Ambiente vs. indústria? O que quis dizer o ministro - TVI

Ambiente vs. indústria? O que quis dizer o ministro

Álvaro Santos Pereira (Tiago Canhoto/LUSA)

Declarações de Santos Pereira sobre política industrial são «lamentáveis», diz Quercus. Fórum para a Competitividade entende que fazem sentido

Ambiente vs. indústria? Mais indústria, menos ambiente?. O ministro da Economia lançou a polémica na segunda-feira, ao dizer que as apertadas regras ambientais da União Europeia estão a fazer com que as unidades industriais se deslocalizem para fora do espaço comunitário (para países onde as imposições são mais brandas), prejudicando o emprego. Álvaro Santos Pereira pediu até à Europa para não ser «mais papista do que o papa em relação a outras regiões do globo».

Será que o ministro quis passar a política ambiental para segundo plano, em nome da criação de emprego e do investimento? Foi o que interpretou a Quercus, classificando de «lamentável» a mensagem passada pelo governante, de que «o ambiente é um dos grandes culpados pela situação económica», disse à Agência Financeira o presidente da Quercus, Nuno Sequeira.

«Talvez pudesse fazer sentido há 30 ou 40 anos, agora essa análise é completamente lamentável», reforçou, para depois frisar que «a economia não vive sem o ambiente». «Parece-nos que qualquer tentativa de baixar a exigência de critérios ambientais é um erro enorme. Nivelar por baixo não será bom para a Europa. Temos de dar o exemplo».

Para Nuno Sequeira, o ministro fez uma «análise demasiado simplista» e tentou «baralhar a opinião pública». O «pretexto» de as empresas não quererem investir na Europa não justifica, segundo a Quercus, uma alteração de políticas ambientais. «Seria um retrocesso enormíssimo. Seria gravíssimo e lamentável».

Já o presidente do Fórum para a Competitividade, Ferraz da Costa, sai em defesa do ministro: «O que o ministro está é a fazer eco de várias correntes de opinião que defendem que a Europa tem regras demasiado apertadas» sobre esta matéria.

De facto, ainda esta terça-feira cinco ministros da Indústria e da economia da UE, incluindo o próprio Santos Pereira, assinaram uma carta aberta em vários jornais internacionais na qual apelam ao desenho de uma nova e inovadora política industrial europeia.

E Ferraz da Costa concorda: «Estamos a deslocar» algumas áreas, como empresas na área da indústria química, «para a Índia e para a China», países onde «não há regras quase nenhumas, e deixamos de criar cá».

O que está em causa não é seguir o caminho dessas economias, mas suavizar as imposições: «Ninguém defenderá que não haja regras ambientais na Europa». Agora para países que «tenham uma estrutura mais pequena», o que está estipulado, neste momento, constitui «um entrave muito grande».

Dedo apontado à Alemanha, que «praticamente nos últimos 20 anos impôs aos seus parceiros da UE regras ambientais». Por exemplo, «os alemães tiveram problemas com chuvas ácidas. Impingir as mesmas regras a países onde esse problema não existe é um constrangimento excessivo e desnecessário», apontou.

Ambiente vs. Desemprego?

Ferraz da Costa faz notar, em linha com o discurso do ministro, que a Europa «perdeu muitas atividades industriais» e isso «está na origem de taxas de desemprego elevadas» na UE (média de 10,7% em outubro, segundo os dados do Eurostat).



«Não é o ambiente pelo ambiente. O desemprego assustador é uma variável muito importante a ter em consideração». Ainda assim, ressalva, esta é «uma discussão deve ser posta com termos relativos, não absolutos».

As regras da polémica, que estão em vigor na UE, dizem respeito ao ar, comércio de emissões, ruído, substâncias químicas, energia, gestão ambiental, produtos mais ecológicos, resíduos, água e solos e, ainda, auxílio estatal para a proteção ambiental.
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