Arménio Carlos, secretário-geral da CGTP, presente na manifestação que teve início junto à sede da CP, em Lisboa, e que terminou na Praça Luís de Camões, próximo do Ministério da Economia, afirmou aos jornalistas que a ação de luta visa “travar a ofensiva da comissão liquidatária, que é quem, neste momento, representa o Governo no processo de privatização”.
“Se os membros do Governo fossem responsabilizados pessoalmente pela destruição que estão a fazer do património público, provavelmente pensariam duas vezes antes de concretizá-la”, advertiu.
Em causa, segundo o líder da CGTP está, neste momento, “a tentativa de destruição de duas empresas [CP Carga e EMEF] que são estratégicas para o desenvolvimento país”.
A importância da CP Carga, pode ser aferida de acordo com Arménio Carlos, pela “relação direta” que tem com o transporte de mercadorias de todo o género.
Já, no caso da EMEF, trata-se atualmente, segundo o secretário-geral da CGTP, de “uma empresa de manutenção de material ferroviário”.
Contudo, a EMEF “deveria ser transformada, através de um investimento, para ser preparada com vista à construção de material ferroviário e circulante”.
“Em Portugal, neste momento, depois do desaparecimento da Sorefame/Bombardier deixámos de ter uma empresa de construção de material ferroviário. Qualquer dia, mais cedo que tarde, vamos ter de fazer a renovação da frota ferroviária, quer da CP, quer dos metros de Lisboa e do Porto”, advertiu.
“Isso será tanto mais importante a partir do momento em que possa ser feito por uma empresa portuguesa”, advertiu, lembrando ainda que a EMEF “é uma empresa pública e está em condições com ‘know how’ e investimento para partir para esta nova fase”.
Para a CGTP “não está [em causa] só a criação de riqueza. A EMEF é também um elemento importante para a criação de emprego, para o desenvolvimento do país e para a redução das importações e aumento das exportações”.
Se o fosse considerada a proposta da CGTP para “pararem com a privatização da CP Carga e darem um outro enfase à importância da EMEF”, as outras empresas, nomeadamente micro e pequenas empresas que trabalham na área do fornecimento de serviços ao setor ferroviário “iriam melhorar e ter mais trabalho”, explicou o líder sindical à Lusa.
“É disto que estamos a falar. É do presente e do futuro do país. Mas o Governo está a fazer o inverso”, advertiu.
Privatização até final de julho
A poucos meses das eleições legislativas o Governo “está a desbaratar tudo aquilo que é património público para o entregar de mão beijada, com uma receita praticamente inexistente, à iniciativa privada”, sublinhou.
Neste sentido, Arménio Carlos considerou que “o Governo constitui-se, desde já como uma comissão liquidatária daquilo que é o património público e provavelmente se fosse responsabilizado pessoalmente por aquilo que está a fazer provavelmente teria a ousadia de ir tão longe como está a fazê-lo”, concluiu.
Os trabalhadores da CP Carga estão esta quinta em greve contra a privatização da empresa, no mesmo dia em que os ferroviários se manifestaram junto à sede da CP, em Lisboa e rumaram ao Largo do Camões onde uma delegação entregou uma resolução no Ministério da Economia.
De acordo com fonte da empresa, durante a manhã foram realizados 49% dos comboios de mercadorias previstos.
Segundo o coordenador da Federação dos Sindicatos dos Transportes (Fectrans), José Manuel Oliveira, "durante a manhã apenas circularam meia dúzia de comboios de mercadorias, que asseguraram o transporte de mercadorias perigosas, como os combustíveis".
O governo quer concretizar o processo de privatização das duas empresas até ao final do mês de julho.
Governo aguarda proposta melhorada da Alstom para compra da EMEF
O grupo francês Alstom tem até à próxima segunda-feira para apresentar uma proposta melhorada à compra da EMEF - Empresa de Manutenção de Equipamento Ferroviário, que deve ser decidida na quinta-feira juntamente com a CP Carga.
“É nossa intenção trabalhar no sentido de poder submeter a Conselho de Ministros na próxima semana uma decisão sobre as duas privatizações”, afirmou o secretário de Estado dos Transportes, Sérgio Monteiro, em conferência de imprensa, no final da reunião do executivo.
O governante admitiu que a queixa da Bombardier junto da Comissão Europeia, alegando que a EMEF recebeu ajudas estatais de 90 milhões de euros, “não facilita o processo [de privatização]”, realçando que a empresa precisa de injeção de capital de investidores privados para se poder modernizar.
“O objetivo não é o encaixe financeiro em si, embora seja importante, mas não é determinante. Mantemos o empenho em conseguir que [a privatização] tenha sucesso, mas temos que aguardar pelo dia 20 para apresentação da proposta melhorada por parte da Alstom”.
O Governo aprovou na passada quinta-feira a passagem à fase de negociações da proposta do grupo francês Alstom no processo de privatização da EMEF, deixando pelo caminho a proposta da alemã Bavaria.