CGD: Nogueira Leite "bateu com porta" porque achou aumento de capital insuficiente - TVI

CGD: Nogueira Leite "bateu com porta" porque achou aumento de capital insuficiente

  • AR
  • 8 mar 2017, 20:33

Antigo vice-presidente do banco público, ouvido na comissão parlamentar de inquérito, diz que pediu demissão em 2012 por considerar não ter os "instrumentos necessários". Ou seja, capital

O antigo vice-presidente da Caixa Geral de Depósitos (CGD), António Nogueira Leite, revelou esta quarta-feira no Parlamento que pediu a demissão do cargo no final de 2012 por discordar do montante da capitalização do banco público feita nesse ano.

Não posso explicar porque razões o aumento de capital teve a dimensão que teve, mas inviabilizava a possibilidade de o banco ter resultados positivos. Rapidamente íamos ficar com o ónus da situação. E isso não era uma situação que considerasse interessante", afirmou o responsável depois de questionado sobre as razões que estiveram na base da sua saída prematura da CGD.

Nogueira Leite, que falava na comissão parlamentar de inquérito à CGD, entrou para a equipa de gestão do banco público em julho de 2011 e pediu a demissão em dezembro de 2012, com a saída a consumar-se em janeiro de 2013.

"Quando saí da Caixa tive que ir à procura de emprego", assegurou aos deputados.

Em 2012, enquanto vigorava o plano de resgate da "troika" (União Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional), o Estado português fez um reforço de capital da CGD que resultou da injeção de 750 milhões de euros em capital e da subscrição de 900 milhões de euros em obrigações convertíveis (CoCo), num total de 1.650 mil milhões de euros.

Era preciso mais capital e isso é o ponto central. Não sei o que se passou acima. Mas senti sempre que havia uma grande dificuldade de fazer entender as necessidades dos bancos portugueses junto das autoridades europeias e do FMI", afirmou.

Ainda sobre o seu pedido de demissão, Nogueira Leite vincou que, no seu entender, o aumento de capital era insuficiente, pelo que ia implicar que o banco estatal apresentasse prejuízos durante vários anos. Algo que se veio mesmo a verificar.

"Eu não podia sequer explicar porque é que os resultados eram tão maus como eram. Preferi dar um salto no escuro", sublinhou.

"A nós não nos foi pedido ‘digam lá quanto é que querem'. Um dia o Governo disse: ‘os senhores vão ter um aumento de capital de 900 milhões de euros em capital contingente e 750 milhões de euros em dinheiro verdadeiro’. Foi esse jogo que eu não quis jogar", reforçou.

Nogueira Leite referiu que era necessário mais capital, mas sublinhou que a decisão foi do acionista e que, perante ela, havia as hipóteses de se acomodar ou de sair.

“E eu decidi sair”, acrescentou.

Governo PSD/CDS apenas pedia à gestão para "aguentar o barco"

António Nogueira Leite revelou ainda que a estratégia do anterior Governo (PSD/CDS) para a instituição passava apenas por “aguentar o banco” durante o período mais agudo da crise.

"A estratégia do Governo era estabilizar a situação de liquidez da Caixa. A única coisa que o Governo nos dizia era: ‘aguentem o barco. E, se possível, mantenham o crédito às empresas’", afirmou o responsável durante a sua audição na comissão parlamentar de inquérito à CGD.

"Não podíamos dar crédito a empresas que já não mereciam. Não havia um grande plano estratégico a não ser salvar o banco e manter a economia a funcionar", assinalou Nogueira Leite, que esteve na administração do banco público entre julho de 2011 e janeiro de 2013, depois de ter renunciado ao cargo que desempenhava.

Questionado sobre a sua visão acerca das razões que levaram às elevadas imparidades acumuladas pela CGD, Nogueira Leite realçou que está obrigado ao dever de sigilo bancário e que, como a decisão de levantamento deste sigilo ainda corre nos tribunais, sem ter transitado em julgado, não quer "correr o risco" de quebrar esse dever.

Ainda assim, considerou que "as práticas bancárias anteriores em Portugal (CGD, BES, Millennium, Montepio e outros) e no estrangeiro hoje não eram possíveis", uma vez que a conjuntura económica mudou completamente.

"O cliente até podia não ter dinheiro no banco, mas recebia crédito para os seus projetos e dava como garantia as ações da sua empresa", exemplificou o gestor, a pedido dos deputados.

De acordo com Nogueira Leite, a sua administração não encontrou na Caixa uma situação diferente da existente noutros grandes bancos portugueses.

O que surpreendeu, frisou, foram “instrumentos muito rudimentares de controlo de gestão”.

"Como nos anos anteriores os senhores banqueiros ganhavam muito dinheiro, não prepararam as instituições" para os maus momentos, sublinhou, destacando que "a Caixa tinha lucros fabulosos até à crise de 2007/2008".

"Passos Coelho convidou-me para presidente"

António Nogueira Leite revelou também que Pedro Passos Coelho (primeiro-ministro do Governo PSD/CDS) o convidou para liderar o banco público, só percebendo que ia ser vice-presidente quando recebeu o convite formal de Vítor Gaspar.

"O primeiro convite foi do senhor primeiro-ministro [Passos Coelho] e depois recebi o convite formal do ministro das Finanças [Vítor Gaspar]", afirmou Nogueira Leite durante a sua audição na comissão parlamentar de inquérito à Caixa Geral de Depósitos (CGD).

Questionado pelos deputados, Nogueira Leite confirmou que o convite que lhe foi endereçado por Passos Coelho era para ser presidente da comissão executiva e que só se apercebeu que ia ser vice-presidente com o convite formal de Vítor Gaspar.

José de Matos, oriundo do Banco de Portugal, foi o escolhido para a presidência do banco estatal.

 

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