Quem tenha começado a trabalhar no último ano poderá ambicionar chegar à reforma só aos 68 anos. São estes os cálculos patentes no último relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), com dados de 2016 e que tem por base o sistema português e a esperança média de vida.
Se fizermos as contas, os jovens de hoje terão direito a uma pensão em 2064, depois de 48 anos de descontos.
Mais de ano e meio, quase dois anos, do que a idade legal da reforma atual: de 66 anos e três meses, que passará para 66 anos e quatro meses já em 2018.
O Governo estima que o impacto do aumento da esperança de vida no fator de sustentabilidade (que indexa a idade da reforma à esperança média de vida) eleve a idade da reforma para 66 anos e cinco meses no ano seguinte, em 2019.
Ao que tudo indica, será sempre a subir. Isso significa trabalhar mais para ambicionar ter uma reforma no futuro.
Gastos com pensões vão atingir 15% do PIB
O relatório da OCDE adianta, ainda, que os gastos com pensões em Portugal mais do que duplicaram nas duas últimas décadas e perspetiva que vão continuar a aumentar. Chegarão a atingir os 15% do PIB em 2030/35. Depois disso, o peso deverá corrigir, mas permanecerá sempre acima dos 13% até 2060, com o país a continuar a gastar mais com as pensões, face à média dos países da OCDE.
Segundo o Panorama das Pensões 2017, a despesa do Estado em pensões, entre 1990 e 2013, passou de 4,8% do Produto Interno Bruto (PIB) - abaixo da média da OCDE que era de 5,8% - para os 14% do PIB, aqui já bem acima da média de 8,2% dos países que integram a organização.
Na média dos países da OCDE, o relatório estima que os gastos com pensões passem dos atuais 8,9% do PIB para 10,9% do PIB em 2060.
Entre 2000 e 2013 os gastos com pensões subiram em Portugal 78,4%, a terceira maior subida entre os países que compõem a organização, apenas ultrapassada pelo México (que aumentou em 175,4% os gastos com pensões para 2,3% do PIB) e pela Coreia (que aumentou em 99,3% para 2,6% do PIB).
Próximos de Portugal estiveram os aumentos na Grécia (de 67,6% para 17,4%) e na Turquia (de 66,4% para 8,1%).
34,5% da população ativa tem mais de 65 anos
A idade da reforma completa nos países da OCDE aumentará 1,5 anos para homens e 2 anos para as mulheres até 2060 para situar-se nos 66 anos.
O relatório sinaliza que, em Portugal, 34,5% da população ativa tem mais de 65 anos (acima dos 27,9% da média da OCDE).
No relatório, a OCDE evidencia que o aumento da pressão que a subida da esperança média de vida está a colocar ao nível da sustentabilidade das pensões conduzirá a um aumento da idade ativa, que garanta o financiamento das pensões.
A OCDE cita Portugal – a par do Chile, Estónia, Itália, México, Noruega, Eslováquia, República Checa e Suécia - como um dos “bons exemplos” de incentivos a trabalhadores para trabalharem até mais tarde.
Reformar-se aos 70 ou até depois
As diferenças entre os países serão significativas. A OCDE estima que em três países que se alcance a barreira simbólica dos 70 anos: Itália e Holanda (71) e Dinamarca (74).
A esperança média de vida das pessoas com mais de 60 anos na OCDE é atualmente de 23,4 anos e deverá passar para os 27,9 anos 2050, o que resultará num forte aumento da taxa de dependência económica dos idosos, refere.
Os governantes deverão garantir que as decisões hoje tomadas tenham estas mudanças em consideração e que os sistemas de proteção social não deixem ninguém para trás".
O aviso é do secretário-geral da OCDE, Angel Gurría, citado na nota que acompanha o relatório, sublinhando, assim, as mudanças fortes que estão a ocorrer no mercado laboral.
De recordar, ainda a propósito, que as novas pensões antecipadas, em Portugal, terão um corte de 14,5% em 2018.