Covid-19: FMI prepara alargamento da moratória sobre dívida até 2021 - TVI

Covid-19: FMI prepara alargamento da moratória sobre dívida até 2021

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  • 20 mai 2020, 18:42
Sede do FMI

Fundo Monetário Internacional recebeu pedidos de ajuda de 25 países

O diretor do departamento africano do Fundo Monetário Internacional (FMI), Abebe Selassie, disse esta quinta-feira que o Fundo está a preparar uma extensão da moratória sobre os pagamentos da dívida, alargando-a até ao próximo ano.

Houve 25 países que já pediram ajuda [ao FMI], e vamos estender a moratória até ao próximo ano, para terem margem para gastar na saúde e na proteção social", disse Selassie durante um 'webinar' organizado pela Chatham House.

"Quando dissemos para fazerem o que for preciso, é porque senão não haverá economia depois da pandemia", salientou o responsável, reconhecendo que "uma das consequências da pandemia de Covid-19 é que a dívida pública vai aumentar muito, e vamos ver muitos países a reestruturarem a dívida, não apenas na África Subsaariana, mas em todo o mundo".

O FMI, disse, adotou uma visão mais flexível relativamente à sustentabilidade da dívida, mas mantém a ideia de que não é possível emprestar dinheiro a países que não tenham condições para pagar.

Precisamos de ter um caminho para a sustentabilidade da dívida antes de emprestar, porque se a dívida for insustentável e se o FMI emprestar dinheiro, esse dinheiro vai servir para pagar a dívida aos credores e não servirá para ajudar verdadeiramente os países, por isso temos de garantir que o dinheiro que emprestamos serve para ajudar os países e não para pagar aos credores", argumentou Selassie.

Ainda assim, o responsável reconheceu que o paradigma mudou: "A sustentabilidade da dívida é um tema de longo prazo e só pode ser aferida nesse contexto. Estamos numa era de máxima incerteza para a economia, e vamos olhar para os países, ver os níveis de financiamento que precisam, se é consistente com uma perspetiva de evolução favorável e veremos se os desafios da dívida podem ser tratados ou não", explicou.

Estamos a tentar não tomar decisões baseadas só na trajetória da dívida, porque os mercados estão deslocados e cheios de incertezas, vamos ver como a situação evolui", concluiu.

Os credores privados que representam mais de 9 biliões de ativos, sob a chancela do Instituto Financeiro Internacional (IFI), criaram um grupo para a renegociação da dívida dos países em desenvolvimento, um grupo que inclui todos os países africanos de língua oficial portuguesa.

Na semana passada, 25 credores da dívida africana, representando ativos de 8,3 biliões de euros, criaram o Grupo de Trabalho dos Credores Privados de África (AfricaPCWG) com o objetivo de definir uma solução para a dificuldade em honrar os compromissos financeiros e, ao mesmo tempo, canalizar despesa pública para combater os efeitos económicos e de saúde da covid-19.

A Comissão Económica das Nações Unidas para África (UNECA) está a ter reuniões com os ministros das Finanças africanos, na sequência da discussão pública que tem existido nos mercados financeiros africanos sobre como os governos podem honrar os compromissos e, ao mesmo tempo, investir na despesa necessária para conter a pandemia da covid-19.

A assunção do problema da dívida como uma questão central para os governos africanos ficou bem espelhada na preocupação que o FMI e o Banco Mundial dedicaram a esta questão durante os Encontros Anuais, que decorreram em abril em Washington, nas quais disponibilizaram fundos e acordaram uma moratória no pagamento das dívidas dos países mais vulneráveis a estas instituições.

A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 323 mil mortos e infetou quase 4,9 milhões de pessoas em 196 países e territórios.

Mais de 1,8 milhões de doentes foram considerados curados.

Em África, há 2.919 mortos confirmados, com mais de 91 mil infetados em 54 países, segundo as estatísticas mais recentes sobre a pandemia naquele continente.

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