Empreendedores: todos os dias, uma corrida de obstáculos - TVI

Empreendedores: todos os dias, uma corrida de obstáculos

Impostos

Não é nada fácil iniciar um negócio em Portugal. É preciso muita garra, dinheiro, perseverança e paciência. As dificuldades, pela voz dos próprios

Se pensa que ser empreendedor é fácil, desengane-se. Mas é precisamente aí que está o desafio. Nuno Carvalho, d'A Padaria Portuguesa, em Lisboa, resume bem o sentimento: «Acordo de manhã preparado para correr uma corrida de obstáculos».

A cada dia que passa, são cada vez maiores. «A curva de aprendizagem não diminui, o que diminui é o nível de stress». Entende que as instituições públicas não estão preparadas para facilitar a vida a um empreendedor. «E eu até me sinto relativamente bem preparado. Sou licenciado em gestão, estudei em escolas internacionais e estive numa escola de gestão incrível como a Jerónimo Martins». Mesmo assim, é difícil.

E nem a financiamento bancário tentou recorrer. Tem consciência que se se tivesse metido nisso, o processo seria ainda mais complicado. «Não estamos com a corda na garganta e, por isso, sinto-me privilegiado e mais capaz, com melhores condições e, mesmo assim, é uma dificuldade no dia-a-dia».

Começa logo com os organismos públicos, com a burocracia, mas também com a falta de compromisso das empresas e fornecedores. Agora já tem os parceiros certos,mas «durante o primeiro ano apercebemo-nos de que as empresas em Portugal têm uma entrega marcada para o dia x, mas a empresa só chega dois dias depois e com metade das coisas trocadas».

Concluindo, «é de facto muito difícil montar negócios em Portugal». «É uma loucura», reforça. Seja por causa disso, seja pela carga burocrática e, claro, «pelo nível de fiscalidade absolutamente inviável para a maior parte das empresas. Para quem não tem um modelo de negócio que como o nosso, felizmente, vai ao encontro da expectativa do consumidor, logo numa primeira fase, é difícil operar em Portugal». «A carga fiscal é brutal, é uma coisa de loucos».

Também Ana Rita Fernandes, da Guesthouse Sweet Lisbon River, que fica igualmente na capital, diz que ser empreendedor em Portugal não é fácil. «Fala-se muito de empreendedorismo, é tudo muito engraçado, mas não se faz com o ar».

«Tentámos recorrer a financiamento estatal e não conseguimos nem um. Existem variadíssimos apoios e linhas de crédito, mas na sua maioria quase exclusivamente viradas para a tecnologia». E, muitas vezes, «o que há é para investidores que já existem, não é para jovens empreendedores, que queiram começar um negócio».

Ana Rita Fernandes ilustra a contradição: «A justificação que nos deram foi que não investiam nas start-up, porque ao fim de dois anos já não existem. A minha pergunta é: será que não existem porque os bancos não investem nelas? Empréstimo bancários e capital de risco em Portugal é uma coisa que não existe. Nós temos a guesthouse, porque a nossa outra sócia, que está em Angola decidiu que queria investir em Portugal». Caso contrário, o sonho poderia ter caído por terra.

Em Portugal, para ser empreendedor, «é preciso ter dinheiro, para além da iniciativa, e é preciso ter disponibilidade de trabalho», conclui.

Por que não um balcão do empreendedor?

Já Graça Martins, da Bainha de Copas, sente sobretudo dificuldade em se informar, nomeadamente no que toca a questões fiscais. Um furacão de ideias, Graça teve logo outra quando conversámos: «Devia existir um portal com todas as ficas para empreendedores, com agregação de informação e lista de contactos».

«Devia haver qualquer coisa deste género, low cost. Justifica. Há anúncios na rádio a anunciar ¿ tenha o seu site. É sintomático. Isto é dirigido a pequenos empreendedores. Podia ser uma área de especialização». Uma espécie de balcão do empreendedor, antes da empresa na hora.
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