Grécia vai mesmo sair do euro? - TVI

Grécia vai mesmo sair do euro?

«Aurora Dourada» festeja resultado nas eleições gregas  (Reuters)

Será um marco na história de uma Europa que pouco se preparou para a fragmentação

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Era uma cenário praticamente impossível há uns meses. Agora é considerado «plausível» após umas eleições onde 70% dos gregos votaram em partidos que rejeitam o acordo com a troika. Um contra-senso com as sondagens que dizem que 80% quer ficar no euro.

No início da seman, os 17 voltaram a discutir soluções - caminhos cada vez mais estreitos. Em Atenas, o presidente Karolos Papoulias faz o último esforço para encontrar uma coligação que governe o país. Mas já poucos acreditam e apontam para o mais provável: novas eleições a 17 de junho.

No entanto, este pode também não ser o caminho definitivo: as sondagens deste fim-de-semana deram a vitória à esquerda-radical do Syriza, liderado pelo carismático Alexis Tsipras, de 37 anos, crítico da troika e que defende o fim dos cortes nos salários e nas pensões e a contratação de 100 mil funcionários públicos para combater taxa de desemprego de 21%. Caso vença, continua em causa manutenção da Grécia na Zona Euro.

As agências de rating apontam a mira ao euro - a Fitch traçou 5 cenários para a região, colocando a saída da Grécia como um «risco» provável. E de Bruxelas surgiu, pela primeira vez na semana passada, a mensagem de que a Grécia ficará melhor fora do euro. «Se um membro de um clube não respeita as regras, então é melhor que deixe o clube», disse Durão Barroso à TV italiana SkyTG24.

Mas está a Grécia a falar a sério quando fala em sair? «É um cenário plausível dentro de um conjunto de sanções, onde as decisões políticas e económicas não corresponderam às expetativas de Atenas», disse à AF Bernardo Pires de Lima, investigador em relações internacionais, que, entretanto, ressalvou: «Alguns partidos tomaram partido disso nas eleições» - um jogo político que deve terminar.

«Os tratados não preveem a saída da Zona Euro. O Tratado de Lisboa só prevê a saída da União Europeia por livre e espontânea vontade do Estado-membro, que depois pode voltar», como explicou Pires de Lima. «O calendário na Grécia é demasiado apertado. Esta deve, aliás, ser uma das alíneas de discussão entre François Hollande e Angela Merkel: a extensão dos prazos».

Para já, a palavra que marca os dias é só uma: «imprevisibilidade». Nas negociações dos partidos e no futuro a curto prazo. Mas também nos efeitos das suas escolhas. Quais as repercussões para Portugal?

«Temos de separar os países sob assistência financeira e os que não estão sob resgate mas que têm fortes medidas de austeridade, como o caso da Espanha, Itália e Holanda. À partida diria que a almofada da troika em Portugal pode ser escudo protetor para qualquer contágio», acredita o investigador.

Já a Grécia estará em muitos maus lençóis: o FMI estima que Atenas terá de desvalorizar a economia em 15% a 20% em comparação com a média da Zona Euro. Já o Goldman Sachs é mais pessimista e aponta para uma desvalorização de cerca de 30% face à UE e 50% em relação com a Alemanha.

E mesmo com o país em bancarrota, a prioridade será ainda os mercados de dívida o que exigirá a manutenção da austeridade. O FMI aponta para um défice primário de 1% do PIB para este ano.

Se a Grécia puxar o gatilho ao não querer cumprir o acordo com troika arrisca-se ainda a chegar a junho sem dinheiro e ver-se-á a braços com um novo dracma: criar novas leis; reavaliar os contratos domésticos; impôr o controlo de câmbio; proteger as fronteiras para limitar fuga de capitais; aplicar medidas para imprimir moeda. Já o BCE cortará os fundos necessários para a banca.

«Há dois anos a saída da Grécia do euro teria um impacto à escala do Lehman Brothers», disse um oficial da UE envolvido nas discussões, citado pelo «Financial Times». «Mesmo há um ano teria sido extremamente arriscado em termos de contágio e reação em cadeia no sistema bancário. Agora estamos melhor preparados».

«A gestão da crise não foi realista. Pode ser que os países tenham aprendido com os erros», disse Pires de Lima.
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