BPN: reprivatização foi «tardia» - TVI

BPN: reprivatização foi «tardia»

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«Não existiu qualquer estudo de risco sistémico. O banco tinha dois por cento da quota de mercado em 2008», diz Miguel Cadilhe

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O presidente do BPN ao tempo da nacionalização, Miguel Cadilhe, considera «tardia» a reprivatização do banco ao BIC, por 40 milhões de euros, que decorreu este ano.

«Estive contra a nacionalização em 2008, como estive contra a reprivatização tardia em 2012», disse o economista, citado pela Lusa, no Parlamento, em audição na segunda comissão parlamentar ao processo BPN.

Na intervenção inicial, Cadilhe centrou-se na sua intervenção no BPN em 2008, quando foi presidente durante quase cinco meses, tendo feito várias críticas à atuação então do Banco de Portugal, de que Vítor Constâncio era então Governador.

O ex-ministro das Finanças de Cavaco Silva explicou que aceitou ser presidente do BPN/SLN em junho de 2008 só após serem aceites várias exigências que fez aos acionistas e de várias conversas por telefone com Vítor Constâncio que, segundo o responsável, falou de preocupações para com o grupo SLN (em que se incluía o BPN), mas sem aprofundar o tema.

«O governador não disse para não avançar, muito pelo contrário», repetiu por duas vezes Cadilhe na intervenção inicial.

Só após assumir a presidência do banco se levantaram as maiores dúvidas do supervisor bancário. «A única e grande intervenção do BdP no BPN foi propor ao Governo a nacionalização. [Isto numa instituição] onde nunca fez uma grande intervenção, embora tivesse poderes e o dever de o usar».

Cadilhe disse ainda que o plano que a sua administração apresentou para reestruturar o BPN (num misto de capitais públicos e privados) teria sido melhor do que a nacionalização.

Além de considerar que teria sido menos lesivo para os contribuintes, Cadilhe mostrou dúvidas para com o risco sistémico como razão para a nacionalização.

«Não existiu qualquer estudo de risco sistémico. O banco tinha dois por cento da quota de mercado em 2008».

Sobre a proposta de compra do BPN pela Caixa Geral de Depósitos, em 2008, Cadilhe disse que não gostou de receber a carta de Faria de Oliveira (então presidente executivo do banco público) já que era uma proposta mandatada pelo ministro das Finanças (Teixeira dos santos) quando este sabia que a gestão do BPN estava a preparar o plano de reestruturação, assim como também não gostou do baixo preço oferecido.

A contra-proposta dos acionistas da SLN não seria aceite pela CGD e a ideia terminou ali.

O ex-ministro das Finanças de Cavaco Silva disse ainda que a nacionalização do BPN potenciou a «destruição de valor» do banco, com os depósitos de clientes a caírem 62% entre final de 2008 e de 2011 e os resultados anuais negativos do BPN.

Cadilhe reiterou por várias vezes que sabia de alguns dos problemas de que padecia o grupo SLN e o BPN, pelo que fez várias exigências aos acionistas para aceitar a presidência (reestruturação do grupo, aumento de capital, auditoria externa), mas que desconhecia em profundidade os graves problemas que acabou por descobrir e que levou à apresentação de uma queixa-crime em novembro de 2008.

Além disso, o BPN sofreu vários «azares» que tornaram mais débil a situação do banco, como a crise financeira internacional, a antecipação do pagamento de um empréstimo de um sindicato bancário devido à queda do rating do banco e o facto de algumas instituições públicas terem levantado 500 milhões de euros. «Isto somou 718 milhões de euros que em poucas semanas saíram do BPN».
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