Agências de rating: como e quando nasceram? - TVI

Agências de rating: como e quando nasceram?

Moody`s - EPA/ANDREW GOMBERT

Hoje são odiadas por quase todos e têm o poder de levar uma empresa, um banco ou até mesmo um país à bancarrota

Hoje poucos desconhecem as agências de rating, o que são e o que fazem. Mas muitos desconhecem as suas origens. Porque nasceram e para que efeitos?



Fitch, Moody's e Standard & Poor's (S&P) nasceram na sequência de uma crise que teve muito em comum com a crise financeira de 2007-2008: ambas (esta e a de 1873) começaram num mau mês de Setembro, com origem em activos de pouca qualidade e provocaram a queda de um grande banco.

Na crise de 1873, a venda de obrigações para promover caminhos-de-ferro levou à falência do Jay Cook & Company. Qualquer semelhança com o subprime e a queda do Lehman Brothers, é pura realidade.

A grande diferença é que, na primeira crise, não existiam agências de rating. John Moody tinha cinco anos, Henry William Poor andava nos 20 e John Fitch e Luther Lee Blake (fundador da Estandard Stadistics) nasceriam nessa década. Em comum, tiveram vidas marcadas pelas consequências da primeira grande crise capitalista na era da Revolução Industrial.

Em Setembro de 1873, os grandes projectos ferroviários dos EUA eram considerados a melhor oportunidade de investimento a nível global. O Jay Cook & Company, com sede na Filadelfia, lançou uma subscrição de obrigações da Northern Pacific Railway, promotor da segunda grande linha transcontinental do país, no valor de 100 milhões de dólares. Mas as dívidas que o negócio começara a gerar, aliadas à política monetária restritiva do presidente Grant, e à guerra Franco-Prussiana, complicaram a emissão. O Jay Cook foi obrigado a comprar 75% das obrigações. Em poucos dias, foi à bancarrota.

Os investidores fugiram de Wall Street como o diabo da cruz, a bolsa fechou dez dias pela primeira vez na história, e 5 mil empresas terão falido naquela grande depressão.

A crise mostrou a necessidade de criar agências capazes de medir o risco dos investimentos. Foi o contexto perfeito para o aparecimento de agências que dessem aos investidores uma indicação sobre a capacidade dos emissores de obrigações, de cumprir os termos do contrato. E não foi por acaso que surgiram nos EUA e não na Europa.

Primeiro porque as empresas europeias se financiavam com recurso a empréstimos bancários e capital próprio, e não com obrigações. Mas nos EUA, a economia tem proporções continentais, o que leva a projectos de desenvolvimento em grande escala e à necessidade de investimentos de maior envergadura.

Segundo, porque a necessidade de fundos nos EUA durante boa parte do século XIX teve origem, em boa parte, na construção de caminhos-de-ferro, realizada por empresas privadas e não pelo Estado.

Terceiro porque a partir de 1850, estas empresas ganham uma dimensão e negócio demasiado grandes para se financiarem só junto dos bancos e com emissão de acções, o que levou ao aparecimento de um mercado internacional de obrigações dos caminhos-de-ferro.

O primeiro trabalho do género tinha sido publicado em 1868 por Henry Varnum Poor e pelo filho Henry William Poor: o primeiro volume de informação anual das empresas de caminhos-de-ferro. As publicações seguintes, intituladas «Poor¿s Manual», trazem já informações sobre activos, compromissos e receitas das empresas ferroviárias. Em 1919 nasce a Poor's Publishing, para editar o manual «Railroad e Mood». Três anos depois começa a avaliar e classificar as obrigações das empresas.

Seria preciso esperar por John Moody para ver nascer a escala do «AAA». A John Moody & Company começou por estudar os títulos das ferroviárias com a «Moody's Analyses of Railroad Investments».

Luther Lee Blake não deu nome à agência que lançou e aos dias actuais apenas chegou o nome da empresa que fundou em 1906, a Standard Statistics Bureau. É o S da actual S&P. Publica boletins informativos sobre ferroviárias e outras empresas industriais e em 1923 inicia a classificação das obrigações municipais.

Em 1913, John Knowles Fitch funda a Fitch Publishing. Em 1924 começa a atribuir qualificações de risco com a escala que vai de «AAA» a «D».
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