Banif: ministro não deseja a ninguém "vender um banco num dia" - TVI

Banif: ministro não deseja a ninguém "vender um banco num dia"

Mário Centeno

Ministro das Finanças falou aos deputados, na comissão parlamentar, sobre as reuniões que permitiram a "passagem do cenário de venda livre para o de venda em contexto de resolução" do Banif

O Santander Totta esteve numa reunião em Lisboa a 18 de dezembro passado, onde se deu a "passagem do cenário de venda livre para o de venda em contexto de resolução" do Banif, disse o ministro das Finanças na comissão parlamentar desta quinta-feira.

"Sente-se confortável por ter participado num processo que é verdadeiramente uma farsa?", questionou o deputado do CDS-PP João Almeida, numa troca de palavras acesa com o ministro das Finanças, Mário Centeno, na comissão parlamentar de inquérito sobre o Banif.

Na resposta, o governante foi curto: "A reação que me suscita é a seguinte: não desejo a ninguém vender um banco num dia".

A discussão prendia-se com uma reunião tida a 18 de dezembro, dois dias antes de anunciada a venda em resolução do Banif ao Santander Totta - nessa sexta-feira à noite houve uma reunião no Banco de Portugal [BdP] onde esteve o banco central, o Governo e, via telefone, as autoridades europeias ligadas ao negócio, nomeadamente a DG Comp [Direção-Geral da Concorrência da Comissão Europeia].

O Banco Popular, a outra entidade convidada a passar à fase seguinte do negócio, só se viria a reunir com o executivo e o BdP no dia seguinte, sábado, pela manhã.

"A conclusão era de que o Banco Popular não ia continuar no processo e formalizar uma oferta pelo Banif", sinalizou o deputado João Almeida, que perguntou depois a Mário Centeno sobre quanto tempo demorou o Ministério das Finanças a responder a um email da Comissão Europeia nessa tarde.

"Demorou vergonhosos quatro minutos a ceder" a Bruxelas, acusou João Almeida, que advogou que, num primeiro momento, o Governo - pelo secretário de Estado do Tesouro e Finanças - queria uma fundamentação mais concreta da Comissão Europeia sobre a venda ao Santander, mas quatro minutos depois acedeu à venda do Banif ao grupo.

O ministro, sobre este ponto, sustentou: "Teria sido muito bom para o Estado e para os contribuintes que a proposta do Banco Popular tivesse sido uma proposta competitiva".

Sábado, 19 de dezembro, pela hora de almoço, já o Governo trabalhava com o Santander, que apresentou a "única proposta em cima da mesa" com viabilidade para o Banif, segundo o governante.

Mário Centeno está a ser ouvido pelos deputados desde as 17:50 e a sua audição irá prolongar-se noite dentro.

A ex-ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, já tinha revelado, quarta-feira, no parlamento que teve uma reunião com o presidente do Banco Santander Totta, no verão de 2015, na qual este lhe mostrou interesse na compra da "parte boa" do Banif.

António Varela, ex-administrador do Banif, também confirmou que o Santander Totta tinha demonstrado interesse em comprar o Banif em junho, mas só queria a “parte boa” do banco. Acabou por não avançar. Mas em dezembro, com a resolução do Banif, o Santander acabou mesmo por comprar apenas os ativos e passivos que desejava desde o verão de 2015.

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