Grécia, o espelho de um país dividido - TVI

Grécia, o espelho de um país dividido

A dois dias do referendo que pode decidir o futuro de país, gregos voltaram a sair à rua e, perante novo apelo de Tsipras, mostraram que estão indecisos na decisão a tomar no próximo domingo. As sondagens mostram agora que o 'Nai' ultrapassou o 'Oxi' e o futuro da Grécia parece estar ainda menos decidido do que há uma semana

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O futuro da Grécia decide-se no domingo e a apenas dois dias do referendo os gregos voltaram a sair à rua para mostrar que continuam divididos na sua opinião. 

Decididos em dizer a Alexis Tsipras que vão seguir o seu apelo e votar ‘Não’ no domingo, dizendo aos credores internacionais da Grécia que não aceitam as suas medidas, cerca de 25 mil gregos juntaram-se na praça de Syntagma. A manifestação começou pacífica, mas cerca de uma dezena de manifestantes acabou por se envolver em  confrontos com a polícia, que, de acordo com a Reuters, terminaram rapidamente.

Mas, nem o medo de confrontos impediu o primeiro-ministro de passar por entre a multidão para chegar ao palco, onde Tsipras voltou a apelar ao povo: pediu que seja feita "história" e disse esperar dos gregos "um grande e orgulhoso 'Oxi' ao ultimato" no próximo domingo.  

"Hoje, todos os olhos estão na Grécia. No domingo, vamos mandar uma mensagem de democracia e dignidade à Europa e ao Mundo. No domingo, não vamos apenas decidir ficar na Europa, vamos decidir viver na Europa com dignidade. Não vamos deixar a Europa nas mãos daqueles que querem sufocar a sua tradição de democracia", afirmou o primeiro-ministro grego perante as milhares de pessoas. 




No entanto, nem todos parecem concordar com o apelo de Tsipras ao voto no ‘Não’. Um dos cidadãos gregos que assistia ao discurso do primeiro-ministro em Atenas confessou à Reuters que prefere "votar sim, ter mais uns anos de austeridade", mas dar "um futuro" aos filhos. 

De igual forma pensam as cerca de 20 mil pessoas que se manifestaram em apoio ao ‘Sim’, a menos de um quilómetro da praça Syntagma, em frente ao estádio Panatenaico, um importante local turístico da capital grega onde se realizaram os primeiros Jogos Olímpicos modernos, em 1896. Repetindo palavras de ordem a favor da Europa, por entre um mar de bandeiras gregas e de cartazes com a palavra ‘Sim’, os gregos tentam mostrar a Tsipras que o caminho escolhido pelo governo pode não ser o correto.

E, de acordo com a mais recente sondagem da Ipsos divulgada pela Reuters, são já 44% os gregos que preferem votar ‘Nai’ na consulta popular. Dos restantes, 43% vai dizer “Oxi” no referendo e 12% ainda não decidiu o que vai fazer no próximo domingo.

A Grécia é agora o espelho de um país dividido e sem saber o que lhe reserva o futuro que está ao virar da esquina.



Esta não foi, no entanto, a única vez que o primeiro-ministro grego falou à nação. Alexis Tsipras reafirmou, ao início da tarde desta sexta-feira, que no referendo não está em causa a continuidade da Grécia na Zona Euro, e que se o ‘Não’ vencer, isso não significa uma rutura com a Europa. E garantiu ainda que o próprio FMI que dá razão ao governo grego ao admitir "o óbvio" sobre a dívida, ao dizer que esta é insustentável e precisa de ser reestruturada, depois de ter sido conhecida a análise do Fundo Monetário Internacional que assinala que Atenas precisará irremediavelmente de um perdão de dívida.

Quem também quis descansar a população foi o ministro das Finanças grego, Yannis Varoufakis, que garantiu que o acordo com os credores está "mesmo à mão" e que as negociações com as instituições europeias têm estado a desenrolar-se, apesar da anunciada suspensão das mesmas. 

Declarações que surgiram após o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, ter advertido que uma vitória do 'não' no referendo de domingo na Grécia vai “enfraquecer dramaticamente” a posição negocial grega, e, mesmo em caso de triunfo do 'sim', as negociações serão “difíceis”. 

Ao final da noite, foi a vez do  presidente do Conselho Europeu desdramatizar as consequências de um possível ‘Não’ grego no referendo de domingo. Numa entrevista ao site "Politico", Tusk garantiu que não vai ser por causa de um voto negativo no referendo que a Grécia deixará a moeda única. O polaco assegurou que a União Europeia até poderá adotar um enquadramento "totalmente novo", com alterações nos tratados, para que países falidos possam manter-se no euro.

A Grécia viveu hoje o quinto dia sem poder aceder livremente às poupanças. A situação no país agrava-se de dia para dia, com o desespero dos pensionistas, retratado em imagens que correm mundo, a mostrar uma Grécia à beira de um descalabro ainda incerto. A líder da associação de bancos da Grécia deixou, também esta sexta-feira, mais uma preocupação à população: os bancos gregos só têm dinheiro até segunda-feira e a "almofada de liquidez" é de, apenas, mil milhões de euros. Ou seja, a partir da próxima semana as instituições financeiras do país estarão exclusivamente dependentes da boa vontade do Banco Central Europeu. 

É certo que a situação na Grécia pode ainda piorar, mas muitos não arriscam cenários. Ao final do quinto dia de crise grega, o Financial Times noticiou que pelo menos um banco grego estava a preparar-se para um confisco de 30% nos depósitos acima dos oito mil euros. A notícia foi de imediato desmentida, mas fica o aperto no estômago. 
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