Afinal o que aconteceu à banca islandesa? - TVI

Afinal o que aconteceu à banca islandesa?

Islândia

Membro do banco central da Islândia explica o que aconteceu no seu país

O membro do Banco Central da Islândia, Gylfi Zoega, diz que o falido sistema financeiro islandês foi usado pelos seus donos e amigos para ganhos próprios e que apoiá-lo simplesmente não era uma opção para o Estado.

Citado pela Lusa, um dos economistas entrevistados no documentário «Inside Job», (que explica algumas causas que levaram à crise financeira mundial), Gylfi Zoega esteve em Portugal, para participar nas Conferências do Estoril, e explicou à Agência Lusa as principais razões que levaram ao colapso dos bancos islandeses em 2008 e consequentemente a uma grave crise económica.

«No caso da Islândia, os seus bancos entraram em colapso, entraram em incumprimento nas dívidas que tinham com o exterior, e os investidores estrangeiros destes bancos perderam muito dinheiro, cerca de 64 mil milhões de dólares. A falência destes bancos neste pequeno país corresponderia à terceira maior falência nos Estados Unidos. Não se pode dizer que não foi uma táctica inteligente do Governo não apoiar os bancos. Simplesmente, não era uma opção», afirmou.

O problema começou na viragem do século, quando o Estado decidiu promover a criação de um centro financeiro, à semelhança de Londres com taxas de juro reduzidas, falta de regulação e supervisão.

«Depois temos uma mistura explosiva de banca de investimento com banca comercial, onde os bancos comerciais estavam a ser usados para pedir dinheiro emprestado noutros países, com a garantia implícita do Estado, para financiar projectos de investimento dos donos destes bancos e dos seus amigos», diz.

Banca islandesa era muito maior que a economia do próprio país

Os volumes de dinheiro emprestado levaram a que os três maiores bancos (Glitnir, Kaupthing e Landsbanki) tivessem uma dívida combinada seis vezes superior ao Produto Interno Bruto (PIB) da Islândia.

«Usaram a banca comercial de um pequeno país como veículo para ter fundos de bancos estrangeiros que investiram em empresas estrangeiras, porque não conseguiam pedir directamente a um banco alemão. Mas o banco alemão estava disposto a emprestar à banca comercial de um país como a Islândia porque tinha uma garantia estatal implícita, não tinha dívida, nem historial de incumprimento», explicou.

Assim se criou, diz Gylfi Zoega, uma «tempestade perfeita». O sistema financeiro foi à falência, tal como uma massa de empresas e famílias, a que se juntou uma crise cambial, aumento da inflação e desemprego.

A polémica do Icesave

Surge a polémica questão, que leva a Finlândia às primeiras páginas dos jornais mundiais pelos piores motivos, o Icesave. Esta filial do falido Landsbanki agregava depósitos substanciais no Reino Unido e na Holanda.

Depois de um rápido acordo (e de o Reino Unido ter congelado os activos islandeses ao abrigo de uma lei anti-terrorismo), a Islândia aceitou a titularidade de um empréstimo do Reino Unido e Holanda para pagar aos depositantes destes países, mas o Presidente recusou assinar a lei, levando a dois referendos chumbados.

«O Governo chegou a acordo, que foi aprovado pelo parlamento com 70% dos votos e o nosso presidente, apenas pela terceira vez na história, recusou assinar a lei, e de acordo com a Constituição, teve de ir a referendo. Houve um duro debate pelo país, foi enorme fonte de discórdia», explica.

A questão seguiu para tribunal, onde se espera uma resolução.

Zoega vê o futuro do seu país ainda algo nublado, principalmente porque a reestruturação do sector privado está «a demorar muito tempo» e porque este processo irá deixar a Islândia com um fraco crescimento económico nos próximos anos. Mais importante, diz, o seu país devia ter tomado conta dos seus próprios bancos.

«Um país como o meu devia tomar conta dos seus próprios bancos, deveria olhar para estas filiais estrangeiras e dizer existe demasiado dinheiro acumulado nestas filiais, e existe demasiada dívida, para não termos este problema», conclui.
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