Rui Nabeiro faz 90 anos e continua a não saber dizer que não: "Gosto de ver as pessoas sorrir" - TVI

Rui Nabeiro faz 90 anos e continua a não saber dizer que não: "Gosto de ver as pessoas sorrir"

  • MJC
  • 28 mar 2021, 22:23

Em entrevista à TVI, o fundador da Delta mostra como humildade e ambição podem andar de mãos dadas. O mais importante num empresário, diz, é pensar nos outros: "Não sou eu, somos nós"

O que é preciso para se ser um bom empresário? "Ser-se uma pessoa séria e honesta, trabalhadora" e, acima de tudo, não pensar só em si mas pensar também nos outros: "Não sou eu, somos nós".

Estes são os conselhos de Rui Nabeiro, o homem que há 60 anos fundou a fábrica de café Delta, em Campo Maior. Começou com apenas três empregados hoje tem quase 4 mil. A marca está presente em 40 países e tem um volume de negócios que, antes da pandemia, se situava nos 340 milhões de euros.

Em entrevista à TVI, Rui Nabeiro, que este domingo celebra o seu nonagésimo aniversário, partilhou memórias e revelou como a humildade e ambição podem andar de mãos dadas.

Quando comecei, sonhava poder desfrutar da vida de uma forma diferente, fazer eu o meu trabalho. Mas não sonhava com uma grandeza. A grandeza foi sonhada aos poucos", conta a José Alberto Carvalho.

O caminho não foi feito de sonhos mas de ações. Enquanto os outros vendedores de café esperavam pelo comboio. Rui Nabeiro meteu-se no carro e foi ter com os clientes: "Eu já ia com uma filosofia de modernidade. agarrei uma carrinha e era eu que levava o café a casa dos clientes. Quando os outros iam, eu já vinha. Já trazia o dinheiro. Um dia arranjei um, outro dia arranjei outro e fui arranjando centenas, milhares de clientes."

Temos de esta próximos dos clientes, saber o que eles gostam", esse é um dos segredos, garante.

O desejo de fazer sempre mais e melhor veio acompanhado por uma vontade de partilhar. Em Campo Maior, Rui Nabeiro é conhecido não só pelo café mas também pela sua generosidade. "Aqui em minha casa vem sempre muito gente, porque sabem que eu não digo que não."

"Como é que pode este lado estar bem e o outro lado estar mal?", pergunta. "Gosto de ver o sorriso das pessoas", confessa. E não está a falar só de ver as pessoas felizes mas também de ver as pessoas sorrirem com orgulho nos seus dentes. A verdade é que já "ajudou" a colocar "muitas, muitas dentaduras", conta.

"Eu gosto é de dar trabalho. Sonho com a criação de postos", diz. Sobretudo porque sabe o quanto eles são necessários no Alentejo. É por isso também que nunca lhe passou pela cabeça levar a fábrica da Delta para outro lugar e nunca aceitou as propostas que teve para vendê-la.

Mudar daqui a nossa fábrica e levá-la para outro lado, não posso. Faz falta a Campo Maior. E também não vendo. Os homens não se vendem, criam-se. Ao vender isto, vendia também o trabalho dos meus homens. E isso não pode acontecer."

Apesar do sucesso, o comendador mantém uma vida simples. Mora na mesma casa há mais de 40 anos, vai a pé para a fábrica e o carro que usa no dia a dia tem 16 anos. Bebe quatro cafés por dia, sem açúcar. E não usa a palavra concorrentes, prefere dizer colegas. Continua a trabalhar todos os dias e conhece os funcionários. 

O concelho onde ergueu a fábrica apresenta um salário médio superior à média nacional e há uma preocupação de responsabilidade social, que se materializa, por exemplo, no Centro Social Alice Nabeiro. Os seus funcionários têm todos seguro de saúde pago pela empresa.

Quanto mais riqueza houver no mundo das empresas, mais felicidade no trabalho", defende.

E, confrontado com os prejuízos que a empresa teve neste último anos, limita-se a dizer: "Temos prejuízos enormes, mas a fé não abala".

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