Cadilhe: «Teixeira dos Santos e Constâncio enganaram portugueses» - TVI

Cadilhe: «Teixeira dos Santos e Constâncio enganaram portugueses»

Antigo presidente do banco diz que não faz sentido justificarem «a nacionalização do BPN com risco sistémico»

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O ex-ministro das Finanças Teixeira dos Santos e o ex-Governador do BdP Vítor Constâncio «enganaram» os portugueses quando justificaram a nacionalização do BPN com o risco sistémico, considerou esta terça-feira o ex-presidente do banco, Miguel Cadilhe.

«O ministro das Finanças e o Governador enganaram o país a 2 de novembro de 2008 quando, em conferência de imprensa, argumentaram com o risco sistémico», disse, citado pela Lusa, no parlamento o presidente da BPN/SLN ao tempo da nacionalização.

Para Miguel Cadilhe, estes dois responsáveis não podiam ter invocado o argumento de que o BPN poderia provocar o colapso do sistema financeiro português quando o banco tinha uma quota de mercado de apenas dois por cento.

«O risco sistémico é uma das partes mais infelizes do argumentário da nacionalização [do BPN]», sublinhou.

Para Cadilhe, o que as autoridades deveriam ter decidido era a «assistência de liquidez sem limite» de modo a permitir a reestruturação do banco, ao mesmo tempo que se apuravam responsabilidades.

«PGR poderia ter aberto investigação a falhas»

De acordo com responsável, o Banco de Portugal teve uma «falha grave» ao não detetar o que se passou no BPN e que a Procuradoria-Geral da República deveria ter investigado o caso.

«O BdP teve uma falha de tal modo grave e demorada que deveríamos ter apurado responsabilidades institucionais. E depois a instituição devia chamar pessoas singulares à responsabilidade», acrescentou Cadilhe em reposta a questões do deputado comunista Honório Novo.

«Eu não sou jurista, mas penso que a Procuradoria-Geral da República (PGR) tinha poder de averiguar porque é que a instituição falhou tal flagrantemente e com consequências tão sérias para as finanças públicas e para a credibilidade do sistema financeiro», assegurou o ex-ministro das Finanças de Cavaco Silva.

Cadilhe disse que não sabe se o atual Governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, terá ainda possibilidade de apurar essas responsabilidades no seio da instituição que lidera.

«Quando coisas tão graves não têm consequências, há qualquer coisa que não está bem na República em Portugal», assegurou.

Abdul Vakil só comunicou factos pouco antes de sair

Mais: para o ex-ministro Miguel Cadilhe Abdul Vakil só comunicou ao Banco de Portugal factos sobre a situação do Banco Português de Negócios (BPN) pouco antes de ser por si substituído na presidência do banco.

«Quando nós estávamos na onda de acabar com todas as práticas ilícitas e ruinosas, quando estávamos num patamar que nada tinha a ver com o patamar imediatamente anterior à nossa entrada - o dr. Abdul Vakil era membro da administração com o presidente Oliveira e Costa e quando Oliveira Costa saiu ele subiu a presidente -, é só nessa altura, quando nós estamos para chegar, é que o dr. Vakil vai ao Banco de Portugal dizer aquilo que já devia ter sido dito e que a supervisão, se funcionasse bem, teria detetado há muito mais tempo», declarou.

Miguel Cadilhe foi eleito presidente do grupo SLN/BPN em junho de 2008 e logo em outubro do mesmo ano a sua administração denunciou vários crimes financeiros que, alegadamente, teriam ocorrido ao nível da gestão do banco, envolvendo três quadros superiores.

Em novembro daquele ano, o Governo revelou que ia propor ao Parlamento a nacionalização do BPN. Miguel Cadilhe considerou a nacionalização «desproporcionada» e motivada por razões «políticas» e anunciou a sua saída assim que o processo de nacionalização do banco estivesse concluído.
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