Apoios Covid-19: coletes de salvação que esmagam empresas - TVI

Apoios Covid-19: coletes de salvação que esmagam empresas

Dinheiro

Na segunda-feira, Marcelo Rebelo de Sousa reúne-se com os presidentes dos principais bancos para perceber como farão a “agilização para que o dinheiro chegue ao terreno, o mais depressa possível

A corda na garganta fica-lhes tão mal!

É sócio de uma loja de produtos regionais, fruto de uma paixão gourmet pelos sabores da região onde nasceu. Vinhos, azeites, vinagres, enchidos, queijos, compotas, frutos secos, pão, folar (uma espécie de bola salgada cozida em forno de lenha e que é feita com azeite, ovos e recheada com presunto e salpicão), mas também bolo-rei de castanhas no Natal e leguminosas todo o ano…tudo isto, ah e chás, tudo da mais alta qualidade, bem no centro de Lisboa.  Esta foi a aposta de Afonso José (nome fictício) já lá vão…seis anos.

À paixão dos produtos junta-se o amor pela cozinha. Afonso faz de chefe e faz muito bem! A loja ganhou também a vertente de espaço de provas de vinhos e iguarias.

Tem corrido bem. É disto que Afonso vive e dá emprego a mais cinco.

Mas, março de 2020 entrou mal e saiu pior. A pandemia da Covid-19 obrigou-o a fechar portas.

Como o Afonso há milhares de pequenos empresários e médios empresários e até grandes empresários, de tal modo está a ser, e maior ainda se prevê, a devastação deixada pelo tsunami no frágil tecido empresarial português. Mais frágil para uns do que outros. Para os mais pequenos, as microempresas, é tudo mais complicado. Pequenos comerciantes, pequenos restaurantes, cabeleireiros de bairro, dão voltas e voltas e a melhor solução para sobreviverem não está, parece-lhes, ao virar da esquina.

Há umas linhas de crédito disponíveis para diferentes setores, com condições especiais, ouviram dizer.

Afonso quer evitar despedir os empregados mas, mesmo recorrendo ao lay-off, não sabe se vai aguentar-se.

Linha de Apoio à Tesouraria para Microempresas do Turismo – COVID-19

Esta linha de crédito sem juros, no valor total de 60 milhões de euros, específica do Turismo de Portugal para apoio à tesouraria de microempresas parece ser a opção que está a chamar mais a atenção dos pequenos empresários do setor que demonstrem reduzida capacidade de reação à forte queda da procura que se tem registado.

Verificadas uma série de condições de elegibilidade, o valor do empréstimo prevê 750 euros mensais por cada posto de trabalho existente na empresa a 29 de fevereiro de 2020, multiplicado pelo período de três meses, até um máximo de 20.000 euros.

A operação vigora por um prazo de 3 anos e contempla 1 ano de carência da prestação.

Acesso ao apoioLinha de Apoio à Tesouraria para Microempresas d​o Turismo COVID-19 

Esta está a ser a solução com mais procura e a mais referenciada.

(56%) entre 23% das empresas que procuraram ajuda, de acordo com os números recolhidos por um novo inquérito da Ahresp junto do alojamento turístico e da restauração e bebidas, o setor que com grande probabilidade será dos mais senão o mais afetado.

Além desta linha e das moratórias de crédito já antes referenciadas, há outras linhas de crédito, até ver com um plafond no valor de mais de 3 mil milhões de euros. E brevemente haverá reforços.

A Comissão Europeia deu luz verde a auxílios até 13 mil milhões de euros “para apoiar a economia portuguesa no contexto do surto do coronavírus”, anunciou a Direção-Geral da Concorrência europeia em comunicado este sábado, 4 de abril.

Sobre o que aí vem, não há ainda informação mais detalhada.

Mas sobre outras linhas de crédito setoriais disponíveis na banca sabe-se que existem críticas.

A questão ao nível político também está a agitar as águas e as ondas já chegaram ao Palácio de Belém.

Na segunda-feira, Marcelo Rebelo de Sousa reúne-se, por videoconferência, com os presidentes dos principais bancos para perceber como a banca fará a “agilização para que o dinheiro chegue ao terreno, o mais depressa possível.

Para o Presidente da República “estamos em contrarrelógio” e “esta também é uma luta da banca e a banca deve ao país” relembrando que “cada português contribuiu para viabilizar instituições bancárias” à beira do naufrágio, depois da crise financeira de 2008.

Se a pressão de Marcelo Rebelo de Sousa sobre a banca irá mais longe se verá.

Sobre as linhas disponíveis:

- Linha Capitalizar 2018 COVID-19

Com dotação global de 400 milhões de euros, destina-se a financiar a tesouraria e fundo de maneio das empresas.

- Linha de Apoio à Economia COVID-19

Com garantia do Estado, disponibiliza 600 milhões de euros para a restauração e similares, 200 milhões de euros para o turismo (agências de viagens, animação, eventos), 900 milhões de euros para empreendimentos turísticos e 1.300 milhões de euros para a indústria (têxtil, calçado, e indústrias extrativas)

(Os bancos disponibilizam informação completa nas suas páginas de Internet.)

A opinião das entidades beneficiárias

“58% das empresas refere não serem adequadas às necessidades das empresas, e indicam apoios a fundo perdido, isenção de impostos e encargos financeiros, como as principais soluções para apoiar o tecido empresarial, segundo o inquérito da Ahresp.

Dito de outra forma, os bancos estão a cobrar demasiado caro pelos empréstimos e em comissões.

“77% das empresas não recorreram a apoios financeiros”, revela a Ahresp.

“Aos bancos apertarem a corda fica-lhes péssimo“

Mário Draghi, antigo presidente do Banco Central Europeu, disse há dias, a propósito da atual crise económica pandémica, que o papel dos bancos na capacidade da economia recuperar mais depressa era crucial e que deviam conceder crédito, ou melhor ainda esbanjar, a juros 0%.

A intervenção de Rui Rio, líder do PSD, no último debate quinzenal, também anda lá perto.

O que o presidente do partido de centro-direita disse:

"A banca deve muito, mesmo muito, a todos os portugueses e impõe-se agora que ajude quer as famílias quer as empresas. A banca não pode querer ganhar dinheiro com a crise".

Rui Rio surpreendeu a todos, possivelmente até alguns do seu próprio partido.

Catarina Martins, coordenadora do Bloco de Esquerda, ainda terá ficado mais surpreendida . Ter-lhe-á provavelmente soado a uma frase dela própria. Mas, rapidamente refeita da surpresa, a líder do Bloco tenta ganhar em Rio um aliado para aprovação da proposta que impeça a banca de distribuir lucros aos acionistas, este ano.

Antes de todos foi António Costa que veio a público dizer que tinha “chegado a hora da banca ajudar os portugueses e retribuir”.

Veja também:

Tudo o que precisa de saber sobre as moratórias de crédito

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