Financiamento: países europeus já prescindem da ajuda do BCE - TVI

Financiamento: países europeus já prescindem da ajuda do BCE

Jean-Claude Trichet [Miguel A. Lopes/Lusa]

Estados conseguem colocar dívida em melhores condições

Os países europeus já conseguem colocar dívida em melhores condições. Este avanço em termos de autonomia no financiamento alivia a necessidade de intervenção do Banco Central Europeu. A instituição tem comprado cada vez menos dívida soberana.

O BCE adquiriu 60,5 mil milhões de euros destes títulos, desde o lançamento a 10 de Maio do programa para a compra de dívida soberana (Securities Market Programme). No entanto, o valor tem vindo a decrescer de semana para semana: passou de 16,5 mil milhões de euros na primeira semana para 81 milhões na semana passada.

O próprio presidente do BCE reconheceu na última reunião do conselho que o essencial das aquisições está realizada, De acordo com o economista chefe do Montepio Geral, Rui Serra, contactado pela agência Lusa. E, desde então, «os mercados de dívida pública observaram um estreitamento dos spreads, ou seja, ficam menos disfuncionais, pelo que necessitariam de um menor suporte por parte do BCE».

Rui Serra sublinhouq ue se tem «de facto, assistido a uma melhoria geral das condições nos mercados financeiros nas últimas semanas com subidas das acções, nomeadamente dos bancos; quedas dos spreads da dívida dos países periféricos; dos spreads dos CDS dos bancos e dos prémios de risco do mercado monetário».

Países periféricos: condições ainda «desfavoráveis»

Uma melhoria que tem origem nas «condições menos desfavoráveis de acesso dos bancos aos mercados financeiros». Ainda assim, «as condições permanecem anormalmente desfavoráveis, particularmente nos países periféricos».

O programa para a compra de dívida soberana foi criado no «auge da crise soberana que se seguiu ao plano de financiamento da Grécia». Desde então, tem havido uma «progressiva estabilização dos mercados de dívida soberana, mais visível no último mês», afirmou o economista chefe do Santander Totta, Rui Constantino.

Este processo de normalização continua a decorrer, frisou, mas «é sempre lento». Apesar de a estabilização ser mais visível no mercado da dívida soberana, ainda persistem pressões no mercado interbancário, sobretudo no que toca à emissão de dívida com prazos mais longos.

Paula Carvalho, economista chefe do BPI, considera que esta redução nas compras é um sinal positivo que aponta para essa estabilização e ainda para o desaparecimento «do sentimento de alguma perturbação que havia relativamente à dívida soberana dos países periféricos».

«É normal que o banco central filtre a sua actuação, e compra mais ou menos dependendo do estado do mercado. Acaba por ser um sinal positivo de que os mercados não estão tão perturbados». A própria subida das taxas Euribor reflecte essa normalização.

O banco central realiza operações a cada semana para esterilizar a injecção de dinheiro no mercado, de modo a evitar uma subida da inflação. O BCE oferece aos bancos juros a rondar os 1% em depósitos de uma semana até ao valor total que detém em títulos de dívidas pública.
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