Como as comissões rendem milhões e milhões aos bancos - TVI

Como as comissões rendem milhões e milhões aos bancos

  • 28 jan 2019, 00:19
Crédito

Entidades bancárias lucraram 132,1 milhões em 2017 com cartões de débito, pré-pagos e de crédito, sobretudo devido às comissões cobradas. Também há dados sobre os encargos do lado dos comerciantes

Os bancos lucraram 132,1 milhões de euros, em 2017, com a disponibilização de meios de pagamento como cartões de débito, pré-pagos e de crédito, sobretudo devido às comissões cobradas, que rendem - e muito, como se vê pelo estudo que o Banco de Portugal dá a conhecer esta segunda-feira.

Intitulado Custos Sociais dos Instrumentos de Pagamento de Retalho em Portugal, o trabalho avalia os custos suportados em 2017 pelo sistema bancário, comerciantes e consumidores na disponibilização de instrumentos de pagamento de retalho (numerário, cheques, cartões de crédito, débito, débitos diretos e transferências a crédito). “Pela primeira vez” desde a realização do estudo, os bancos tiveram mais proveitos do que custos nesta área.

“Na perspetiva privada do sistema bancário, os custos com a disponibilização dos instrumentos de pagamento de retalho em 2017 totalizaram 793,3 milhões de euros (0,44% do Produto Interno Bruto (PIB)) e os proveitos 925,4 milhões de euros (0,5% do mesmo indicador). Verificou-se assim, pela primeira vez desde a realização deste estudo, que a subsidiação cruzada entre instrumentos de pagamento foi suficiente para gerar uma situação global positiva, de 132,1 milhões de euros, que corresponde a uma taxa de cobertura de 116,7%”, cita a Lusa.

Para esta evolução foi determinante a inclusão das comissões cobradas através dos pacotes de gestão e manutenção de contas [265,5 milhões de euros], opção que reflete a prática generalizada do sistema bancário em 2017 e constitui uma importante alteração metodológica relativamente ao estudo de 2013”.

Os cartões de débito, pré-pagos e de crédito e as transferências a crédito foram os instrumentos que contribuíram para esta situação, com os respetivos proveitos a superarem os custos em 230%, 110%, 170% e 114%, respetivamente.

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Já para o numerário, cheques e débitos diretos, verificou-se o inverso, com taxas de cobertura de 29%, 83% e 62%, respetivamente.

O sistema bancário tem vindo a melhorar a sua eficiência com a disponibilização dos instrumentos de pagamento de retalho, registando, entre 2013 e 2017, uma redução de 10% no valor dos custos totais e no custo por cliente bancário, que diminuiu para 98 euros (menos 11 euros do que em 2013)”.

O numerário continua a ser “o instrumento com maiores custos para os bancos, consumindo 32% do custo total (255,2 milhões de euros)”, seguindo-se os cartões de pagamento, que representaram 43% (334,7 milhões de euros), e os cheques, com um peso de 13% (105,3 milhões de euros).

Os instrumentos menos dispendiosos para o sistema bancário foram as transferências a crédito, responsáveis por 7% (55,8 milhões de euros) dos custos, e os débitos diretos, com um peso de 5% (42,2 milhões de euros).

Em termos unitários, o numerário foi o instrumento mais custo-eficiente (oito cêntimos), “consequência do elevado número de pagamentos efetuados com recurso a notas e moedas”, sendo as transferências a crédito o segundo instrumento com menos custos (16 cêntimos), seguidas pelo cartão de débito (19 cêntimos) e pelos débitos diretos (24 cêntimos).

Dos 925,4 milhões de euros de proveitos obtidos pela banca com os instrumentos de pagamento, cerca de metade teve origem na utilização dos cartões de pagamento (474,1 milhões de euros) e refere-se à cobrança de comissões aos titulares de cartões e à aplicação do preçário aos comerciantes.

Já as transferências a crédito representaram 25% dos proveitos bancários (227 milhões de euros), fruto das comissões cobradas aos clientes pela sua emissão, o que representa um acréscimo de 46% entre 2013 e 2017, “especialmente com origem no aumento generalizado do preço das transferências efetuadas ‘online’”.

Os instrumentos de pagamento que geraram menos proveitos para o sistema bancário em 2017 foram o cheque (87,4 milhões de euros ou 9%), o numerário (73,2 milhões de euros ou 8%) e os débitos diretos (63,8 milhões de euros ou 7%).

Encargos do lado dos comerciantes

Já os comerciantes tiveram encargos de 1.206,4 milhões de euros com meios de pagamento no mesmo ano. Desses, 58% ligados à aceitação de numerário (702,8 milhões de euros) e 36,8% a cartões de pagamento (443,5 milhões).

Já os débitos diretos, os cheques e as transferências a crédito (totalizando 60 milhões de euros) contribuíram para 3,4%, 1,0% e 0,6% dos custos privados dos comerciantes, respetivamente.

"Um dos elementos de custo mais relevante” para os comerciantes na aceitação dos diferentes instrumentos de pagamento são, lá está, as comissões pagas ao sistema bancário e às empresas de transporte de valores, que representaram 25,3% do custo total que assumiram.

A este nível destacam-se os custos relacionados com os cartões de pagamento, dadas as comissões associadas aos cartões de crédito (82,2%) e de débito (52,7%).

Apesar de o numerário ser o instrumento que implica maiores custos para os comerciantes, é o que apresenta um custo unitário mais reduzido (21 cêntimos por pagamento), dada a sua utilização num elevado número de transações”.

Cartões de débito, de crédito e pré-pagos

Já na perspetiva privada dos consumidores, o banco central apurou um custo de 789 milhões de euros com a utilização dos instrumentos de pagamento em Portugal (0,41% do PIB), dos quais 93% associados aos instrumentos geralmente utilizados nos pontos de venda (numerário, cheques e cartões de pagamento).

Aqui sobressaem os cartões de débito, de crédito e pré-pagos, cujo valor global ascendeu a 478 milhões de euros, enquanto os custos com numerário totalizaram 212 milhões de euros.

As comissões de 604 milhões de euros pagas aos bancos foram os principais encargos assumidos pelos consumidores (77% do total), sendo estes custos “preponderantes em quase todos os instrumentos de pagamento, representando a totalidade dos custos associados aos débitos diretos”.

Para os consumidores, o numerário e os débitos diretos foram os instrumentos com menor custo unitário (seis cêntimos por pagamento), seguindo-se, como “opções mais económicas”, os cartões pré-pagos (22 cêntimos), os cartões de débito (30 cêntimos) e as transferências a crédito (54 cêntimos).

Já os cartões de crédito e os cheques foram os instrumentos com maior custo unitário por transação (2,56 euros e 3,42 euros, respetivamente).

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