Se Vítor Constâncio não sabia, deveria saber, afinal era governador do Banco de Portugal, a instituição que deu o aval a uma operação realizada com um dos créditos mais polémicos da história recente da banca portuguesa.
No Twitter, o ex-governador garante: "Não tenho memória disso". E garante também nesta primeira reação sobre a polémica, que "normalmente o supervisor não tem interferência".
Shame. Is it true?@VMRConstancio https://t.co/OyTDM5EzbF
— Vitor Fernandes (@VMMFernandes) 7 de junho de 2019
Not true and was never asked anything about this
— Vitor Constâncio (@VMRConstancio) 7 de junho de 2019
I was not asked about this and I am still investigating. I have no recollection of anything like that from 15 years ago and normally the supervisor ( as an Institution) has no interference in such concrete operations of that nature
— Vitor Constâncio (@VMRConstancio) 7 de junho de 2019
Mas não é isso que revelam as cartas a que a TVI teve acesso.
O crédito de 350 milhões de euros dado, em 2007, pelo banco público, Caixa Geral de Depósitos, ao empresário José Berardo, para investir na luta de poder dentro do BCP, não possuía, numa primeira fase, garantias reais, mas a promessa de penhora de ações, noticiou esta sexta-feira o Público.
A operação de entrada da Fundação Berardo no capital do BCP teve o aval da instituição liderada por Vítor Constâncio depois de conhecer a forma como ia ser financiada, tal como prova a troca de correspondência entre a Fundação Berardo e o Banco de Portugal a que a TVI teve acesso.
Entretanto, num esclarecimento enviado à Lusa, Vítor Constâncio garantiu que “nada omitiu” na comissão parlamentar de inquérito à CGD e que o supervisor não tem conhecimento de operações de crédito antes de decididas pelos bancos.
Como expliquei corretamente na Assembleia da República (AR), o Banco de Portugal (BdP) não tem competência para ter conhecimento de operações de crédito antes de serem decididas pelos bancos, nem muito menos competência para as mandar anular”, afirmou.
Foi o que esclareci na AR onde não se abordaram questões sobre autorização de participações qualificadas, pelo que nada foi omitido da minha parte”, assegurou o antigo governador do BdP.
1ª Carta - Fundação comunica que quer tomar uma posição entre 5 e 10% no BCP e pede resposta rápida
2ª Carta - Um mês depois, o Banco de Portugal pede uma descrição detalhada das fontes e formas de financiamento, concretamente as condições da linha de crédito aberta na CGD
3ª Carta - Fundação detalha num anexo o contrato, através do qual consegue um crédito em conta corrente até 350 milhões
Segundo o Público, a 21 de agosto de 2007, em plena guerra de poder pelo controlo do BCP, o conselho de administração do banco central português, na altura com o governador Vítor Constâncio, reuniu-se com um ponto na agenda: autorizar aquela que viria a revelar-se, tempos depois, uma das mais ruinosas e questionadas operações de crédito concedidas nos últimos anos pela banca portuguesa. Um empréstimo que 12 anos depois continua por liquidar. A última carta a que a TVI teve acesso revela o desfecho dessa reunião.
4ª Carta - Banco de Portugal decide não se opor à detenção pela Fundação de uma participação até 10% no capital da CGD
Deputados da comissão aprovam nova audição a Vítor Constâncio
Os deputados da comissão parlamentar de inquérito à recapitalização e gestão da Caixa Geral de Depósitos (CGD) aprovaram uma nova audição a Vítor Constâncio, ex-governador do Banco de Portugal (BdP).
Antes da audição ao ex-administrador da CGD Jorge Tomé, os grupos parlamentares aprovaram por unanimidade a convocação de Vítor Constâncio para uma nova audição, depois de ter estado no parlamento no dia 28 de março.
Os deputados aprovaram também o regresso de Pedro Duarte Neves, ex-vice-governador responsável pelo pelouro da supervisão.