Salgueiro: reorganização da função pública já devia estar em vigor - TVI

Salgueiro: reorganização da função pública já devia estar em vigor

João Salgueiro

Economista diz que estímulos ao investimento produtivo já deviam ter acontecido

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João Salgueiro defendeu esta terça-feira que a reorganização da administração pública e os estímulos ao investimento produtivo deviam ter acontecido simultaneamente com o ajustamento orçamental, mas congratulou-se que estejam agora «a começar de forma muito séria».

«As reservas que muitos colegas meus têm feito e eu próprio tenho levantado é que fizemos um grande empenho do país no ajustamento das finanças públicas, mas sem, ao mesmo tempo, estarmos a fazer duas outras coisas que, agora, estou convencido que estão a começar de uma forma muito séria: a reorganização da administração pública e as medidas de fomento à economia e ao emprego», afirmou em declarações à agência Lusa.

Falando no Porto à margem do seminário internacional «Floresta & Sociedade», João Salgueiro considerou que, embora «teoricamente haja essa ideia», o facto é que «não há nenhuma razão para se fazer primeiro uma coisa e depois a outra», até porque «não envolve grande despesa».

Já relativamente às «vozes contra» o programa de ajustamento em curso, o economista e membro do Conselho Económico e Social sustentou que esta discussão «não é relevante»: «É preciso é avaliar as outras soluções que existem, porque as pessoas não as apresentaram. O que se deduz é que é preciso mais despesa pública e isso é bom, agora quem é que paga?», disse.

Relativamente à intenção, avançada na segunda-feira pelo Governo, de aumentar o horário de trabalho dos trabalhadores da função pública, João Salgueiro sustentou que «não é esse o problema na administração pública».

«Haverá departamentos em que [trabalhar mais tempo] poderá ser importante, mas, basicamente, o que se diz da administração pública é que tem tarefas que não eram necessárias e que são entraves ao funcionamento das pessoas».

Inevitável vai ser, na opinião do economista, «repensar o Estado Social, mas com uma linha de orientação» e em todo o espaço europeu: «Não podemos achar que vamos importar tudo da China, sem produzirmos cá, e ao mesmo tempo termos as despesas que queremos. Andamos há 20 anos a enganar-nos aqui na Europa», disse.

Acérrimo defensor da reindustrialização do país, o economista recorda que «desde 1978 que se fala de algumas das reformas que agora se diz que são necessárias» e considera que «talvez agora seja uma boa oportunidade, porque as pessoas tomam a sério a mudança que é necessária».

«Andamos a adiar soluções há 30 anos. É altura de os portugueses intervirem mais na vida nacional e dizerem o que querem e ajudarem a fazer. Chegou-se a este ponto de endividamento porque os portugueses estiveram distraídos», afirmou.

Questionado sobre se haverá o risco de a agitação social em Portugal tomar, em 2013, dimensões semelhantes à Grécia, o economista é taxativo: «Só se não tivermos juízo, porque cada vez que se faz uma complicação vai-se pagar mais caro. As taxas de juro sobem, os empréstimos vão ficar mais caros, se houvesse empresas a querem vir para cá não vinham...quem é que vai investir num país com turbulência?», questiona.

Na mesma linha, o membro do Conselho Económico e Social não acredita numa possível queda do Executivo, defendendo que «ninguém quer vir para o Governo nesta altura».
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