Vendedores da Feira da Ladra protestaram junto ao parlamento: "Vendemos velharias, não somos trapos" - TVI

Vendedores da Feira da Ladra protestaram junto ao parlamento: "Vendemos velharias, não somos trapos"

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  • 27 jul 2020, 15:29

Feirantes exigem isenção das taxas de ocupação até ao final do ano e pedem que a feira, suspensa devido à pandemia, seja retomada

 Cerca de 30 vendedores da Feira da Ladra concentraram-se hoje junto à Assembleia da República, em Lisboa, para exigir a retoma da atividade e a isenção de taxas de ocupação até dezembro, alertando que há pessoas a passar fome.

Num protesto pacífico e pouco ruidoso, os comerciantes exibiram cartazes com as frases “Para vos pagar deixem-me trabalhar” ou “Vendemos velharias, mas não somos trapos”, referindo-se à Câmara Municipal de Lisboa (CML).

Em declarações à agência Lusa, a porta-voz dos feirantes, Sandra Raposo, referiu que não têm tido quaisquer informações do município relativamente às reivindicações, com exceção da isenção de taxas em julho.

Não temos qualquer informação da Câmara Municipal de Lisboa. O facto de estarmos aqui e amanhã no recinto da feira é porque nós – boas ou más – queremos notícias da Câmara Municipal de Lisboa”, ressalvou.

Questionada sobre a isenção do pagamento de taxas relativamente aos meses em que estiveram totalmente sem atividade devido à pandemia de covid-19, Sandra Raposo disse que não correspondia à verdade.

Não é verdade, porque nós não estivemos a trabalhar e pagámos. Eles [Câmara de Lisboa] disseram-nos que nos devolviam o dinheiro, mas até à data nunca nos devolveram”, apontou, avisando que “há muita gente que está a passar sérias dificuldades financeiras”, como também já “há pessoas a passar fome”.

No sábado, a autarquia assegurou que os feirantes estariam isentos do pagamento de taxas relativamente aos meses em que estiveram totalmente sem atividade devido à pandemia de covid-19, aplicando-se também em julho.

O mês de julho será igual. Feira fechada, não pagam taxa”, esclareceu a Câmara Municipal de Lisboa, numa nota enviada à agência Lusa, na sequência das declarações dos feirantes a pedir que o município reabra a Feira da Ladra e que aplique a isenção das taxas de ocupação pelo facto de não estarem a trabalhar.

No protesto de hoje, uma das feirantes presentes manifestou-se ansiosa com a situação, considerando que o comunicado da Câmara Municipal de Lisboa “peca por tardio”.

Nós tivemos de pagar a taxa de ocupação do mês de março e tivemos até 20 de julho a obrigação de pagar o mês de junho”, disse Paula Pão Alvo, salientando que “a Câmara de Lisboa exigiu uma série de burocracias, inclusivamente a entrega do modelo n.º 3 do IRS”, para poderem requerer a isenção.

Para a vendedora, a solução para a situação encontra-se no cancelamento automático das taxas, porque quando a Feira da Ladra reabrir não terá o mesmo número de clientes que teve no passado.

“O que pedimos é uma coisa prática, simples e eficiente para todas as pessoas que participam na feira, que é a isenção total das taxas de ocupação até ao final do ano”, atentou Paula Pão Alvo, lembrando que as taxas de velharias (cerca de 100 euros por mês) “são mais ou menos acessíveis”, mas as taxas de artesanato (cerca de 200 euros por mês) “são muito elevadas”.

À Lusa, a comerciante disse ainda que está “num estado de grande ansiedade” relativamente ao futuro, porque não há uma perspetiva de organização e um canal de comunicação entre os 320 feirantes e a autarquia.

Por sua vez, outro vendedor afirmou que os feirantes têm de requerer a isenção do pagamento de taxas através do ‘e-mail’ do município, mas muitos não o sabem fazer.

“Essa isenção só pode ser requerida através da internet, através do ‘mail’ da Câmara Municipal, ou seja, é a mesma coisa que dizer que não vão isentar ninguém. Nós estamos a falar de uma faixa etária de vendedores da Feira da Ladra que têm alguma idade [cerca de 70 anos], que não têm acesso às redes sociais, não têm acesso ao Facebook, não têm acesso a ‘mail’ e não sabem”, sustentou Carlos Cruz.

O feirante contou que ficaram a saber da isenção de pagamentos através da notícia da agência Lusa, no sábado, depois de um protesto simbólico no Largo do Campo de Santa Clara, realçando que o processo deveria ser automático.

Se nós automaticamente ficámos suspensos da feira - suspenderam a feira -, também automaticamente devia ser suspenso o pagamento da taxa, ponto final”, afirmou.

Como Paula Pão Alvo, também Carlos Cruz pediu que a isenção das taxas se aplique até ao final do ano, assegurando que “nem o comércio, nem a faturação” vão ser os mesmos que tinham antes da crise pandémica.

Todavia, os feirantes anunciaram ao início da tarde que vão enviar ao presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina (PS), uma carta aberta com um pedido de esclarecimento sobre a atual situação.

Os feirantes concentraram-se hoje Assembleia da República, das 10:00 às 14:00, para fazerem chegar as suas reivindicações também ao parlamento. Na terça-feira vão estar novamente na Feira da Ladra, das 08:00 às 14:00.

Em 25 de junho, as feiras na Área Metropolitana de Lisboa foram canceladas na sequência da evolução do surto da covid-19 na região.

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