percorrer em matéria de ‘rating’ da dívida, – um indicador determinante nas opções de quem investe na dívida do nosso país, sobretudo empresas, fundos e bancos - para a conseguir retirar da classificação que a deixa pouco apetecível os olhos de potenciais investidores.

Qualquer país ambiciona boas avaliações por parte das agências internacionais de ‘rating’ - DBRS, Fitch Ratings, Moody’s e Standard & Poor’s - para que mais investidores possam estar dispostos a arriscar na compra de dívida desses Estados.

No caso português, e não está sozinho nisso, a realidade não é a desejável. Atualmente só a DBRS não tem o país na categoria de “lixo”.

Agência Longo prazo notação Outlook
DBRS BBB (low) Estável
Fitch Ratings BB+ Estável
Moody’s Ba1 Estável
Standard & Poor’s BB+ Estável

Fomos perceber quais os fatores que pesam mais para que o cenário não seja animador no curto prazo (dois, três anos) e muito menos a longo prazo, caso não venha a existir mais investimento produtivo em Portugal. Um investimento que permita aumentar o crescimento económico, além das receitas de turismo e da maior pujança em alguns setores exportadores. Serão estas as chaves para podermos pagar dívida, se não temos que a renegociar ou ser perdoada. 

O Governo mantém-se otimista e o primeiro-ministro, António Costa, assegura que estamos no bom caminho, com o investimento a subir mais e os problemas da banca em vias de resolução.

Um otimismo que, para já, não muda nada nos tais 'ratings'. Esta sexta-feira não é expetável que a Fitch altere a sua posição.

A Fitch deve manter o ‘rating’ inalterado em ‘lixo’, abaixo do grau de investimento, e não deve subir, nem descer, o ‘outlook’”, disse à TVI24 o administrador da Dif Broker, Pedro Lino.

 

Há várias razões para que tal aconteça: a incerteza em torno do Brexit; a subida dos juros nos Estados Unidos [que deste lado tem, geralmente, repercussões dois anos depois] e a incapacidade de crescer [que a tendência protecionista vinda dos EUA pode piorar, já que pode obrigar à procura de novos mercados, no caso de economias abertas como a nossa”, justificou.

Mas as manutenções do ‘rating’ e da perspetiva para a dívida podem ser, nesta fase, um bom sinal já que “depois de o Banco de Portugal ter divulgado dados sobre o aumento da dívida pública líquida portuguesa – que aumentou a um ritmo superior à subida do produto – qualquer réstia de esperança de melhoria ficou afastada”, referiu o diretor de Investimentos do Banco Carregosa, João Pereira Leite, à TVI24. Ontem o Banco de Portugal anunciou que a dívida bruta do país ficou nos 241,4 mil milhões em 2016.

 

Ou seja, se é verdade que a tendência da dívida é de manutenção, também é verdade que o valor continua elevado e mesmo assim, por parte da Fitch não se teme pior.

Olhando para as contas oficiais (OE 2016 e OE 2017) e para as previsões de evolução da economia portuguesa, não há uma evolução suficientemente negativa que justifique a alteração da posição atual que, recorde-se, foi de retirar a perspetiva positiva. O apoio do BCE [Banco Central Europeu], essencial, mantém-se, pelo que também por aí não há motivos para uma mudança da notação e Outlook. A subida das taxas em mercado secundário, que o IGCP acabou por concretizar com uma emissão feita recentemente, é uma ameaça, mas ainda não estamos em níveis que justifiquem uma mudança de posição das agências”, acrescentou Filipe Garcia, economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros num comentário que, pelo menos, não deixa antever pior cenário – o da descida pela Fitch.

E com o Governo apostado em passar uma mensagem positiva, só temos que esperar que os números dos próximos dois, três anos acompanhem tal entusiasmo.

O peso da dívida em percentagem do Produto [daquilo que produzimos] é uma das grandes preocupações das agências. Se não geramos riqueza como pagamos o que devemos? Em nada diferente das contas que fazemos lá em casa todos os meses. Investir, investir, investir é a palavra de ordem do Governo. Para inverter, ainda mais, a tendência de queda verificada ao longo dos últimos anos.

