BES: «O meu nome é tóxico. Muita culpa é nossa» - TVI

BES: «O meu nome é tóxico. Muita culpa é nossa»

José Manuel Espírito Santo Silva lamenta que filhos e netos tenham de passar por esta situação pós-colapso do BES. «É muito duro, muito duro». Ex-administrador do Grupo Espírito Santo entende que o desfecho podia ter sido diferente. Banco de Portugal «não deu tempo», mas também não acredita que o supervisor quisesse «acabar» com o banco que deixou um «legado ao país»

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José Manuel Espírito Santo Silva (JMESS), ex-administrador do Grupo Espírito Santo, dos mais velhos na hierarquia, lamentou esta terça-feira, na comissão de inquérito ao BES, que o nome da sua família seja tido «como um produto tóxico» hoje em dia, mas admitiu que «muita culpa deve ser imputada a nós». Isto na sequência do colapso do Banco Espírito Santo e do grupo, que resultou num «sacrifício» para muitos, incluindo-o a si e aos seus:

«O sacrifício dos clientes, dos colaboradores e do meu nome que hoje em dia é tido como um produto tóxico. Isso para mim é muito duro»


O ex-administrador do GES referiu que ele pertence à terceira geração da família Espírito Santo. «Os meus filhos são a quarta. E os meus netos a quinta. Terem de conviver com um nome que é considerado tóxico, para mim é muito duro, muito duro», continuou, depois de ter chamado aos netos, em tom carinhoso, os «dividendos» que adquiriu na sua vida de banqueiro. 

«Temos de carregar a carga. Sou católico e acredito que Deus Nosso Senhor nos dá o peso que temos de carregar. É esse muro que vejo todos os dias quando acordo». No entanto, quis salientar, «isso são problemas pessoais».

José Manuel Espírito Santo Silva foi, de resto, o primeiro inquirido nesta comissão a fazer um mea culpa, dirigindo as suas primeiras palavras para os clientes, colaboradores e investidores do Banco Espírito Santo. Disse que não foge a essa responsabilidade. «De quem é a culpa?», questionou Teresa Anjinho (CDS-PP):

«Muita deve ser imputada a nós»


Ainda assim, frisou também, os reguladores «não deram tempo» para resolver o problema de outra maneira. No seu entender, O BES podia não ter «afundado». «Seria possível resolver a situação no grupo» com o programa de reestruturação do GES, que incluía o aumento de capital da Rio Forte. «Tínhamos investidores institucionais e particulares que estavam interessados em entrar como sócios no capital do grupo». «E além disso havia também um programa de venda de ativos. Tem-se visto, agora, que a venda de ativos poderia resolver uma parte importante da situação», indicou.

«O que faltou, a meu ver, foi tempo, porque o programa que era idealizado pelo Dr. Ricardo e a sua equipa e tendo também o apoio da equipa do BESI, podia ser um programa que poderia ser realizado, mas não tivemos tempo»

Alegou que as diretrizes do Banco de Portugal eram «muito apertadas e muito difíceis». «Os próprios técnicos viam-se aflitos para responder nos períodos exigidos pelo governador». De qualquer modo, admitiu:

«Não vejo o Banco de Portugal de repente a querer acabar com uma marca como esta. Já em 1975, não autorizou»


Recusou, logo a seguir, fazer «um processo de intenções» sobre esse assunto. Respondia a Miguel Tiago (PCP), que classificou a estratégia usada pelos membros da família Espírito Santo já ouvidos e administradores como Morais Pires de que «o BES foi forçado a desaparecer». 

Na última ronda de perguntas e respostas, clarificou que a resolução que dividiu o BES em banco bom e banco mau, não seria a sua «solução» e confessou, até, que a encarou  com «inteira estupefacção».

«Nunca teria tomado esta decisão, mas pronto, manda quem pode e obedece quem deve»


«Nunca encomendámos nada ao Governo»

O ex-administrador do Grupo Espírito Santo ainda disse aos deputados que a recapitalização pública «nunca foi pensada» pelos administradores do GES, até porque a família já tinha vivido «o trauma da nacionalização» de 1975, depois do 25 de Abril.  

Sobre a expressão que ele próprio utilizou, numa reunião, sobre «pôr o Moedas a funcionar» (referindo-se ao na altura secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro, Carlos Moedas) respondeu, assertivo; «Nunca encomendámos nada ao Governo, nem era nossa intenção encomendar o que quer que seja». 

Defendeu que é «absolutamente normal» informar o Governo sobre o estado de saúde do banco e que era «o dever» dos administradores dada a importância da instituição e o «legado» que deixou ao país. JMESS admitiu, ainda, que o GES conversou também com o ex-presidente da Comissão Europeia. «Falar com o dr. Durão Barroso ou o engenheiro Moedas não é uma conversa inútil. Ouvir os seus conselhos é bom. Mas podem não ter resultado para este fim», isto é, a ajuda estatal. De ambos, recebeu a recomendação de que se tentasse salvar o Grupo «por todos os meios».

Depois de todas as revelações,  muitas que o têm «surpreendido», certezas, agora, tem só uma - a falta dela delas: «Ainda não tenho uma explicação plausível para este colapso absolutamente incrível». Mesmo em relação ao conflito evidente entre os primos Ricardo Salgado e José Maria Ricciardi (que ainda preside ao BES Investimento), preferiu deixar de lado puxões de orelhas:

«Eu não vou fazer aqui de árbitro. Respeito os dois (...). Sobre a verdade, caberá à comissão parlamentar de inquérito e a outras autoridades ver isso. Sempre acreditei nos dois e espero não ter razão para desilusões nesse campo. Isso para mim seria muito mau»

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