Em expectável queda livre, as bolsas europeias tremem num pânico evidente numa primeira reação ao Brexit como resultado do referendo britânico. É um balde de água fria para os investidores, uma vez que durante a semana estavam otimistas quanto a um resultado contrário, de permanência do Reino Unido na União Europeia. A praça de Lisboa caiu para o valor mais baixo em 20 anos.
As praças europeias logo despertaram no vermelho a acusar fortíssimas desvalorizações: Londres derrapou 7,5%, Madrid mais de 16%, Frankfurt 7,8%, Paris quase 8%, Amsterdão 6,5%, Milão um pouco menos de 2%.
Nem com a troika PSI20 caiu tanto
Lisboa arrancou a perder 8% e rapidamente foi aprofundando as perdas, acima de 10%. O PSI20 chegou mesmo a atingir o valor mais baixo em 20 anos, nos 4.175 pontos, o que não se via desde 1996.
Nem no passado recente, com o pedido de ajuda externa português e a chega da troika, aconteceu um recuo para valores tão baixos, o que permite perceber o choque que o Brexit está a provocar à escala europeia.
Todas as cotadas da praça lisboeta estão no vermelho, com recuos entre 3,8% e 20%. Destaque para o BCP, que iniciou a perder 20%, alcançando um novo mínimo histórico nos 0,0151 euros. O BPI cai 6,3% para 1,06 euros.
Também a Sonae afunda mais de 15,5% para 0,70 euros. A EDP 14,7% para 2,522 euros. A Galp Energia perde 6% para 11,66 euros. A REN desloza 9% para 2,42 euros.
A Jerónimo Martins acusa um recuo de 8,5% para 13,07 e a Mota Engil desce 11,2% para 1,5 euros.
Os juros da dívida portuguesa a 10 anos também dispararam e causaram efeito dominó no PSI20.
As primeira reações dos mercados aconteceram nos câmbios, com a libra a atingir o valor mais baixo em 30 anos, com uma desvalorização em percentagem nunca vista até hoje.
Depois, no Oriente, as bolsas asiáticas eram as únicas que estavam a funcionar quando se soube que 51,9% dos britânicos votaram a favor da saída da UE. As praças de Tóquio e de Hong Kong derraparam à volta de 8%.
Analistas temem o pior
Os analistas temem o pior. Responsáveis do European Policy Center, um dos mais conceituados grupos de reflexão (think tank) sobre assuntos europeus em Bruxelas, advertem para a “perturbação” que o resultado do referendo no Reino Unido vai provocar na União Europeia, a diversos níveis. Falam em incerteza, confusão e da questão de fundo de a Europa estar "enfraquecida globalmente".
Para Fabian Zuleeg, diretor-executivo e economista-chefe do European Policy Center (EPC), e Janis Emmanoulidis, diretor de estudos do think tank, levantam-se "muitas questões práticas mas difíceis para resolver”.
“O que é que vai acontecer ao orçamento da UE? Que papel vai desempenhar o Reino Unido na UE durante o período de negociação (da saída)? Até que ponto será o Reino Unido capaz de influenciar a agenda da UE internamente, incluindo, por exemplo, as negociações com os Estados Unidos sobre o Acordo de Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (TTIP)?”
Como as negociações que agora decorrerão entre Reino Unido e UE sobre a saída – e o novo quadro de relações entre as partes -, devem provavelmente ocupar a agenda europeia “nos próximos meses e anos”, Zuleeg e Emmanoulidis receiam que, desta forma, “seja ainda menos provável que a UE leve a cabo as reformas necessárias para lidar com os desafios e crises” com que se confronta.
“Isto será agravado pelas pressões populistas nos principais partidos políticos. Em todo o lado, os populistas – especialistas os nacionalistas de direita – tentarão explorar o Brexit, argumentando que os seus países deveriam fazer o mesmo”
Os analistas do EPC consideram ainda que é pouco provável que a saída do Reino Unido, Estado-membro conhecido por ser constantemente um “travão” a muitas reformas na UE, permita à União ganhar um novo fôlego, sobretudo se a atitude dos líderes políticos não mudar, antevendo antes uma UE a continuar a perder terreno na cena mundial.
“Embora seja improvável que a UE se desintegre por causa do Brexit, o mesmo também não augura um novo começo para o processo de integração europeia. A UE pode prevenir um efeito de dominó se a ‘saída’ realmente significar ‘saída’, com todas as consequências negativas que tal acarreta, mas não é provável que tal leve a um novo ‘momentum’ nas reformas da UE”, concluem, citados pela Lusa.