Mas nada disso se avizinha fácil. Fazer crescer Produto Interno Bruto (PIB) acima de 3% é quase "a missão impossível" e como não estamos sozinho a conjuntura externa pode dificultar. E no meio disto tudo está a dívida.

Há duas dimensões que podem afetar o 'rating' da dívida portuguesa, uma externa e outra interna. Quanto aos fatores externos, as agências estão a olhar para a subida das taxas de juro da dívida em geral, e para as compras de ativos do BCE, que incluem dívida pública portuguesa”, esclarece João Pereira Leite.

No que diz respeito à dimensão interna "as agências estão particularmente atentas ao saldo da balança de pagamentos, ao saldo do défice das contas públicas e à dinâmica de crescimento do rácio divida pública/PIB”, acrescenta.

O PIB não sobe acima dos 2% [dificilmente passará os 1,5% em 2017] e o ‘stock’ da dívida continua a subir, mesmo que estável em cerca de 130% do produto”, frisa Pedro Lino.

Para Filipe Garcia, em termos estruturais, o binómio “dívida elevada” versus “baixo crescimento”  é muito preocupante para as agências e o facto de, por isso, “a capacidade de financiamento externo de Portugal estar agora muito dependente da política monetária do BCE”.

A situação da banca, em particular do Novo Banco, é outra das preocupações fortes das casas de notação financeira.

Há uma especial atenção à evolução da CGD por motivos óbvios e também ao desfecho do dossier Novo Banco dadas as garantias do Estado que podem ter de ser dadas”, acentua Filipe Garcia.

 

O sistema financeiro continua vulnerável tanto a nível nacional como internacional. Temos o problema da capitalização da CGD, da venda e capitalização do Novo Banco, da incerteza em torno do Montepio e da forma como será resolvido o crédito malparado”, diz o administrador da Dif Broker.

Para concluir que: “Em termos internacionais, o fato da Itália ter um buraco na banca de 340 mil milhões de euros e Portugal, pelo malparado, pela dívida e pelo fraco crescimento, estar muito conectado com aquele país, também não ajuda”.

Então como saímos de “lixo”?

Os receios das agências ficam depois espelhados nos juros da dívida portuguesa - a famosa 'yield', taxa de rentabilidade da dívida-  sobretudo, na maturidade mais longa, a 10 anos, que voltaram a passar a barreira dos 4%.

 

 

Os investidores estão a sair da nossa dívida porque a consideram de maior risco tendo em conta o fraco crescimento, dívida elevada, pouco investimento produtivo. O nosso crescimento não pode continuar a vir só do turismo, vistos gold e algumas exportações”, reforça Pedro Lino, voltando a dar destaque à componente do investimento.

Para sairmos daqui, Filipe Garcia está convencido que é essencial que Portugal revele "uma trajetória de redução da dívida nominal".

Mas mostra-se pouco otimista: "Como é muito difícil que o crescimento do país consiga acelerar para ritmos de 3% ou 4%, só a redução da dívida poderá permitir ao país poder fugir de uma escalada nos juros e uma subida espiral da dívida. Não é uma descrição agradável, mas é a realidade. Seria também importante que as taxas de juro internacionais não subissem (porque o nosso spread tem alargado, mas ainda por cima em relação a uma base mais alta), mas isso depende pouco de Portugal”.

Seria a combinação de vários fatores: o PIB crescer mais rapidamente do que a dívida pública, a desalavancagem de outros agentes económicos, a retoma do investimento - que é a rúbrica do PIB que mais caiu desde a crise de 2008 e que está associada ao crescimento do emprego sustentável”, acrescenta João Pereira Leite.

Sobre o resto do ano, os especialistas também se revelam pouco confiantes. Portugal está vulnerável à subida dos juros nos mercados internacionais e a alterações de política monetária do BCE, diz Filipe Garcia.

No próximo diz 21 de abril será a vez da DBRS se pronunciar sobre o 'rating' da dívida portuguesa. João Pereira Leite diz que até lá "faltam quase 3 meses e muito pode suceder, sobretudo em termos de economia internacional" mas, com os dados atuais, a DBRS "deverá manter o ‘rating’ e a perspetiva, mas é cedo para prever".

 

 

 

 

Continue a ler esta notícia

Mais Vistos

EM DESTAQUE