Portugal regressou hoje ao mercado, com dois leilões de Bilhetes do Tesouro. Conseguiu o objetivo máximo e arrecadou mil milhões de euros no conjunto das duas maturidades, a três e 11 meses, anunciou a Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública - IGCP.
Na maturidade a três meses foram colocados 245 milhões com um juro de 0,075% face aos 0,004% da emissão anterior comparável. A procura superou a oferta em 2,61 vezes face às 2,6 vezes do leilão antecessor.
No que toca à maturidade de 11 meses, foram colocados 755 milhões de euros e o juro pago foi de 0,146% contra os 0,043% anteriores. Também aqui a procura superou a oferta em 1,61 vezes, quando anteriormente tinha superador em 1,5 vezes.
Contas feitas os juros subiram nas duas maturidades.
De acordo a análise de Filipe Silva, diretor da Gestão de Ativos do Banco Carregosa.
Esta subida de taxas reflete a distinção que está a ser feita entre os chamados “safe heavens”, que é a dívida teoricamente “sem risco” – como a dívida alemã e dos países nórdicos – e os países periféricos, como Portugal, Itália, Grécia e Espanha, cujas taxas não têm descido e a diferença de taxas (o spread) face a esses países têm vindo a alargar. Acreditamos que esta distinção pode estar relacionada com o Brexit e os efeitos que terá uma saída do reino Unido da UE".
Mas não é só a conjuntura internacional que coloca pressões sobre os juros da dívida.
No caso específico de Portugal, a capitalização da CGD e a fragilidade da banca, como o comportamento do BCP em bolsa, podem estar a aumentar a perceção de risco do nosso país", acrescenta o diretor da Gestão de Ativos do Banco Carregosa.
Filipe Silva deixa, no entanto, a ressalva "esta subida não é muito acentuada e as taxas de endividamento português continuam historicamente baixas".
Além disso, " dívida portuguesa continua a ser uma alternativa para os investidores que procuram algum retorno, uma vez que nos países com menos risco as taxas de curto prazo estão negativas, daí a boa procura para a dívida portuguesa”, conclui.
Os leilões realizam-se quase uma semana depois de Portugal ter colocado 600 milhões de euros em Obrigações de Tesouro (OT) a cinco anos e 400 milhões de euros em OT a nove anos.