O que ganha a Al Jazeera ao entrar na América?

Para quem tem televisão por cabo em Portugal é fácil perceber que o canal Al Jazeera em inglês oferece uma visão diferente do mundo, mas não aquele tom fanático que nos foi vendido nos anos 90 pelos Estados Unidos. É um canal de notícias tão ou mais interessante do que a CNN ou a Sky News. Pois bem, os americanos não conhecem essa realidade, porque existe uma resistência à transmissão do canal do Qatar. Mas tudo isso vai mudar em breve.

Isto porque, numa movimentação surpreendente, a Al Jazeera comprou o canal Current TV, propriedade do ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore, o que lhe abrirá portas para mais fornecedores de televisão por cabo.

Visto atualmente em 260 milhões de casas em 130 países, o canal de notícias da família real qatari prepara-se para o seu maior desafio, passando a estar disponível em 40 milhões de casas americanas. A Current TV, que assumiu recentemente um estilo de comentário de tendência liberal de esquerda, partilha a vontade de «dar voz a quem normalmente não é ouvido e contar histórias que ninguém está a contar», pelo que a transição será necessariamente pacífica.

As reações já surgiram. Desde logo, o segundo operador de TV americano, a Time Warner Cable, retirou a Current TV da sua lista de canais, presumivelmente porque muitos americanos ainda consideram que a Al Jazeera é um «canal terrorista» pró-islamista com ligações à Al-Qaeda. No entanto, os últimos dados apontam que 40 por cento do tráfego no site da Al Jazeera em inglês é proveniente dos Estados Unidos, pelo que o interesse existe.

Não deixa de ser curioso que Al Gore, grande defensor das energias renováveis, tenha vendido a sua estação de televisão à família real do Qatar, que enriqueceu à custa da venda de petróleo a todo o mundo, sendo o país com a pegada ecológica per capita mais pesada. Uma verdade inconveniente que não deverá incomodar o Prémio Nobel da Paz, agora que vai ficar 100 milhões de dólares mais rico.

A Al Jazeera America deverá ser lançada ainda durante o ano de 2013 e ficará baseada em Nova Iorque, contando com mais de 300 jornalistas. O objetivo é lutar ombro a ombro com a CNN, Sky News e MSNBC.