O milionário, os amigos dele e 110 anos de prisão - TVI

O milionário, os amigos dele e 110 anos de prisão

Allen Stanford, milionário condenado por uma fraude à escala de Madoff.

Robert Allen Stanford era um milionário com vida social de luxo, amigos famosos e um título de cavaleiro. Agora é um criminoso condenado a 110 anos de prisão por burlas de 7,7 mil milhões de dólares, qualquer coisa como 6,1 mil milhões de euros. Pelo meio está uma mega-fraude à escala de Bernard Madoff, a antiga estrela de Wall Street que cumpre nesta altura pena de 150 anos de prisão.

Stanford foi preso em 2009, mas já tinha caído em desgraça antes. O seu nome aparece num dos famosos telegramas revelados pela Wikileaks, datado de 2006 e que se congratula por o embaixador nas Bahamas ter conseguido escapar a uma foto com o ainda milionário, já nessa altura sob alegações «de subornos e lavagem de dinheiro».

A acusação foi ganhando forma. Já era de «fraude massiva continuada» em 2009, quando a polícia cercou, com grande aparato e em direto nas televisões, a casa de uma namorada de Stanford em Fredericksburg, na Virgínia, onde este se tinha refugiado.

Os bens de Stanford foram congelados e muitos deles vendidos em leilão. Foram-se os iates, a frota privada de aviões, o campo de críquete particular, o banco, as contas e as sedes luxuosas de empresas. Mas foram precisos três anos para o levar a julgamento.

É que em 2010 Stanford foi agredido na prisão, aparentemente numa disputa por causa de uma chamada telefónica. As imagens do seu rosto desfigurado foram amplamente divulgadas e a defesa alegou que a agressão, aliada à elevada dose de medicamento anti-stress a que recorreu na sequência dela, o fizeram... perder grande parte da memória.

O processo arrastou-se, com uma série de mudanças de advogados pelo meio, até que o juiz decidiu que Stanford estava em condições de suportar um julgamento. E ele começou. Stanford nunca depôs em tribunal. A tese da acusação foi sustentada em grande parte pelos depoimentos de James M. Davis, antigo responsável financeiro pelos negócios de Stanford, e por muitos testemunhos de vítimas. Ao longo de seis semanas foi desmontado o esquema que afetou 30 mil pessoas em 113 países.

Nesta quinta-feira o antigo financeiro conheceu a sentença do tribunal federal de Houston, no Texas, que o tinha condenado por 13 acusações de fraude. Em causa estava o esquema de pirâmide, o chamado esquema Ponzi, que consiste em ir angariando depósitos de investidores a troco da promessa de grande retorno.

Stanford cresceu como uma criança pobre no Texas e construiu um império que começou por um ginásio, passou pelo imobiliário e depois pela gestão de investimentos. Assentou o negócio em Antigua, onde criou o Stanford International Bank e onde levava uma vida de luxo. Chegou a receber do Governo da ilha caribenha o título de «Sir». Foi-lhe retirado quando o escândalo rebentou.

As ligações de Stanford iam muito além. As suas empresas contribuíram com generosas quantias para o financiamentos dos partidos Republicano e Democrata, um total de 1,8 milhões de dólares (que por sinal até Fevereiro, na sua maioria, não tinham sido devolvidos). Barack Obama também recebeu 4600 dólares para a sua campanha eleitoral em 2008.

Nem Inglaterra escapou ao charme dos dólares do texano. O críquete era uma das suas paixões e em 2008 aterrou no londrino Lord's Cricket Ground de helicóptero e com uma mala com 20 milhões de dólares, recorda o «Guardian», para assinar com o England and Wales Cricket Board um contrato para uma série de jogos entre a Inglaterra e uma equipa das Índias Ocidentais.

Stanford voltou a falar depois de conhecer a sentença. «Não promovi um esquema Ponzi. Não defraudei ninguém», disse, num longo discurso em que acusou o Governo norte-americano de usar contra si «técnicas da Gestapo» e recordou os passeios a cavalo que dava com George W. Bush.
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