Grécia: perdão ou troca de dívida? Uma questão de palavras - TVI

Grécia: perdão ou troca de dívida? Uma questão de palavras

Yanis Varoufakis [LUSA]

Yanis Varoufakis garante que não há «inversão de marcha» na sua proposta. Apenas substituiu o perdão por uma troca de dívida

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O plano que o ministro das Finanças grego apresentou à Europa está a ser visto como um recuo no programa do Syriza e uma concessão aos credores. No entanto, Yanis Varoufakis garante que tudo se mantém, menos as palavras.
 
A proposta consiste em substituir a dívida externa grega por obrigações indexadas ao crescimento da economia e obrigações perpétuas. Na entrevista ao «Financial Times» em que apresentou o plano, Varoufakis admitiu que vê esta solução como uma «engenharia inteligente de dívida» que evitará o chamado perdão de dívida, veementemente rejeitado, por exemplo, pela Alemanha.
 
Vários especialistas viram nestas palavras uma concessão às exigências dos credores, uma vez que o Syriza sempre defendeu que a dívida grega é insustentável e que teria de ser renegociada. O plano foi considerado um «recuo» e o ministro grego foi acusado de estar a «implorar» por dinheiro. 

No entanto, o próprio ministro das Finanças grego apressou-se a explicar que não há «inversão de marcha» na sua proposta e que a «promessa» do Syriza se mantém no que diz respeito a tornar a dívida sustentável. Há apenas uma «substituição» do «perdão» por «eufemismos e trocas». 


Recuando no tempo, o Syriza sempre declarou como objetivo o perdão de parte da dívida. Em abril de 2014, numa visita a Portugal, Alexis Tsipras dizia que «a única saída realista» para a Europa seria a realização de uma cimeira semelhante à que perdoou a dívida da Alemanha, em 1953. «Não há outra alternativa senão tentar renegociar a nossa dívida em conjunto», afirmou, na altura.

Já no final do ano, com a perspetiva de eleições antecipadas, o economista-chefe do Syriza, John Milios, defendia, em entrevista ao «The Guardian», que «mais de 50 por cento» da dívida grega tinha de ser eliminada, exemplificando novamente com o perdão europeu que se seguiu à II Guerra Mundial.

No entanto, e embora a ideia de um perdão possa ter sido utilizada para cativar os eleitores, o Syriza não deixou de admitir outros caminhos para a renegociação. No primeiro comício da campanha, a 3 de janeiro, Tsipras considerava que teria de negociar com a Europa assente numa «base realista», para tornar a dívida grega sustentável «com medidas que não prejudiquem os povos europeus».

O agora primeiro-ministro grego deixou antever o que esperava: que «a dívida seja paga com crescimento». Portanto, indo de encontro ao que Yanis Varoufakis propõe à Europa.

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